Os Santos Populares

Junho é por cá conhecido como o mês dos santos populares. Com um martelinho de S.João e uma bela sardinha assada no pão, lá vamos nós ver as marchas populares a passar. Há no ar o cheiro de manjericos, feiras populares recheadas de carroceis e farturas, enfeitam-­se ruas e altares onde irão passar as imagens dos santos.

Mas as festas, romarias e arraiais não são apenas isso. São provas de fé de um povo crente, são a fuga alegre a um dia a dia atarefado, são o encontro de toda uma vizinhança, são a prova de que as tradições perduram.

Será que conhecemos bem esta tradição?

A origem

A tradição dos Santos Populares existe em vários países e está historicamente relacionada com a antiga celebração pagã do solstício de Verão, (ou de Inverno, no caso do hemisfério sul), em homenagem ao deus do Sol em comemoração das colheitas. Esta celebração, que habitualmente acontecia a 24 de Junho acabou por ser adoptada pelo cristianismo durante a idade média, e passou a ser a festa de São João Baptista.

Segundo a então criada lenda cristã, para cristianizar as fogueiras desta época, as mesmas teriam surgido devido a um acordo feito entre as primas Maria e Isabel, no qual Isabel teria de fazer uma fogueira sobre um monte, para avisar Maria do nascimento de João Baptista.

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Estas tradições são um misto entre as romarias, nascidas da religiosidade de um velho povo, com necessidade de amparo e de fé em alguém, que também tenha percorrido o caminho dos homens e perceba os seus males e as antigas tradições pagãs da dança, da música e da festividade, que acabaram por ser adoptadas pelo cristianismo à medida que este se espalhava pelas regiões.

Um outro aspecto que estas festas trazem, a par das procissões e dos arraiais é, muitas vezes, o pagamento de promessas. Vemos doações, ex­-votos e pessoas que durante décadas fazem a mesma peregrinação, anos após ano, num acto inabalável de fé. E se por um lado há santos que parecem não ser muito vingativos pela promessa não cumprida, outros há sobre os quais pairam várias histórias de castigos aplicados: feridas que reabrem, doenças que voltam, sustento perdido…

As festas

festadossantospopularesNo dia 13 festeja-se o dia de Santo António, padroeiro secundário de Portugal e padroeiro principal de Lisboa, conhecido como o santo casamenteiro. Nesse dia é feriado municipal em Lisboa e é nesta altura que se celebram os Casamentos de Santo António e que saem à rua as tradicionais marchas populares de Lisboa.

No dia 24 festeja-se o São João, que habitualmente dá o nome às festividades, fazem-­se as tradicionais fogueiras e sobe o mastro de S. João. Este dia é feriado municipal no Porto, onde se destacam as festas de S. João.

No dia 29 festeja-se São Pedro, um dos 12 apóstolos de Jesus e guardião dos portões do céu. É o dia que pões fim a estas festividades e em que se rouba o mastro de São João. É também o feriado municipal de Évora.

Mas num país em que mais de 80% da população é cristã, as festas em homenagem aos santos do povo não se ficam por aqui. Existem em Portugal, mais de duzentas festas e romarias por ano. Dessas, a maioria é em devoção a Nossa Senhora, seguida pela devoção a um santo ou santa consoante os lugares e por último, em menor número, a devoção a Cristo.

Aos três santos mais festejados (São João, São Pedro e Santo António) segue-­se São Bento, cujo culto é normalmente acompanhado pelo culto de São Mauro.

No Algarve o padroeiro é São Vicente, diácono e mártir, celebrado a 22 de Janeiro (dia de S. Vicente) ou 3 de Setembro (aniversário do seu martírio) conforme a cidade. Nestes dias o mártir é recordado, realizam-­se festas populares e procissões em sua homenagem.

No Alentejo, temos a festa em honra do Senhor Jesus da Piedade e feira de São Mateus em Setembro, uma das maiores a sul do Tejo. Em Évora prevalece a tradição dos santos populares em Junho, com a feira de São João e São Pedro como o padroeiro da cidade, em Viana do Alentejo, a festa de Nossa Senhora D’Aires e em Montemor­-o-­Novo, a Feira da Luz em homenagem a Nª Srª da Luz, ambas em Setembro. Em Sines, as festas e a tradicional procissão no mar homenageiam a sua padroeira Senhora das Salas, protectora dos pescadores.

No Centro, homenageia-se em Coimbra a Rainha Santa Isabel a 4 de Julho, com palestras e procissões; em Castelo Branco, a procissão é por Santo Agostinho; em Aveiro, as festas homenageiam em Maio, a padroeira Santa Joana Princesa; enquanto em Leiria, a homenageada é a padroeira Nossa Senhora da encarnação, em Agosto.

Por sua vez, no Norte de Portugal, temos a conhecida Festa das Cruzes em Barcelos, em devoção ao Senhor da Cruz; a romaria da Senhora da Peneda, em Arcos de Valdevez; as festas de Nossa Senhora D’Agonia em Viana do Castelo, com a famosa procissão no mar e os seus tapetes floridos; e as Feiras Novas, em homenagem a Nossa Senhora das Dores em Ponte de Lima.

Entre muitas, muitas outras…