“Seguro: Quo vadis? “- Nuno Araújo

Na semana passada, António José Seguro, secretário-geral do Partido Socialista (PS), lançou uma proposta para melhorar o desempenho dos tribunais portugueses. A proposta consistia em criar um tribunal especial para avaliar contendas judiciais relacionadas com investimentos iguais ou superiores a um milhão de euros.

Também na semana que passou, Carlos César, ex-presidente do governo regional dos Açores, confirmou em entrevista a uma rádio portuguesa ter rejeitado um convite feito por Seguro para encabeçar a lista do PS às eleições para o Parlamento Europeu.

Entretanto, Mário Soares, histórico fundador do PS, reúne correntes do PS, ficando de fora a tendência próxima à sensibilidade de Seguro. António Costa, socialista e presidente da Câmara Municipal de Lisboa, criticou a falta de um cabeça-de-lista do PS às Europeias, garantindo que é imperioso ganhar essas eleições. Costa é visto como um potencial sucessor de Seguro na liderança do PS.

Como tal, é inegável de que se tratou de uma semana negra para o líder do PS. Por um lado, Seguro comete um erro básico, ao “esquecer-se” que a igualdade no acesso à justiça pelos cidadãos é um direito básico num estado de direito; por outro lado, Seguro vê a sua imagem publicamente “desfeita” quando Carlos César rejeita ser candidato às Europeias, que serão já em Maio. Numa situação, Seguro não parece ter nada de socialista na proposta que fez, já na outra o líder do PS mostra insegurança e fragilidades impróprias de um putativo candidato a primeiro-ministro.

Ainda há meses atrás, dizia Seguro que um dos maiores problemas do governo PSD-CDS, de Pedro Passos Coelho e Paulo Portas, era de se esquecer das “pessoas”. Parece que bastaram alguns meses de propaganda governamental de recuperação económica para Seguro encetar numa trajectória descendente quanto à sua liderança do PS.

“As pessoas primeiro”? Era mesmo esse o slogan de Seguro?

Um líder do PS, socialista, preocupar-se-à com o maior problema do país: o desemprego. Quando existe preocupação com “as pessoas”, o bem-estar do cidadão é prioritário, assim como a criação de emprego e combater a pobreza, a fome, a miséria e o risco de exclusão social, entre outras possíveis consequências. O discurso da actual liderança do PS tem falhado por isto mesmo: não tem lembrado os portugueses que o governo só governa a favor dos mercados, e não a favor dos cidadãos.

Crónica de Nuno Araújo
Da Ocidental Praia Lusitana