Seguro vs. Costa

Não será novidade para quem me conhece e para quem lê o que escrevo se disser que nunca achei Seguro como um líder nato e uma pessoa com fibra suficiente para ser quer secretário geral de um partido da dimensão do PS, quer secretário geral. E as eleições europeias provaram isso mesmo. Quando se esperava que, perante uma maioria PSD/CDS ferida de morte em termos de popularidade , o PS tivesse uma vitória estrondosa, ganharam por uma margem minúscula.
Tal como Passos Coelho, que nunca foi muito popular mas aproveitou a vontade dos portugueses em punir Sócrates para ganhar eleições, esperava-se o mesmo de Seguro. Mas falhou e o PS sai, a meu ver, fragilizado das eleições europeias. Perdeu o braço de ferro com o Presidente da República, quando disse que não aceitava outra decisão que não eleições antecipadas, perdeu o braço de ferro com o Governo, quando não aceitou negociar nalguns temas e teve de ceder noutros e perdeu a oportunidade de infligir um duro golpe à maioria, porque não conseguiu convencer nas eleições europeias os portugueses – primeiro – a votar – e segundo – massivamente no PS.
Costa é obrigado a chegar-se à frente quando se apercebe destas sucessivas perdas. Porque, ao ritmo que levava, estou em crer que o PS corria o risco de ganhar as legislativas de 2015 também com margem mínima. E é aqui que começa a vergonha: Costa tenta resolver o assunto internamente, Seguro tenta vir buscar apoios à opinião pública, criticando abertamente Costa, chamando-o de oportunista, na comunicação social. E Seguro, que antes era contra as primárias, agora é a favor das primárias e com voto de simpatizantes. Ora se Seguro está tão confiante que, com votos dos militantes e dos simpatizantes do partido ganha eleições, internas no PS, porque é que não se demite e se apresenta a eleições? Qual é o receio, se já disse várias vezes que acredita que será o candidato do PS nas legislativas? Quem não deve não teme, já diz o ditado popular.
Para mim, Seguro tem receio, porque Costa é mais carismático que ele, tem mais experiência governativa – quer como membro de Governo, quer como presidente de uma autarquia – e reune mais simpatias dentro do próprio partido. Acho que Costa tem ainda uma outra vantagem: enquanto Seguro faz “birra” e rejeita acordos, Costa é conciliador, o que fez com quem quem, na primeira vez que concorreu à câmara lisboeta, concorreu contra si, no segundo mandato tivesse concorrido na sua lista.
Não me cabe a mim votar porque não sou militante do PS (nem de outro qualquer partido), mas, se a bipolaridade se mantiver, o próximo Governo será socialista (coligado ou não, iremos ver) e preferia, pela sua personalidade e currículo, ver Costa a primeiro-ministro.

 

Crónica de João Cerveira

Diz que…