Se vais votar, algumas regras terás de executar! – Ricardo Espada

Existe algo de muito bizarro ou assustador no acto de votar. Sim, vou regressar a um tema que tanta tinta fez correr na semana passada, especialmente no último domingo. Eu sei que estão todos saturados do raça das eleições autárquicas, mas tenho de voltar a falar sobre o flagelo que se pode vir a revelar este acto de cidadania, que é votar. Esperei uma semana para tocar neste assunto porque, de facto, fiquei algo traumatizado depois de ter votado. Tive de fazer um pequeno retiro espiritual, para curar o trauma. Agora que já deixei de ter pesadelos à noite, aqui estou eu pronto para abordar este tema.

Primeiro que tudo, que ideia macabra é esta de escolherem as escolas para votarmos? Não sabem que, o simples acto de voltar a um local onde fomos alvo de cenas de Bullying, pode causar um trauma enorme numa pessoa? É entrar na escola e lembrar que, naquelas escadas, tão ou mais idosas que eu, era constantemente empurrado pelos meus colegas. Ou então que, naquela sala de aulas, era literalmente abusado pela minha professora? Ei, calma… Estou a referir-me às inúmeras reguadas que levava quase todos os dias. Era um menino bem comportado demais, obviamente…

Regressando às votações autárquicas, existem algumas regras que temos de cumprir escrupulosamente. Regras básicas, sim senhor, mas algo assustadoramente estranhas. Ora, não se pode entrar na sala de votação, sem que esteja completamente desimpedida para nós. Ou seja, se não houver lugar para votar, só se entra quando um dos eleitores tiver cumprido o seu serviço de cidadania. Enquanto isso, ficamos ali à porta, feitos cães abandonados, à espera que o raio do eleitor se decida em que quadrado colocar a respectiva cruzinha. Só falta agitarmos o rabinho e colocar a língua de fora, à espera da ordem para entrar na sala – «Anda Joli, anda… vem buscar, vem… Olha o que tenho aqui para ti… 3 planfletos, para tu colocares a tua cruzinha… Quem é amigo do Joli, quem é?!» E lá vamos nós…

Depois, quando nos abeiramos dos «delegados de mesa de voto», constatamos que eles são uma cambada de gente mais desconfiada, que sei lá. Nós entregamos o cartão de eleitor, juntamente com o cartão de cidadão, e começa o bailado deles… Diz um para o outro, «Ricardo Espada» e esse outro desata a procurar na lista o nosso nome. Assim que encontrado o raça do nome, eis que, o mesmo delegado, vira-se na direcção oposta, para outros delegados, dizendo o meu número de eleitor. Depois de encontrado o meu número de eleitor, eis que falta dizer o número do cartão de cidadão. E, de repente, senti-me como se estivesse na fila para a inspecção da tropa. Bastava apenas encontrar-me de cuecas (sim, no meu tempo de inspecção, não existiam boxers…), descalço e pronto para subir para a balança.

Dada a autorização para exercer o meu voto, lá vou eu feliz e contente para o meu local de votação, e tenho de cumprir estritamente o caminho certo para o raio do sítio! Nada de passar por detrás da bancada de outro eleitor que esteja a jogar ao totobola com os panfletos, senão incorro numa agressiva repreensão por parte do delegado de mesa de voto – «EI! EI! Nada de passar por detrás da bancada! Está outra pessoa a votar! EI! EI!».

Para último, deixo a acção de dobragem dos folhetos antes de colocar nas urnas. Bizarro e amaricado demais para o meu gosto. «Ai, olhe, caro eleitor. Tem de dobrar os panfletos em 4! Está a ouvir?! Vá, volte lá para trás e dobre lá isso, como deve ser.» Quase que dá vontade de responder, «Ai, é?! Ai, é?! E também tem de ser por ordem de cores, em degradê, é? Sua bichana…».

Da próxima vez, ao lado do papel com os números de eleitores em ordem crescente que colocam na parede das salas de votação, façam o favor de colocar um outro, com as «regras de boa votação» que temos de cumprir! É que ninguém nasce ensinado! A prova disso está nos resultados das eleições autárquicas…

Desculpem o texto excessivamente enorme, mas tinha uma panela de sopa ao lume e fui divagando e divagando até que ela ficasse pronta… Ah! Raios! Cheira-me a queimado! Ora bolas, parece que divaguei demais…

Até para a semana, malta catita…


RicardoEspadaLogoCrónica de Ricardo Espada
Graças a Dois
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