Diz que… Ser português

Antes de mais, deixem-me que vos diga que este sábado foi excepcionalmente dia de trabalho, assim como dia de formatação do meu portátil pessoal, pelo que vos escrevo, também excepcionalmente, já na madrugada de sábado para domingo e num computador de recurso.

Escrevo-vos sobre a minha ideia de ser português. A todos os prismas. Nas coisas boas e nas coisas más. Especialmente nestas. Assim como eu, apesar das contrariedades, não desisti de partilhar estas minhas ideias convosco, assim deviam ser todos. Persistentes. Teimosos, porventura. Mas sempre – sempre – com uma ideia no horizonte: Portugal.

Antes de mais, é preciso uma mudança de mentalidade. Se, por exemplo, uma empresa fecha, diz-se que é uma vergonha, que é o país e o governo que temos. Se uma colectividade fecha, diz-se que é uma vergonha, que é o país e a câmara que temos. Se a gasolina aumenta, é uma vergonha, é o país e o governo que temos. Em suma, tudo, na boca das maioria, é culpa do Estado e dos governantes. Assim como é totalmente descabido prometer que se vai criar “x” empregos. O Estado pode criar condições mais favoráveis para as empresas trabalharem e criarem postos de trabalho mas, no limite, não é o governo que gere as empresas e são estas que criam emprego e riqueza, não o Estado. Estado aqui entendido em sentido estrito, como Administração Pública, pois por definição Estado somos todos nós.

Estão, afinal de contas, o que temos de fazer? Parece difícil começar, mas não é. Não vou ser pretensioso ao ponto de afirmar que tenho a solução para a crise. Mas sei que, qualquer que seja a solução, tem de passar pela aposta no que é nacional, no que é nosso. Tanto a nível de produtos, como a nível de recursos humanos. E, a este nível, os portugueses têm de começar a dar mais valor a si mesmos. Temos bons exemplos. Reparem, por exemplo, no caso da Critical Software, que, segundo pude ver na imprensa, foi empresa criada por dois recém licenciados que, não tendo emprego, decidiram apostar no seu próprio negócio e hoje têm clientes como a Nasa.  Mas outros exemplos há, em mais pequena escala, de negócios que deram e continuam a dar frutos. E mesmo que tenha já um negócio ou ache que isso não é para si, pode contribuir de outra forma: sempre que possível, opte por comprar produto nacional, mesmo que seja ligeiramente mais caro. Assim a liquidez fica pelo nosso país, as empresas mantêm-se abertas, mantêm os postos de trabalho e as famílias mantêm-se o seu sustento.

Muito mais haveria para dizer sobre este assunto, mas não pretendo tornar este espaço num a crónica enorme e maçadora. Talvez um dia mais tarde possa voltar a este assunto. Termino só falando num factor que já os antigos diziam ser um pecado muito feio: a inveja. Eu sou dos que acredita que, se o “fulano” (não em sentido depreciativo) ganha mais do que eu, eu tenho de fazer algo para ganhar tanto como ele, para que o meu trabalho seja reconhecido e recompensado. O contrário, fazer com que o dito “fulano” se dê mal na vida e passe a receber menos é mesquinho, egoísta e contrário ao crescimento que se quer dar ao país. Trabalhador que veja o seu trabalho reconhecido e bem remunerado é um trabalhador motivado e o seu trabalho vai correr melhor, vai ser mais produtivo.

Crónica de João Cerveira
Diz que…