Saudade…

Era suposto eu escrever apenas sobre coisas fixes dos anos 80/90, eu sei!

Esta semana não.

Saudade – sentimento de mágoa e nostalgia, causada pela ausência, desaparecimento, distância ou privação de pessoas, épocas, lugares ou coisas a que se esteve afectiva e ditosamente ligado e que se desejaria voltarmos a ter presentes.

Esta é a definição de saudade.

De quando era pequeno consigo ter saudades de quase tudo, bom, talvez deixasse de parte as chineladas que levei!

E se eu pudesse voltar atrás no tempo, um dia que fosse, para matar saudades de algo?

De um desenho animado, de uma brincadeira ou de um brinquedo, ou até mesmo de uma partida pregada a uma vizinha coscuvilheira!

Se eu pudesse escolher, trocava tudo isso por um simples “Boa tarde!”.

Um “Boa tarde” que ouvi vezes sem conta, e a que, talvez fruto de uma ignorância de quem é novo, e que acha que todos são imortais, nunca dei o devido valor.

Acabavam as aulas da tarde, o regresso a casa fazia-se a pé e a ansiedade de chegar a casa do meu avô tomava conta de mim, aquele café com leite acabado de fazer e o pão tostado no fogão a lenha com manteiga derretida eram qualquer coisa!

O Portão de garagem, daqueles bem grandes, abria ao pontapé. É verdade, acho que todos na minha família abriam aquele portão ao pontapé (até a minha avó).

Ao longe, ouvia-se o ladrar do Dick, um velho pastor alemão que estava na nossa família desde bebé e enquanto a minha avó preparava o repasto dos netos o meu avô deambulava pela garagem, a mexer nas alcatifas e nos vernizes!

“Boa tarde” dizia ele.

E nós, de barriga a cantar de fome respondíamos apressadamente: “Olá avô!”

Foi assim… durante muito tempo.

Era uma coisa rotineira, dia após dia, como quem veste a mesma camisa de flanela ou a mesma calça rasgada no joelho, que julgamos durar para sempre…

Não dura.

Saudade…

De ouvir um simples tom de voz, uma palavra que fosse, para que não nos esquecêssemos de como soava!

Era suposto eu hoje escrever algo fixe dos anos 80/90, eu sei!

Mas não, hoje escrevo-vos da saudade…

Que tenho do meu avô!

Não se esqueçam de recordar e sonhar porque a vida é feita de sonhos!