Saúde e Ambiente: “Monsanto”, “Glifosato”, e porque nos devem importar estas coisas???

O glifosato é um pesticida que é comercializado em Portugal, em diferentes formulações, por empresas como a Monsanto, Dow, Bayer, Syngenta, dentre outras. É conhecido por cá como Roundup, e tem sido largamente utilizado.

Enquanto França e outros países da Europa proíbem agora a utilização do glifosato, Portugal recusou-se até ao momento a fazê-lo…e isto é lamentável…Como também é lamentável que a Monsanto continue a ter o seu negócio “em alta” em Portugal e Espanha, já que é uma das marcas líderes precisamente na produção e venda de “glifosato”.

Para quem não sabe muito bem o que é a Monsanto, por exemplo, e só para ficarmos com uma ideia mais clara, ela é uma empresa que foi criada em 1901, e cresceu imenso, especializando-se, sendo uma das maiores, atualmente, no seu setor.

Foi primeiramente uma empresa do setor químico, alargou a sua área de negócio à química industrial, e foi crescendo até aos dias de hoje, centrando grande parte da sua produção a partir de meados do século XX nos químicos agrícolas, e nas décadas de 80 e 90 a sua maior área de produção passa a ser a indústria agroquímica e transgénica.

Hoje, apesar de existirem outras empresas no setor, a Monsanto é a grande referência quando se fala de sementes modificadas geneticamente, por exemplo, ou de glifosato (pesticida).

De uma forma muito geral, e sem me querer prender em detalhes sobre a produção da Monsanto ao longo da sua existência e a sua expansão fortemente lucrativa, creio ser importante ressalvar que alguns dos seus mais emblemáticos produtos foram retirados do Mercado, por ter sido provado, e apesar de todos os contraditórios durante alguns anos, que provocavam sérios danos à saúde animal e humana e ao ambiente; é o caso dos PCB (bifenil policlorado – foi utilizado em larga escala nos transformadores da indústria da electricidade, a partir da década de 30), o DDT (um pesticida de referência a partir da década de 40 na agroquímica), o agente laranja (um herbicida que a Monsanto, juntamente com outras empresas, desenvolveu, a pedido dos EUA, nas décadas de 60 e 70, que foi largamente utilizado na guerra do Vietname, tendo por consequência direta milhares de pessoas mortas e mutiladas, bem como fetos e nados com malformações severas).

Dentre os seus produtos, muitos deles nocivos ao ambiente e à saúde, apenas alguns deles foram retirados do Mercado, mas, e no entanto, muitos dos seus produtos não têm autorização para serem produzidos, comercializados e aplicados em vários países, ainda que continuem a ser produzidos e comercializados noutros.

Por exemplo a somatropina bovina, uma hormona sintética para crescimento dos bovinos produzida pela Monsanto, é largamente utilizada nos EUA, mas não é – felizmente – permitida nos países da União Europeia, dentre outros países no Mundo.

Por outro lado temos os tão falados transgénicos, as sementes modificadas geneticamente, que levaram a que na Hungria recentemente, pela mão e pela voz dos seus agricultores e produtores, queimassem terrenos de cultivo contaminados, por lá se terem encontrado as sementes modificadas geneticamente misturadas com as sementes normais, e apesar da proibição e do seu não consentimento…

Na União Europeia os transgénicos são permitidos por exemplo em Espanha, mas proibidos na maioria dos países.

Mas o que tem estado “em cima da mesa” em Portugal, e que é um problema de saúde e de ambiente, mas que lamentavelmente tem visto os anteriores Governos a “fechar os olhos” à sua comercialização e utilização é realmente o glifosato.

Por enquanto também o atual Governo não tomou as medidas que julgo serem urgentes e necessárias, embora talvez isto seja possível a curto prazo (pelo menos assim espero!).

Note-se que o glifosato da Monsanto por exemplo é vendido e utilizado na União Europeia precisamente em Portugal e Espanha, sendo estes os países da UE com quem a marca negoceia atualmente ao nível do glifosato…

Apesar de suspeitas muito fortes de que existem riscos para o ambiente e saúde animal e humana, Portugal parece não estar a tomar as necessárias medidas no que ao glifosato diz respeito, permitindo a continuidade da sua comercialização e aplicação, ignorando possíveis perigos para a vida e saúde das populações…Lamentável que assim seja. Não é prudente. E espero e desejo que isto seja alterado a muito curto prazo…

É prudente travar um possível perigo, mesmo que sem provas suficientes dos danos que pode provocar, e perante a suspeita fundamentada (é o caso).

A França decidiu muito recentemente proibir o uso de pesticidas com glifosato e taloamina, e bem.

Deveríamos com toda a certeza seguir-lhe o exemplo, e acabar com a perpetuação deste mal, sob o qual tem grande responsabilidade o Ministério de Cristas do anterior Governo… Oxalá agora se coloque o necessário “travão”…

Travar primeiro; estudar depois, mais profundamente, e não voltar a permitir a utilização do glifosato sem que existam provas claras e evidentes de que os danos não existem (o que é muito provavelmente impossível de forma honesta e séria, digo eu…).

Até ao momento quais são os fatos que temos relativo ao glifosato em Portugal:
O glifosato é o pesticida químico sintético mais utilizado na agricultura portuguesa, conhecido, aliás, por Roundup.

Ao longo de dez anos da sua larga utilização nas sementes e nos terrenos de cultivo em Portugal, não foram realizadas análises oficiais que controlem a sua presença nos alimentos, nos solos, nas águas, no ar, nem nas pessoas (pelo menos não há conhecimento oficial de que estas análises tenham sido feitas…)

Perante um tal vazio de controlo do uso e aplicação do glifosato, análises recentes foram levadas a cabo pela “Plataforma Transgénicos Fora”, em colaboração com o “Detox Project”, através da recolha de urina para análise de 26 voluntários portugueses e também a análise a algumas amostras de alimentos.

Nestas amostras verificaram-se números perfeitamente anormais que evidenciam níveis inesperados e muito elevados de glifosato.

Em todos os Governos, e assim também é desde a introdução do glifosato em Portugal em larga escala, o Ministério da Agricultura tem obviamente obrigação de monitorizar os alimentos devidamente, e há logicamente uma monitorização que testa mais de 300 resíduos de pesticidas…esclareçam-nos pois qual a razão de o glifosato não ser abrangido nestas análises periódicas??? E já agora, porque razão a análise da água para consumo não contempla igualmente o glifosato na lista de testagem, sendo que é do Ministério que vêm as diretrizes das substâncias a serem pesquisadas na água, sendo esta listagem da responsabilidade do mesmo, e depois aplicadas pelas entidades fornecedoras???…

Porque razão faltam estas análises?…E porque razão, sabendo que mais de 1600 toneladas de glifosato são vendidas ao ano, por cá, e que as mesmas não são apenas utilizadas para fins de agricultura, mas também são utilizadas em grande abundância em zonas urbanas (controlo de ervas em ruas por exemplo), em muitos municípios do país, não se procedem a testes que controlem e verifiquem a presença do glifosato e os seus níveis?…

Sabendo que o glifosato tem um potencial imenso de contaminação, e sendo a OMS a primeira a declarar que o “glifosato é provavelmente carcinogénico em humanos e demonstradamente carcinogénico em animais de laboratório”, não será normal e razoável, já para não dizer urgente que se procedam às respetivas análises, e que se trave a sua utilização em primeiro lugar???…

Segundo os dados indicados pela “Plataforma Transgénicos Fora”, o glifosato foi detetado em 100% das análises efectuadas à urina recolhida dos 26 voluntários. Os dados podem ser visualizados no seu site da internet.

Apesar de nos faltar uma amostra representativa da população portuguesa, pois esta amostragem é muito pequena a meu ver, o indicador à partida já aponta para um problema real e sério.
Se noutros países existe contaminação, porque também se utilizou este pesticida ao longo de anos, a verdade é que, de acordo com a informação desta Plataforma e com as análises efectuadas, o caso português apontaria para qualquer coisa como: “o português menos contaminado por terras lusas teria três vezes mais glifosato do que o alemão mais contaminado em terras germânicas”…

Os valores por cá encontrados variam entre 12,5 e 32,5 ng/ml, enquanto que na Alemanha o valor detetado foi de 4,2 ng/ml.

Pessoalmente creio que estamos perante valores que pelo menos devem levantar suspeitas graves de que há uma necessidade urgente de se travar a utilização do glifosato, na tentativa de que estes valores sejam reduzidos ao longo dos tempos…

A Quercus e a “Plataforma Transgénicos Fora”, para além dos alertas e apelos constantes aos sucessivos Governos e Ministérios, apelam ainda, num manifesto, para que as Autarquias, individualmente, não utilizem o glifosato, o que aliás é já uma feliz verdade em alguns, muito poucos, casos.

O Bloco de Esquerda apresentou um Projeto-Lei há dias para a proibição do uso deste pesticida, que não foi no entanto aprovado, lamentavelmente acho eu…

De qualquer forma penso que a curto prazo o Governo português vai tomar decisões neste sentido, à semelhança do que fez a França agora…Assim espero…Os dados encontrados até ao momento são suficientemente suspeitos para serem “deixados cair”, para não se tomarem medidas.

Acredito que brevemente esta “verdadeira praga” será erradicada do nosso país…
Acredito também que num futuro próximo, à semelhança do que a Dinamarca fez, será apenas permitida a agricultura biológica, e serão cada vez maiores os incentivos aos produtos biológicos e produtos que pelo menos não coloquem em risco a saúde e o ambiente, com elevado grau de controlo. Ainda que continuem a existir riscos com estes produtos, são facilmente solucionados por rigoroso controlo e jamais se comparam aos riscos em larga escala de outras indústrias, onde o fator económico e da produtividade prevalece sobre todo e qualquer valor humano e ambiental…

Atualmente acredito que não importa tanto a cor partidária dos Governos, o que é facto é que Governos inteligentes e países onde a questão do ambiente e da saúde são tidas como verdadeiramente importantes têm tomado medidas para que estas “pragas industriais” sejam erradicadas e proibidas, e que haja cada vez um maior controle de qualidade e de avaliação de riscos para o ambiente e saúde animal e humana. Espero que assim continue a ser, “em crescendo”, e cada vez por mais Governos no Mundo, dentre os quais o nosso. Também seria por demais positivo que se tomassem medidas internacionais para que países em desenvolvimento e as suas populações não fossem “vítimas” do uso e abuso destas toxicidades…pelos motivos mais errados possíveis…

Se os alimentos, os solos, o ar e a água fossem devidamente puros e longe das “garras” dos interesses económicos e da especulação, as doenças não seriam certamente tão graves como o são hoje, as vítimas seriam menos, e, claro, a saúde e o ambiente seriam bens essenciais a ser estimados e conservados em vez de serem um autêntico negócio, que cresce e prolifera com as doenças que cria, com as vidas que vai dizimando…

Não podemos permitir que tal continue a acontecer. Acredito que a informação e a reflexão sobre estas coisas, ao acesso de todas e de todos é uma das nossas maiores defesas.

Sejamos agentes de mudança, que os Governos ouçam as nossas vozes, e possam agir a favor do Bem essencial que é o ambiente e a saúde.

Que assim seja, pelo Planeta e pela Humanidade de Hoje e de Amanhã…