O Significado dos Sonhos

Acredito profundamente que todas as línguas tenham o seu quê de traiçoeiro (até porque se os seres humanos o são porque raio não podem as línguas ser?). E até vos digo mais: aposto que esse é um campeonato onde a língua portuguesa é campeã indiscutível há vários séculos. Não, não sei falar todas as línguas do mundo, mas conheço o suficiente da língua de Camões para saber quantas rasteiras ela nos tenta passar por minuto. Por exemplo: a palavra sonho tem vários significados. E, curiosamente, é precisamente sobre sonhos que o “Desnecessariamente Complicado” desta semana versará. Os estimados leitores deste estaminé ficaram curiosos, foi? Então vão ter de ler a minha crónica desta semana!

O primeiro significado que nos vem á mente é o da doçaria tradicional (principalmente se estivermos a caminhar para o Natal, como é o caso). Ainda a palavra vai a meio e já as nossas papilas gustativas salivam de prazer, não é? E até aí tudo bem. A pior parte é que em 99% dos casos nós não temos um sonho quentinho para degustar a seguir. Ou seja? Ficamos sem a aguardada sensação de prazer e com vontade de fazer uma birra igual a uma criança mimada num hipermercado. Mas, nas poucas, situações em que efectivamente temos um sonho para saborear é como se estivéssemos a trincar uma nuvem (sim, porque como toda a gente sabe as nuvens são doces…). Bem-dita seja a gastronomia lusa e os excelentes cozinheiros/chefs que Portugal possui! No meio de tantas coisas más (e mal feitas) neste país em tantas áreas diferentes não deixa de ser reconfortante (principalmente para o estômago) saber que na gastronomia acertamos muito mais do que erramos.

Depois temos os sonhos enquanto metas que pretendemos alcançar. No fundo objectivos de vida que, se tivermos sorte, iremos concretizar um dia. Claro que tudo depende não só dos sonhos em si, mas acima de tudo das pessoas. Aquilo que para alguém é um sonho simples de realizar, para outra pessoa pode ser inatingível. Contudo este é um tema bastante complexo, dado que existe diversas variáveis que acabam por mudar constantemente as regras do jogo. “Ah, mas não seria interessante dissertares aprofundadamente sobre isso?”. Admito que talvez fosse interessante, sim. Mas, com muita pena minha, tal terá que ficar para crónica futura. Porquê? Porque esta crónica será dedicada ao terceiro tipo de sonhos.

Sim porque ainda temos um terceiro significado para a mesma expressão. E se os primeiros enchiam o estômago estes apenas servem para…confundir a nossa mente. Sim, porque raras são as pessoas que se recordam exactamente do que sonharam. Ok, temos umas luzes do que aconteceu, mas sempre de forma vaga. Claro que certas pessoas conseguem recordar-se de tudo, do início ao fim, com detalhes espantosos. Mas vamos por partes.

Primeiro temos aqueles que não sonham de todo. São pessoas que juram a pés juntos que durante a noite…apenas dormem. O que é bastante difícil de aceitar para quem tem uma mente quase tão activa de noite quanto de dia, obviamente. O lado positivo de não sonhar é…o quanto se descansa. Sim, porque quem sonha abundantemente sabe que quanto mais se sonhar menos de descansa efectivamente durante a noite. O lado negativo é que torna-se inevitável pensar se o facto de não sonharmos é, em si mesmo, um sinal de algo. Querem saber a minha opinião? Não pensem nisso, a sério. Quanto mais pensarem pior será, acreditem!

Depois temos os que se encontram no extremo oposto do diapasão dos sonhos. Falo, evidentemente, dos que sonham todas as noites…durante toda a noite. E, regra geral, estas pessoas não só sonham muito como sonham com tudo e todos. Desde familiares e amigos a personalidades famosas vale tudo para a nossa mente. Se, a juntar a isto, conseguirem acumular o talento de se lembrarem do que sonharem é garantido que farão um brilharete no dia seguinte. Sim, porque estas pessoas fazem questão de contar os seus sonhos a quem os rodeia. Porquê? Simples, dá uma boa “conversa de elevador” (entenda-se: conversa que não tendo conteúdo serve para entreter e ocupar alguns minutos evitando um silêncio embaraçoso).

E, por fim, temos a esmagadora maioria da população mundial: os que sonham de vez em quando. Sim, certas noites são tão agitadas quanto algumas produções de Hollywood. Mas outras são tão calmas que até metem impressão. E ainda bem que assim é porque no equilíbrio é que está a virtude (olha, isto dá um excelente ditado popular, “no equilíbrio é que está a virtude”…bolas, isto soa mesmo bem!).

Eu, pessoalmente, admito que pertenço ao terceiro grupo. Felizmente, ou infelizmente, são mais as noites em que sonho do que aquelas em que durmo pacatamente. E sabem o que mais me chateia? O facto de eu apenas me recordar de detalhes dos meus sonhos. Onde estava? Não sei. O que estava a fazer? Não faço ideia. Com quem estava? Nem vale a pena ir por aí. Mas para compensar lembro-me que tinha uns ténis roxos calçados e que estava a degustar uma banana. Qual é a relação disso com o cerne do sonho? Suponho que nada. Mas até pode existir uma ligação perfeitamente plausível…eu é que não me recordo. Ou seja, basicamente sempre que sonho fico danado…comigo mesmo. O que é uma péssima maneira de começar o dia, sejam que horas forem.

O verdadeiro significado dos sonhos foi um tema que nunca me interessou muito, confesso. Primeiro porque, tal como já referi, nunca me consigo recordar de grande parte do que sonho. Segundo porque de cada vez que leio interpretações de sonhos não consigo parar de me lembrar das videntes. Porquê? Porque grande parte daquilo faz sentido, é um facto, mas…para toda a gente. É tudo tão vago e amplo que tanto faz sentido para mim como para qualquer outra pessoa. Até pode ser verdade, eu é que não fico convencido.

Mas como sou um cronista que pesquisa debrucei-me sobre este tema. Sim, eu fui mesmo a um (dos milhares de) site(s) em busca de significado para alguns temas aleatórios com os quais qualquer um de nós pode sonhar um dia destes.

Por exemplo: sonhar com pessoas que já faleceram pode significar que “temos saudades dessa pessoa” ou que “estamos finalmente preparados para ultrapassar esta fase”. Nada genérico. Nada contraditório. Mas continuemos: sonhar com uma cama ou com um lençol significa que “em breve teremos notícias de amigos ou familiares que não vemos há muito tempo” ou que “estamos a passar uma fase muito positiva e alegre da nossa vida”. Porque raio é que sonhar com uma cama significa que teremos notícias de familiares? Serei o único a não encontrar qualquer relação entre as duas variáveis? Mas num aspecto estamos de acordo: cama é igual a felicidade. Terceiro, e último, exemplo: sonhar com um jardim zoológico significa que “seremos promovidos no nosso emprego” ou que “a nossa relação amorosa terá uma vida longa e próspera”. Portanto jardim zoológico é igual a…promoção no emprego e amor por muitos e bons anos. Têm razão, isto de interpretar os sonhos faz todo o sentido e é completamente lógico….só que não, obviamente! Cheira-me que se tivesse utilizado outro site os resultados teriam sido diferentes…

Termino com três notas finais. Primeiro: não, não vou revelar o site que utilizei. Porquê? Porque o site em questão não paga ao Mais Opinião pela publicidade gratuita que eu lhe estaria a fazer. Ou seja? Têm que confiar em mim quando vos digo que consultei um site especializado no tema. Podia ter inventado tudo o que está acima mas, garanto-vos, que não foi o caso. Segundo: claro que isto não é um ataque a nada nem a ninguém (nem a quem acredita, nem a quem fornece esse tipo de leituras e interpretações dos sonhos), é apenas uma opinião e uma convicção com algum humor à mistura, vale o que vale. Terceiro: nunca percam a habilidade de sonhar. Não interessa qual é o sonho, ou quão improvável ele é, mas não desistam dele. Trabalhem. Esforcem-se. Deem o vosso melhor. Se o fizeram estarão, certamente, um passo mais perto de o atingir.

Boa semana.
Boas leituras.