Ser feliz é quase de borla – Maria João Costa

As conversas de café com amigas desempregadas dão nisto: o extremo da felicidade é ganhar pouco dinheiro, e ser feliz.

Não, não é porque se está no limite do desespero e se aceita qualquer coisa a qualquer preço; não, não são os pais que exigem uma participação monetária ativa e contínua; e não, não passam os dias nos cafés, porque se assim fosse haveria tempo para encontrar um tema mais interessante para crónica de hoje (era o mínimo que se exigia). Sim, são só pessoas normais, desempregadas.

A felicidade não é ter um carro bonito, uma casa grande, um cão, um Ken e um bebé que não chora nem faz cocó; também não é ganhar o euromilhões, porque há sempre a possibilidade de ser cardíaco e de morrer rico sem saber o que isso é. A felicidade é mais simples, é apenas viver bem com pouco, ou antes, com o suficiente. Claro que esta teoria não se adapta a Tias de Cascais, nem a altas, morenas, de 20 anos que namoram com o Pinto da Costa; é uma teoria que se aplica a pessoas normais … a desempregados (talvez seja mesmo um pensamento de desespero).

A possibilidade de acordar todos os dias com um objetivo, com a certeza de que se vai fazer alguma coisa que dá gozo e que nos faz perder a noção das horas é um luxo nos dias de hoje. É quase como ter um bebé que não faz cocó. Não se sentir frustrada por trabalhar numa área que não é a aquela para a qual estudou, sair de casa com um sorriso na cara às sete da manhã, e voltar às 20h ainda com vontade de ir correr, é para quem é concretizada no setor profissional. Até se pode ganhar apenas para pagar o leite com cereais, a conta da luz que cresce como ervas de aninhas, e o aluguer do quarto, mas em compensação, não se lamenta todos os dias por ganhar pouco e fazer tudo, menos aquilo para que tem talento.

Venham daí os estágios profissionais que pagam as despesas, os contratos de três meses e os recibos verdes, logo que seja para viver com um sorriso na cara todos os dias de manhã.

 

Crónica de Maria João Costa
Oh não, já é segunda feira outra vez!