Sim, vou escrever sobre a praxe! – Maria João Costa

Fui bicho, tive que apalpar muitos peitos (dos pés), tive vontade de usar tampões nos ouvidos, e enchi os meus pais de orgulho quando tracei a capa pela primeira vez. Foi bonito, foi bom, foi o melhor ano da minha vida.

Tentei evitar, mas tenho mesmo que «deitar cá para fora», tenho que esclarecer, tenho esse dever, como ex-aluna da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, como eterna caloira de Ciências da Comunicação, devo isso à academia, aos meus doutores e a mim.

O objetivo é simples e claro, dar a conhecer, envolver, conviver, transmitir, divertir; é fazer crescer. Não, ninguém quer humilhar, ninguém quer que fiquem sem auto-estima, ninguém quer fazer com que este ou aquele sejam «homenzinhos», porque não é ali que se define ninguém, não é ali que se prepara este ou aquele para a vida, é ali que se prepara este e aquele para uma vida académica, que para muitos, são os melhores anos das suas vidas.

Sim, é verdade, vivemos num país do «8 ou 80», de homenzinhos que se fazem passar por homenzarrões, miúdos sem a mínima noção da responsabilidade; mas acima de tudo vivemos num país democrático, e cada um é livre de dizer «Não, eu não faço».

Não me atrevo a falar dos seis jovens que morreram, nem me atrevo a julgar seja quem for, e muito menos consigo imaginar a dor que os pais estão a sentir. Mas consigo perceber que esses mesmos jovens tinham uma vontade enorme de fazer parte da Praxe, e se o queriam assim tanto foi porque enquanto foram caloiros e doutores, foram felizes. Foi durante a Praxe que conheceram os amigos do estudo, das limpezas de casa, das noites de cinema, das noites dos «copos», das manhãs de sono, das diretas para os exames, os amigos que podiam ser amigos «para a vida».

Eu fiz amigos assim, eu tenho amigos assim. Fui bem praxada, nunca me senti humilhada, e cheguei mesmo a «auto-praxar-me», porque me divertia, porque conhecia pessoas novas, porque me ajudava a integrar. Tenho pena que pensem em terminar com as praxes, assim como tenho pena que haja quem praxe sem saber o que está a fazer. Tenho pena.

Crónica de Maria João Costa
Oh não, já é segunda feira outra vez!