Seleção Nacional: Lugares cativos são problema grave sem fim à vista

Na passada Terça-feira, quando o relógio batia às 20h45 e o ambiente era de folia, Portugal defrontava a seleção de Cabo Verde. O jogo era histórico e mais histórico se tornaria aquando do fim dos 90 minutos. O inicio histórico prende-se com o facto de ser o primeiro embate de sempre, da seleção portuguesa, na Amoreira, de ser entre “países irmãos” e, por fim o mais importante, por termos a oportunidade de ver inúmeras estreias na equipa das quinas. Ou pelo menos, assim se esperava. O jogo acabou em 2-0 para os cabo verdianos naquele que, mesmo tendo sido a 31 de Março, parecia uma piada de dia 1 de Abril.

O jogo começou e logo se percebeu que dali, não viria coisa boa. O onze inicial era um bom prenúncio do que se avizinhava. Desde Cédric a titular, quando nem lugar nos 23 teria, ao facto de André Pinto jogar e de não haver mais nenhum central no banco, a Bernardo Silva ter sido colocado num ala quando se sabe que rende mais ao meio e, ao principal problema: Hugo Almeida. Uma seleção que utiliza um jogador que é ponta de lança e que em 10 meses – sublinho, 10 meses! – marcou um só golo, está mesmo  a pedir uma humilhação. Assim foi. O jogo de Portugal não passava da cepa torta. A bola só atingia outra dimensão quando chegava aos pés de João Mário ou, principalmente, Bernardo Silva. Tudo o resto era feito a um nível lento, fraco e previsível. O “pinheiro” da frente falhava bolas atrás de bolas, não produzia uma única jogada de perigo e não houve um único momento em que tratasse a bola como ela merece; ou seja, bem. O resultado ao intervalo acabaria por se revelar normal e, sobretudo, justo. Cabo Verde marcou dois golos por falhas graves da nossa seleção, sobretudo a nível defensivo, onde Héldon e Odaír Fortes passavam por lá como se fosse uma faca em manteiga no Verão. Uma vergonha.

É justo dizer-se que o jogo era amigável, que os jogadores eram inexperientes e que o público cabo verdiano estava a ser o 12º jogador. Porém, nada disso faz sentido quando se fala em representar o país. Quando jogadores que habitualmente são segundas linhas, vêem neste jogo a oportunidade de demonstrar que afinal o selecionador está enganado e que, afinal de contas, pode contar com eles, o que fazem? Um dos piores jogos de que há memória. Nem a primeira parte e muito menos a segunda, foram dignas de uma país com tanta tradição, tanta história e com tantos bons jogadores, como é o nosso. Fomos humilhados por uma seleção que está 100 lugares abaixo de nós no ranking, por jogadores que ganham 30 vezes menos de que os nossos mas que têm uma alegria, um empenho e uma dedicação no seu jogo, que suplanta todo e qualquer índice de vedetismo esboçado em 90 minutos por Portugal. A culpa não é inteiramente dos jogadores, aliás, neste caso concreto é mais de Fernando Santos do que outra coisa qualquer. Os compadrios vigentes no onze português foram mais que muitos e os nomes presentes na Amoreira, tiveram muito mais peso que a qualidade futebolística, algo que já é apanágio da equipa das quinas há muito tempo.

Esse é mesmo um dos mais sérios problemas: os compadrios e os lugares cativos. De que interessa convocar o Rui Fonte ou o Lucas João quando se vai acabar por cair no Éder e no Hugo Almeida que juntos, não dão sequer um jogador? Do que vale convocar o Ventura se nem 1 segundo de jogo lhe deu? Nem num amigável. Do que vale ter laterais a esforçarem-se jogo após jogo se no fundo se vai apostar no Cédric que não faz mais nada a não ser cruzar? Do que vale apostar num dos jovens com mais futuro de Portugal, Bernardo Silva, se vai jogar numa posição que não é a dele? Tudo isto são perguntas às quais só Fernando Santos poderá responder. Aliás, muito provavelmente não terá uma resposta coerente, visto serem assuntos demasiado graves e problemáticos para terem uma resposta concisa e simples. O jogo frente à seleção de Cabo Verde foi bom para todos os portugueses poderem observar a mentalidade presente no seio da Federação, onde os selecionadores mudam, mas os problemas estruturais se mantém. Enquanto se continuar a apostar em carreiras, clubes e orçamentos, deixar-se-ão talentos natos de fora, jogadores em forma de fora e todos aqueles que se esforçam semana após semana, desmotivados. Portugal tem demasiado peso no futebol mundial para ser tratado desta forma, injusta e desrespeitadora.

Quando se olha para os jogadores que vão entrar em campo e se vê Hugo Almeida incluído e ainda para mais, capitão, então, está tudo dito. É sintomático. Mais que tudo, é ultrajante. Os cães ladram e a caravana passa, por mais que se esperneie, por mais que pareça que agora é que as coisas vão mudar porque se convocaram jogadores do Moreirense e do Rio Ave, tudo não passa de um golpe de teatro que acabará com assobios e criticas negativas. Assim vai a Seleção Portuguesa, assim vamos nós que continuamos a sofrer com algo que pouco ou nenhum remédio tem. Veremos até quando continuará o circo.