Ser poeta

Sempre quis ser poeta, porque os poetas têm o direito de dizer o que mais ninguém pode, desde as coisas mais belas até as mais provocadoras sem que ninguém se sinta ofendido. Essa espécie de poder, de podermos dizer o que nos vai na alma sem sermos atirados como animais para a praça pública, onde se julga e se condena os imorais, fascina-me! Por experiência própria, senti isso na pele, quando tentei usar certas palavras com uma mulher e que me atacou com a sua água-benta e assim expulsar os pecados de mim. Noutra altura arranquei a gota de poeta que possa haver em mim e fiz o mesmo em forma de poema, (na verdade chamar aquilo poema, é esforçar muito ou quase tudo, era uma espécie de uma letra de uma música pimba a cair para o palavrão disfarçado.) Ela me olhou com os olhos a vibrar e exclamou: um poema para mim! Leu todas as palavras como se fossem mel, era a luxuria a transbordar em mim escrito com forma de flor e foi assim, que descobri esse poder secreto dos poetas, os poetas têm tudo! As mulheres que querem, os homens que querem, a beleza que querem e todo o amor é deles, porque as palavras dão razão ao que escondemos sem conseguir-mos dizer. Os poetas são capazes de espelhar a nossa alma, de nós deixar nus e de nos fazer amar.

Apesar de este meu desejo quase religioso de querer ser poeta, nunca o consegui ser. Nunca escrevi um livro, nunca plantei uma árvore ou fiz um filho, as três regras básicas de alguém que queira ser algo na vida, ainda mais poeta… Sempre que me olho no espelho, pergunto que és tu? A verdade é que não sei! Nesta vida de sonhos desfeitos em ilusões, acabei por não encontrar na realidade algo que me fizesse senti o que sou, esqueço as deixas dos sonhos e a vida continua, não esperou pela a minha atuação suprema, não tive público aplaudir a leitura dos meus poemas que nunca escrevi, sozinho no palco da vida com o horizonte vazio, pergunto quem sou eu? Não sou nada, penso… ninguém me conhece por algo, mesmo o velhinho “Zé” já está tão gasto, há muito abandonado na tentativa de ser algo com um nome mais ou trocar de nome como quem troca de pele que já não me serve. Para trás o vento apagou as pegadas do que eu era…

Mas gostava de ser poeta. Poder dizer ao mundo todos os palavrões contidos, poder amar-te sem medo de errar, porque se errasse seria um poema, uma flor arrancada de um lugar e as lágrimas, não seriam de dor e sim pérolas, nos olhos de uma Princesa qualquer! É difícil não ser ninguém no teu coração…

Eu queria ser poeta, mas tenho de perguntar aos poetas quantas palavras tem um homem de gritar para ter direito a todas as palavras, porque eu grito, grito tantas palavras e são sempre negadas as palavras que amo.