Sobre a PT

Tenho lido bastante sobre a PT. Até o que os vários comentadores têm dito sobre a mesma. E, pelo que tenho lido, estão todos a menosprezar o poder da telecom portuguesa.

A Portugal Telecom, fundada pelo governo de Anibal Cavaco Silva para fundir todas as empresas de telecomunicações estatais em 1994, viu iniciada a sua privatização no ano seguinte pelo mesmo governo e terminada em 2000 pelo governo de António Guterres. Em 2003, um “casamento” com a Telefónica levou ao investimento no Brasil, à criação da Vivo. O “divórcio” definitivo aconteceu em 2010, quando a telecom espanhola comprou a parte da telecom portuguesa na Vivo, mas as relações já andavam “azedas” desde que a espanhola votou a favor da OPA da Sonaecom em 2007 (que acabou chumbada). A primeira proposta de compra da parte da Vivo foi vetada pelo governo de Sócrates (fazendo uso da sua golden share) pois não acharam benéfico para a PT a saída do mercado brasileiro, de onde provinham mais de 50% dos lucros da telecom portuguesa na altura. Na segunda proposta a Telefónica aumentou o valor a pagar pela parte portuguesa na Vivo e a administração da PT propôs a aquisição de cerca de 23% da Oi, uma telecom brasileira com forte presença no fixo, para que a proposta passasse no crivo governamental. Em 2013, já depois do governo de Pedro Passos Coelho ter extinguido a golden share e ter aprovado a saída da Caixa Geral de Depósitos do quadro de accionistas, a PT e a Oi anunciaram um acordo de fusão, tendo o mesmo sido rectificado em 2014, depois do episódio do investimento da PT de Henrique Granadeiro na insolvente Rio Forte. Do acordo de 2013, fazia parte a transferência da PT Portugal para a esfera da Oi.

Feita a introdução, vamos ao essencial. Há analistas que dizem que certas propostas sobre a PT Portugal fazem parecer que há petróleo por baixo da sede.
Pode não haver petróleo, mas há uma rede nacional de telecomunicações fixas – de cobre e de fibra óptica-, móveis e de radiodifusão. A PT, efectivamente, com maior ou menos qualidade, chega, por exemplo, no fixo onde nenhuma outra operadora chega. Há uma PT Inovação em Aveiro, responsável por grandes inovações como, por exemplo, a invenção dos telemóveis pré-pagos (de carregamentos por multibanco), bem como pela constante evolução tecnológica no grupo. Há também uma extensa rede de infraestruturas de suporte comercial e técnico à rede (lojas, centrais telefónicas, centrais e antenas de radiodifusão e de sinal móvel). Para além disso, há um novíssimo e fortemente apetrechado datacenter na Covilhã. Há uma estrutura de contact centers sob gestão da PT que atende milhões de clientes todos os dias, quer os da própria telecom, quer de clientes externos. A PT está presente em quase todo o país o que, teoricamente, garante uma maior capacidade de resposta em termos técnicos, quando comparado com outras operadoras.

Dirão que isto são argumentos circunstanciais e que, na prática, a operadora não tem tão grande vantagem sobre a concorrência. Segundo sei, a PT continua a ser, nos vários segmentos, líder de mercado. Mas nem é isso que está em causa. A PT herdou, do tempo em que ainda era TLP e Telecom Portugal, um conjunto de infraestruturas e rede de telecomunicações que, paulatinamente, foi aperfeiçoando e expandindo. E por muito baixo que seja o valor que a especulação dos mercados atribua à empresa, ela continua a deter as infraestruturas, a rede, os recursos humanos e o know how. E isso torna-a muito apetecível a qualquer investidor. Qualquer investidor vê na PT (especialmente agora que está desvalorizada no mercado) como uma grande fonte de rendimento, se bem gerida, aproveitando todos os activos da empresa.

 

Crónica de João Cerveira