Sabe realmente o que lhe trouxe o 25 de Abril de 1974?

O 25 de Abril de 1974 ficará para sempre marcado com o dia em que a liberdade dos portugueses face ao regime ditatorial que governava o nosso país na altura, apelidado de Estado Novo. Apesar de correcto, para mim é pouco.

Para além da liberdade que restituiu, permitiu àqueles que sempre viveram na ignorância daquilo que os rodeava saber que havia mais do que a resignação de trabalhar eternamente para os mais ricos para sobreviver. Que havia um outro Portugal que não vinha nos jornais, que não se ouvia na rádio ou se via na televisão, aparelho apenas disponível para os mais abastados.

E esse outro Portugal não era dado a conhecer porque a censura, sobre a tutela do governo ditatorial, não deixava que fosse conhecido. Quanto menos a população soubesse, mais facilmente seriam de controlar e a resignação seria mais do que certa.

Por essa razão fico bastante aborrecido quando vejo alguém dizer que com Salazar é que era e que Marcello Caetano é que tinha razão, quando dizia que estávamos a caminho de nos tornar outra Suiça e, sem o Estado Novo, rapidamente estaríamos dependentes da solidariedade de outros. Estaríamos bem quando não podíamos expressar livremente a nossa opinião, nem com o vizinho do lado, porque se fosse contrária ao governo, corríamos o risco de algum “bufo” (que podia ser o próprio vizinho) nos denunciar à PIDE e acabarmos presos?
Estaríamos bem quando no nosso país havia muitos, mas muitos portugueses na pobreza extrema, com crianças a trabalhar desde os 8, 9 e 10 anos, na casa dos mais ricos para não morrerem à fome?
Estaríamos bem quando o Estado Novo fazia passar a imagem na propaganda do regime de que o país estava bem, que continuaria bem isolado da Europa (“orgulhosamente só”), enquanto portugueses passavam fome no nosso país e outros (e tantos que foram) morriam na guerra do ultramar?

A propaganda do Estado Novo era apenas isso: propaganda. Até podia haver ouro nos cofres do Estado – muitos dizem que era ouro que os nazis roubaram aos judeus – mas a população continuava a sofrer, não só pela inexistência de liberdade, mas também pela inexistência de condições de vida dignas.

Crónica de João Cerveira

Este autor escreve em português, logo não adoptou o novo (des)acordo ortográfico de 1990