Ser mãe é um dom – Laura Paiva

Alguém me disse, há uns dias atrás, que não tinha qualquer impulso maternal. Numa estável relação de cinco anos, começara agora a ponderar a questão apenas por pressão do companheiro. Dei comigo a pensar “mas esta gente é doida?!?!?! Coitada da criança”. Claro está que este pensamento foi privado e não houve lugar a nenhum comentário da minha parte. Não me foi pedido e não poderia fazê-lo porque a maternidade não se transmite, por palavras, a ninguém.

Nem todas nós, mulheres, sentimos o apelo da maternidade.
Quando uma mulher, que não pretende ter filhos, cede para agradar ao companheiro parece-me ser sinónimo que algo vai mal na relação e será, muito provavelmente, a criança a mais prejudicada. Um filho é um projecto que requer concordância e entrega incondicional de todas as partes envolvidas, em suma, tem de ser muito desejado.

Não se é mãe apenas porque se gerou e pariu uma criança.

Para mim, ser mãe é um dom – é estar lá, amando e cuidando, sempre e para sempre, de uma vida que se torna mais importante que a nossa própria vida.
É alimentar o corpo e a alma, é cuidar, é proteger, é amar tanto que até dói, é limpar lágrimas, é curar, é consolar, é dar a mão, é educar, é sorrir quando apetece chorar, é abraçar, é beijar, é saber dizer não, é saber ceder, é respeitar, é adivinhar, é prever, é privar-se, é amparar, é aconselhar, é deixar que cresçam, é aceitar, é dar a vida se preciso for. É tudo isto e muito mais.



Longe vão os tempos em que uma criança vinha ao Mundo porque calhava ou porque era assim que deveria ser. Casar tinha implícito, como único objectivo, a procriação. Um filho era apenas mais uma boca. Nos casos mais práticos, os filhos criavam os filhos. Os filhos eram, desde cedo, o sustento da família. Outras vezes eram, apenas e só, um fardo.
Não eram planeados, nem desejados e, não raramente, as relações com os progenitores eram baseadas somente no medo.

É por isso que não me admiro nada quando ouço dizer que há filhos que não querem tratar dos progenitores idosos – não há laços que os unam, nunca houve.

Crónica de Laura Paiva
O mundo por estes olhos