Sinais de confiança? – Nuno Araújo

Estão a ser dados os primeiros reais sinais de que a crise do Euro está a começar a ser ultrapassada.
Os próprios elementos do governo de Passos Coelho sabem disso mesmo. Mas vamos por partes.

Por um lado, temos a componente internacional da crise da zona Euro. Um sinal primeiro de que a
crise está a ser vencida é de que Espanha viu os juros dos títulos da sua dívida pública descerem
pela primeira vez desde que ultrapassaram os 7 %, algo que nunca visto até agora. O governo
espanhol está a aguardar até Setembro, mês de entrada em vigor do FEEF europeu, que poderá
comprar títulos de dívida pública de qualquer país da zona euro.

Um outro sinal que evidencia o caminho que a zona Euro está a seguir tem a ver com a
desvalorização do Euro. Como o Euro está notoriamente mais fraco, as exportações têm preços
mais baixos e as importações vêem os preços subir, logo isto contribui para um reequilíbrio da
balança comercia da zona Euro e seus membros (tal como Portugal, já contando com balança
comercial positiva).

França e Alemanha deram o sinal mais forte para a sobrevivência do Euro. François Hollande e
Angela Merkel, respectivamente, afirmaram que tudo farão para manter o Euro como moeda da
zona Euro. De facto, este anúncio, associado à declaração que foi, de resto, no mesmo sentido, por
parte do líder do BCE, Mario Draghi, é aquilo que os mercados tanto ansiavam: uma declaração
conjunta em como a zona Euro é uma fortaleza com fortificações sólidas a proteger o Euro. Claro
que a zona Euro é um edifício com muitas falhas na sua construção, mas a estrutura é sólida, e o
Euro tem mais pontos fortes do que fracos.

Por outro lado, no caso português, Passos Coelho e o executivo PSD-CDS sabem que Portugal irá
cumrprir todas as metas acordadas com a Troika, tanto em relação ao défice, como em relação às
questões de reforma administrativa, de privatizações, entre outras. Uma evidência é a de que a
probabilidade apurada de uma bancarrota de Portugal está abaixo dos 50%, andando próxima de 42-
45%, desde meados de Julho. Basta lembrar que ainda em Maio, essa probabilidade de bancarrota
financeira apresentava números a roçar uns impressionantes 63 pontos percentuais.

O caso português tem ainda de contar com uma valorização das exportações, que equilibraram a
balança comercial portuguesa (já se exporta mais do que aquilo que se importa). Isto faz com que a
recessão aponte para valores abaixo dos previstos 3%.

Mas os “calcanhares de aquiles” de Passos Coelho são o desemprego e a gestão da política
portuguesa. Não abordarei em profundidade “tiros no pé” que foram a contratação de médicos,
enfermeiros e psicólogos para centros de saúde a 4 euros a hora e a recibo verde, ou mesmo a
“derrota” de Nuno Crato com a FENPROF e os “horários zero”, porque os ministérios da Saúde e
Educação têm mesmo que ceder perante classes profissionais que são muito fortes, mas também
porque o governo agora tem folga orçamental para satisfazer exigências de sindicatos e, com isso,
melhorar a imagem perante o eleitorado que poderá, ou não, dar a vitória ao PSD-CDS nas eleições
autárquicas em 2013 (já no ano que vem).

A enorme taxa de desemprego mostra que o ministério da economia não existe porque nada faz para
recuperar a economia portuguesa, e que a criação de postos de trabalho é uma tarefa “hérculeana”
para o governo PSD-CDS. Não há medidas a serem implementadas, como por exemplo a tão falada
baixa da Taxa Social Única, porque medidas como essa também fariam com que as receitas do
Fisco baixassem, ao invés de fazer crescer a economia e o emprego, contrariando assim previsões
económicas para o ano corrente. Logo, a dinamização dessa área do emprego é urgente, e a
implementação de novas medidas que incentivem à contratação, e não ao despedimento, são o passo
certo a dar, para que o país possa retomar o caminho do crescimento.

Mais de um ano passado sobre a “entrada da Troika” em Portugal, os problemas da credibilidade
internacional foram já resolvidos em sede própria. Mas dossiers complicados esperam o governo,
como as privatizações da TAP e RTP, algumas questões de credibilidade de certos ministros ainda
em funções, ou mesmo até as eleições autárquicas do próximo ano que, associadas aos municípios
que terão ou não de solicitar linhas de crédito especiais ao executivo PSD-CDS. A Madeira em
chamas também mostrou como um combate a incêndios se pode tornar num difícil caso de gestão
política.

O caminho está agora em aberto. Após cerca de vinte mil milhões de euros de ajuda prestados a
Portugal, metade do tecido económico português está de rastos, e a outra metade continua a tentar
não esmorecer perante os esforços.

Os grandes desafios internos serão, sem dúvida: como privatizar TAP e RTP, e como proceder para
o desemprego, pelo menos, não crescer?


Crónica de Nuno Araújo
Da Ocidental Praia Lusitana