Será Lady Gaga o Freddie Mercury do Século XXI?

Esta é uma crónica algo perigosa para os fanáticos de Lady Gaga e de Freddie Mercury, e dos Queen, (e para os viciados em música no geral). Porquê “perigosa”? Porque para os fãs mais acérrimos pode ser complicado ser imparcial e reconhecer que o seu cantor favorito também tem falhas. E isso é normal, apenas significa que é humano. A crónica desta semana surge a propósito da visita a Portugal de Lady Gaga (mais concretamente a sua digressão “Artpop Ball Tour”, na Meo Arena, em Lisboa) e no “Desnecessariamente Complicado” trago-vos uma perspectiva inédita que compara o líder dos Queen a uma das divas dos tempos modernos.

Ora, que Freddie Mercury era absolutamente genial e que é considerado um dos maiores cantores de sempre já nós sabíamos. Mas será que a polémica Lady Gaga está ao seu nível? Calma, já lá vamos. Antes concentremo-nos nas semelhanças que ambos partilham.

E podemos começar precisamente pelo nome. Sim, pelo nome. Porque ambos optaram por criar um nome artístico totalmente diferente do seu nome verdadeiro. E isto talvez seja uma novidade para os mais distraídos: o nome de baptismo do líder dos Queen era Farrokh Bulsara. Quanto à diva norte-americana o seu verdadeiro nome é Stefani Joanne Angelina Germanotta. Acho que se torna evidente a razão para terem criado nomes artísticos, certo?

Continuemos. Freddie nasceu a 5 de Setembro de 1946 em Zanzibar (hoje corresponde à Tanzânia) enquanto que por sua vez Gaga nasceu a 28 de Março de 1986. Ou seja, estão separados exactamente por quarenta anos. E é também de realçar o facto de ambos possuírem irmãs seis anos mais novas : Kashmira (Mercury) e Natali (Gaga). E se Freddie aprendeu a tocar piano aos oito anos de idade Lady antecipou-se e começou aos quatro anos.

Ainda não estão espantados? E se eu vos disser que tanto num caso como no outro a música teve um papel decisivo nas suas vidas desde muito cedo? O primeiro formou uma pequena banda com alguns amigos para poder tocar alguns dos êxitos da época nas festas da escola. A segunda escreveu a sua primeira canção aos doze e um ano depois já entrava em musicais da escola (como “Guys and Dolls” ou “A Funny Thing Happened on the Way to the Forum” por exemplo). Ou seja: ambos manifestaram desde cedo a sua inclinação para o meio artístico.

E chegamos finalmente a um dos factores que mais os aproxima: a sua sexualidade. Sim, porque tanto num caso como no outro é a sexualidade que explica a sua atitude para com os outros (dentro e fora do meio artístico) e as suas letras e mensagens subliminares. E se a tudo isto juntarmos uma boa dose de extravagância (nomeadamente no vestuário e nos comportamentos básicos do dia a dia) e polémica temos os ingredientes para duas personalidades absolutamente únicas do panorama musical.

Antes de avaliar o talento puro falta uma outra vertente: o espectáculo puro e duro. Sim os tempos eram outros, no entanto é consensual que os Queen foram responsáveis por alguns dos melhores concertos de sempre. Igualmente consensual é o facto dos espectáculos da norte-americana terem uma forte componente visual o que os torna deslumbrantes e cativantes. Podemos não apreciar os estilos, contudo é impossível ficar indiferente ou simplesmente ignorá-los. Porque quer seja através do seu talento, dos seus concertos ou das polémicas com a imprensa é praticamente certo que vamos ouvir falar (e falar também nós, já agora) deles.

O talento pode ser trabalhado e melhorado, mas para tal é preciso que ele exista (se bem que a indústria da música está repleta de exemplos de pessoas que mesmo não tendo talento algum conseguem atingir o sucesso mas isso é tema para uma outra crónica). E é indiscutível que talento não falta aos citados. Mas estará Lady Gaga ao nível de Freddie Mercury? Na minha opinião não. E não só não está ao seu nível como está alguns degraus abaixo. Contudo esta é a minha opinião pessoal (vale o que vale obviamente) sendo amplamente discutível e sujeita às mais variadas avaliações utilizando vários parâmetros.

Não quer dizer que ela cante mal. Ou que não tenha talento nenhum. Não o tem é na mesma dimensão de Freddie Mercury. O que não tem mal nenhum (afinal de contas quantos artistas estiveram verdadeiramente ao seu nível? Talvez meia dúzia, se tanto). Até porque os estilos são um pouco diferentes e Lady Gaga não tem consigo músicos da mesma categoria que tinha Mercury (algo que faz toda a diferença, nomeadamente no processo de composição das músicas e letras). Já para não falar no quão jovem é (e este é um aspecto fundamental dado que com o passar dos anos vai certamente evoluir e melhorar bastante).

Agora juntem-se a mim num pequeno exercício: imaginem que por obra e graça do Espírito Santo (não o do BES, falo mesmo “DO” Espírito Santo) era possível mudar a história e permitir a Freddie Mercury viver em pleno Século XXI. Não acham que ele não seria amado por metade da imprensa e odiado pelos restantes? Não teria milhares de seguidores em todo o mundo, enchendo palcos e estádios por onde quer que passasse? Não teria milhões de “likes” no Facebook”? Não seria “tropic trend” no Twitter? Não gostaria ele de provocar a imprensa e o “star system” vestindo-se de forma provocante, desafiando assim as regras instituídas? Claro que sim. Ele faria tudo isto e muito mais. E se isto define Freddie Mercury também temos de reconhecer que, com as devidas distâncias, define Lady Gaga.

Claro que é discutível o período de tempo em que Lady Gaga se conseguirá manter no topo. E a influência que tem (e terá no futuro) na população mais jovem e no meio da música em geral é imprevisível. Assim como imprevisível é a quantidade de prémios que vai receber ou os discos que vai vender. Contudo o mundo da música nunca mais foi o mesmo depois do seu aparecimento. Existe, claramente, um “antes” e um “depois” da criação da “persona” Lady Gaga. Tal como fez Freddie Mercury. Tal como fizeram os Queen.

Os tempos mudaram. As opções musicais podem ser outras. O estilo pode não ser o mesmo. O talento pode nem sequer chegar aos calcanhares do do líder dos Queen. Mas que conseguiu estabelecer-se num meio competitivo e global disso ninguém dúvida. E sabem que mais? Ontem Lady Gaga encheu a Meo Arena em Lisboa (algo que certamente acontecerá muitas mais vezes no futuro), algo que nunca poderemos dizer de Freddie Mercury.

Boa semana.
Boas leituras.