Se fosse grego, votaria “não”

Tendo em conta o que tenho escrito, seria mais que óbvio que votaria não se fosse grego.

Não vou maçar os leitores com os mesmos pormenores que já escrevi noutras ocasiões. Simplesmente vou reduzir a isto: quando uma medicação está a prejudicar mais do que a ajudar, o médico muda a receita. Mas, durante 5 anos, este “médico” chamado Troika não só não mudou a medicação, como aumentou a dose. E, obviamente, de nada adiantou.

Pelo menos para os gregos, porque os bancos alemães e franceses receberam o dinheiro da Troika, depois de uma “visita de médico” nos cofres helénicos. As reformas estruturais continuam por fazer e os assuntos mais urgentes – combate à corrupção e emergência social – continuam em stand by.

Se o próprio FMI já reconheceu que não foi capaz de prever as consequências devastadoras das medidas que impôs aos gregos nos últimos anos, porquê insistir em algo que não funciona? Se os gregos votaram num novo governo que reconhece que há falhas estruturais no seu país, que devem ser de imediato combatidas e resolvidas, porque é que a União Europeia não é solidária com aquele país membro e não se estudam alternativas? Se os técnicos do FMI, BCE e Comissão Europeia tiveram 5 anos a fazer exigências e – como é conhecido – falharam, porque é que um governo democraticamente eleito não pode implementar o seu programa alternativo?

A resposta é simples: o valor da solidariedade na União, especialmente no Eurogrupo, deixou de existir. Ou pagam – e continuam a pagar ad eternum – para alimentar as maiores economias europeias ou nada feito. Não há acordo para ninguém.

Crónica de João Cerveira

Este autor escreve em português, logo não adoptou o novo (des)acordo ortográfico