Ser deficiente é ser eficiente!

O meu nome é Nuno Vicente, tenho trinta e um anos. Consegui concluir o 12º Ano de escolaridade na Escola Secundaria do Cartaxo, através do sistema de videoconferência. Fiz praticamente todo o meu percurso escolar através deste sistema. Isto porque sou portador de uma doença rara, chamada Osteogénese Imperfeita, que consiste em ter os ossos fracos e, consequentemente, fazer fracturas com facilidade. A doença manifestou-se quando tinha três anos de idade, devido precisamente a esse facto.

Durante muitos anos estive acamado, não havendo sequer a possibilidade de poder ir para uma cadeira de rodas, felizmente acerca de cinco ou seis anos, comecei a fazer um novo tratamento em Coimbra, havendo algumas melhorias ao ponto de, neste momento, já conseguir andar numa cadeira de rodas, tendo ganho muita autonomia desde então. Tendo conseguido entrar na Universidade, no curso de Ciência Politica.

Desde o meu 8º ano, que comecei a gostar muito de escrever. No início era só poesia, mas muito rapidamente a prosa também começou a ter imensa importância na minha vida, um grande sonho meu é provar, através das minhas palavras, que as limitações físicas de cada um estão nos nossos próprios complexos em relação ao que pensamos dos outros. Tenho imensos objectivos que gostaria de alcançar, tudo farei para que tal aconteça, não enveredando por caminhos ditos mais fáceis, porque esses ditos caminhos mais fáceis acabam sempre por se tornar ainda mais difíceis e, sobretudo, tornam-se irreversíveis.

Ser um exemplo para todos, provando que só há impossíveis para todos aqueles que não lutam pelos seus sonhos, tentar com que todos os dias a minha escrita possa evoluir um pouco, por mais insignificante que pareça aos meus olhos pois, para mim, um bom escritor é aquele que escreve de forma simples, mas cuidada, para que todos possam perceber a mensagem que tentou transmitir, escrevendo como se cada palavra que escrevera fosse a última da sua vida. Nesse mesmo contexto, um dia num futuro um pouco longínquo, ser reconhecido por essa mesma escrita simples, mas cuidada, de forma a ter uma luta constante com as palavras, numa tentativa de conquista deste mundo, pois, só através das palavras e consequentemente do diálogo será possível fazê-lo, alcançando assim a tão desejada harmonia entre toda a humanidade.

Segundo Sócrates, “A morte é um sonho sem sonhos”, ainda é cedo para morrer, logo, só os sonhos encorajam cada amanhecer. Sou sportinguista, cada um saberá de que clube é por ser possuidor de livre-arbítrio. No meu caso, para mim a frase ”Nós somos da raça que nunca se vergará… Por cada leão que cair, outro leão se levantará…”, é um lema de vida por muitas circunstâncias da minha vida. Porque para mim, a vida tem de ser entendida como o desembarque na Normandia na II Guerra Mundial: muitos daqueles homens sabiam que iriam morrer naquela praia, como vieram a morrer, mas tinham que desembarcar por ali. Por eles, pelo que acreditavam, pelos seus pais, pelas suas mães, pelas suas namoradas, por quem não conheciam, pelas futuras gerações. Tinham de lutar, morrer se necessário… A vida é assim, porque tudo isto é vida. Uma alegria momentânea do dia-a-dia como é o beijo de quem se ama. Porque cada palavra dita ou subentendida silencia o tempo e a distância. Sendo, a poesia como a vida em si, não o que nós queremos, mas sim o que conseguimos fazer com o que a própria nos proporciona.