Selecção Nacional – “Os miseráveis”

O título é duro, a mensagem é crua e o assunto é hediondo. Por mais que se pudesse tentar escapar e arranjar uma analogia – que por acaso até é – entre o filme de 2012, do realizador Tom Hooper e a exibição portuguesa, o facto é que nada disso seria preciso, uma vez que a vergonhosa exibição da equipa das quinas falou por sim.

Depois da tempestade vem a bonança, diz-se. No entanto, em Portugal a tempestade já dura há tempo de mais e enquanto não se afastarem as imensas nuvens que já pairam há anos na nossa atmosfera, nada mudará. A estocada final foi dada este Domingo. Não há como fugir, fomos humilhados, vexados, gozados e vergados por uma seleção sem expressão, sem craques e, no campo da teoria, com valor muito inferior ao nosso. É tempo de perceber, com meses de atraso, que há vários aspectos que nos estão a minar e a encaminharmo-nos para aquele abismo que já se vê ao longe. Nada se alterará se não for dada uma volta de 180º graus, e não de 360º como se tem feito nos últimos 6 anos, com mais incidência nos últimos 9 meses.

A mudança tem de partir do topo, se tal não se verificar, então que se mude o topo. Não nos é possível continuar com um treinador que não sabe o que faz, que se perdeu num mar sem ideias e que nem com cem ideias diferentes se voltará a erguer. Perdemos mas não caímos na realidade. Não caímos numa  realidade que já devia ser a nossa há algum tempo, não caímos numa realidade que não assenta só na tão afamada “Ronaldodependência”, não caímos na realidade dura que já não somos o que éramos mas que no entanto, com o que temos, podíamos ser muito mais. É impossível acontecer tal coisa quando padecemos de um mal atroz que se chama Paulo Bento. Um mal que vem sendo cada vez mais corrosivo e que se vem camuflando atrás de apuramentos dignos de uma fantochada.

É necessário apontar culpados, enquanto isso, tapa-se o sol com a peneira, ou como diz o outro, despede-se mais um médico. É sabido que o grande culpado está à vista mas não se descose, toda a população chegou lá, mas o ladrão não tem coragem para assumir, prefere continuar a fugir, só o faz porque sabe que a polícia não é inteligente, como tal, vai-se escondendo atrás de “pseudo revoluções”, por exemplo. Revoluções que são muito bonitas na teoria mas que na prática servem para jogarem os mesmos de sempre que ainda estão pior do que estavam. Não joga o Bruno Alves? Calma lá! Vamos por o Ricardo Costa com a sua jovialidade e os seus milhares de minutos nas pernas! Não está o Meireles? Sem problema, apostamos no André Gomes, vulgo, no jogador mais lento de processos desde que o Fernando Mendes jogou num jogo de caridade, em vez do Adrien! Estamos a perder? Nada de alarme, é só tirar o William e por o Horta de forma a perdermos o meio-campo! Tudo isto afirmando num discurso ouvido e badalado que fará uma tal de revolução e renovação na seleção portuguesa, algo que só terá acontecido na sua cabeça. Uma coisa é ter pouco e mexer com isso, outra é ter uma quantidade razoável de talento e geri-lo mal, pior, não saber aproveitá-lo.

Os cães ladram e a caravana passa. É assim que vai o nosso futebol, sem risco ao meio mas com um futebol completamente ao lado e desprovido de qualidade. Tudo culpa de uma federação benevolente – ou cobarde se preferirem -, de um selecionador ridículo e de um conjunto de jogadores com talochas nos pés. Não se pode exigir tanto ao ponto de se deixarem os compadrios, as teimosiais idiotas ou as embirrações crónicas, contudo, que se mostre algum brio e respeito pelo símbolo que carregam. Enquanto se mantiver a anedota que temos no banco até as Ilhas Faroé vão parecer a Alemanha. Domingo, dia 7 de Setembro de 2014, perdemos 0-1 com a Albânia, que em toda a sua história só tinha ganho dois jogos fora, nesse dia, senti-me humilhado. Isto não é Portugal, ou pelo menos, não o que eu conheci. É triste que num país com tanta tradição e qualidade futebolística, tenhamos estes 23 a representarem-nos. Tudo isto é triste, tudo isto é a seleção nacional.