Salvador Sobral – quando o preconceito não vence

Não assisti ao Festival da Canção, reconheci alguns cantores de outros programas, mas não faço a mínima ideia do que cantaram e nem tão pouco do que vestiram. A ultima vez que assisti ao Festival da Canção era uma miúda, era uma espécie de programa familiar, assim como os Jogos sem Fronteiras. Com os canais por cabo com programas bem mais interessantes e, com o degradamento do Festival da Canção nos últimos anos, eu perdi total interesse.

Bem, no dia a seguir ao Festival da Canção não se falava noutra coisa, o povo não se poupou nas criticas e o nome Salvador veio inúmeras vezes à baila – maltrapilho, péssimo gosto na vestimenta, ar de drogado, desmazelado, esquisito, muito estranho a cantar, péssima musica, etc – nas redes sociais rapidamente se proliferou as imagens e vídeos do Salvador, também rapidamente foi comunicado que Salvador estava doente, que nos dias anteriores ao Festival tinha sido operado, e que Salvador tem um grave problema de saúde que coloca a sua vida em risco. Ora, o que é que nós, portugueses, gostamos mais? Criticar, julgar e sentir pena! Nunca um Festival da Canção tinha sido tão falado, comentado, visualizado.

Estava a trabalhar quando ouvi a musica Amar pelos Dois pela primeira vez, não vi a actuação do Salvador, só ouvi a musica e fiquei completamente enternecida, uma melodia suave, doce, divinal, com uma forte mensagem, que fica rapidamente no ouvido por bons motivos, ou não fosse sobre o amor que esta musica se canta…

Assisti ao Festival Eurovisão da Canção pela primeira vez ao fim de muitos anos, estava nervosa confesso, ansiosa para ver a actuação do Salvador e, também, ficar a par da concorrência, mas tinha a certeza absoluta que o Salvador seria um dos finalistas. Não me interessa saber o percurso de vida do Salvador, se esteve em Espanha, se andou envolvido em drogas, se teve uma depressão por um desgosto amoroso, se passou a linha da loucura, isso não interessa, Salvador Sobral, numa magistral interpretação, cantou em português ( ao contrario dos colegas que não cantaram na sua língua materna, mas sim em inglês ), num palco que pareceu feito para ele, numa simplicidade e numa genuinidade, a contrastar com as actuações circenses dos colegas concorrentes, onde o namorado da barbie, o Ken, o trançinhas, a Arlequina do Esquadrão Suicida, noivas, mamas ao léu, e outras pirosices não faltaram, temos de aplaudir de pé o Salvador que, despretensioso de qualquer vitoria, sem qualquer vedetismo, a quebrar o conceito de festivaleiro que domina a Eurovisão, cantou com toda a emoção sendo ele próprio.

Não estaríamos nós, portugueses, a precisar desta lufada de ar fresco? Pecamos tanto pelo preconceito, o que o outro veste, o que o outro tem, onde o outro vive, o que outro diz, o que o outro faz, num mundo onde os estereótipos definem as pessoas, não está na altura de pararmos de vez com os julgamentos e juízos de valor e passarmos a amar mais?

“Se um dia alguém perguntar por mim
Diz que vivi para te amar…”

Boa sorte, Salvador!