Sandra

Há quem ache uma sorte conhecê-la, há quem entre ela e uma mulher de sonho não encontre diferenças porque são uma e a mesma pessoa. Há quem a ache mais bonita do que o somatório das actrizes das novelas, há quem simplesmente ache que descende de uma linhagem ainda mais nobre do que a rainha isabel II. Por mim, acho que aos pais de tão formosa criatura é que deviam dar uma medalha e torná-los comendadores, ou assim, por estarmos em presença de uma mulher, a respeito da qual não deve faltar quem tenha a certeza de que é a fiel imagem de uma mulher perfeita.

O nome próprio começa por S, um S de Sandra, mas bem podia ser de Sucessora, sucessora por ter sucedido no trono a uma rainha de incontestável beleza que tivesse terminado o mandato; ou de Sucesso, de sucesso pelo êxito que sempre alcança nos empreendimentos em que decide meter mãos à obra.

Mas na minha modesta opinião, Bonita o Bastante para achá-la Bem Boa, é uma frase que repercute bem o efeito da passagem dela pela nossa vida, e mostra como poderia descrevê-la empregando outra qualquer letra retirada do alfabeto. Neste caso, tendo passado com distinção logo à segunda, não foi preciso, felizmente, esmiuçar no abecedário até chegar ao Z, embora não me arrependesse se fosse necessário, uma vez que estou há muito convencido de que é inteiramente merecedora de sacrifícios maiores.

Conheço-a à distância, à distância de num clique ler os artigos que escreve, sim porque além de bela é escritora, mas na verdade nunca estive tão perto do prazer de estar na sua presença, que precisasse de me beliscar no corpo todo para atestar se era verdade.

Talvez lhe dissesse, sem a coragem que se impunha, sem levantar a cabeça, mas a sentir-me levitar como se andasse nas nuvens, que tinha muito gosto em conhecê-la por ser um grande admirador do seu trabalho, por ser um estudioso da sua obra e achá-la mais simpática pessoalmente do que levemente levava a supor, e até mais alta do que aparentava nas fotos que partilhava no Instagram, em comparação com quem, sobretudo os homens pareciam pequeninos quando em bicos de pés se punham ao seu lado. E poderia citar algumas frases de sua autoria ou dizer que, na vida real, me identificava com variadíssimas personagens das suas crónicas. Dizer que tenho assistido ao crescimento do seu projeto literário, com o interesse de ver ir-se transformando um esboço numa obra-prima final.

Vejo-me com ela, num passeio de bateaux rouge no Sena atravessando de mãos dadas Paris; ou em Setúbal, numa travessia de ferry, a olhar na direção da popa, na esperança duma onda gigante que nos fizesse chegar mais depressa à praia.

A fazer jus à beleza de Helena, deitada no areal, não me custa imaginá-la de triquíni ao sol, numa praia de Tróia que, só por vê-la, já merecia ser invadida não apenas por gregos mas por turistas de todas as nacionalidades. Ou, estendida numa espreguiçadeira, a desfrutar de um dry Martini, na beira de uma piscina apinhada de gente, em que eu teria a coragem de simular que me afogava, só para ver até que ponto estaria disposta a mergulhar para salvar-me, consciente do risco de que quando voltasse à toalha já alguém lho poderia ter bebido.

Apercebi-me do estado de felicidade, através duma foto que publicara no facebook pretendendo obter gostos. Foi à saída de um concerto intimista de uma banda, dado para tão poucos convidados exclusivamente do sexo feminino, que, cada uma das afortunadas com um bilhete oferecido por uma rádio, teve de deixar o respetivo parceiro à porta. Não como um cão, mas, se pudesse, de preferência com uma trela para não cair na tentação de pular a cerca de uma vizinha.

Não foi esse o caso dela, que se fez somente acompanhar pelas amigas que apareciam na selfie, destacando-se por aparentar estar tão feliz como se, apesar de a atuação não ter durado uma hora, ter bastado para sair com noções teóricas do que são ritmos, compassos, escalas e a saber tocar guitarra eléctrica, bateria, e uma viola-baixo que soltava notas desafinadas.

Estava de calções sob uma túnica da mango cujo formato adequado é o que adquire quando se ajusta ao seu corpo. E assim como são ajustadas as teorias que dão conta da beleza feminina, com base em que, existe em cada mulher algo que a torna única, cada vez mais eu acredito em que ela, ao congregar os mais variados requisitos, consegue evidenciar-se como estando no grupo das mais completas.

Oxalá não perca nenhuma dessas características que dão um ar da sua graça e fazem da boa companheira uma boa mãe.

Para ser assertivo, deveria terminar como comecei: com a mesma inicial fazendo-a realçar nas vertentes de Escritora e Mulher Fiel e Dedicada. Mas ao invés de pretender melhorar o aspeto exterior da frase, sugiro uma viagem ao interior de cada leitor e que, cada um, saiba fazer uma introspeção sobre o significado de ser mãe, mulher, escritora e companheira, para em seguida pegar numa caneta e, diante de uma folha em branco, tentar escrever uma crónica.

FIM