A Sociedade e os Irmãos Gémeos: “Como assim tão diferentes?”

Caros leitores, pelo título entende-se de imediato o assunto que vos quero abordar. Quero falar-vos de um aglomerado de pessoas que todos integramos e que se predispõe a ter uma opinião.

Falo em nome próprio. Falo em experiência de vida própria e partilhada. Eu tenho um irmão gémeo. Somos gémeos dizigóticos, ou como a maioria diz, “gémeos falsos”. E nós lidamos com a sociedade, seja para a admiração e o elogio, seja para a comparação que tendem a fazer

Nada está errado quando temos uma opinião. Nada está errado quando a verbalizamos, mas corremos um grande risco de errar quando associamos algo para uma comparação. Isso acontece com os irmãos gémeos!

A sociedade integra a opinião concebida de que, o facto de ter um irmão gémeo nos permite fazer comparações. Mas no fundo, estamos a falar de pessoas diferentes, que tem um fenótipo diferente.

Falando em termos biológicos, estamos a falar de fenótipo quando nos referimos às caraterísticas observáveis que são influenciadas por fatores externos e por fatores genéticos. Se falamos em influência externa, não podemos generalizar a forma como os fatores ambientais não herdáveis afetam cada um dos gémeos. E é partir daí que se constrói a personalidade de cada um. Essa personalidade pode ser tão idêntica quanto diferente, tanto em gémeos monozigóticos (gémeos “verdadeiros”), como gémeos dizigóticos (gémeos “falsos”).

Para melhor compreender o que vivem, como vivem, qual a opinião acerca de si próprios, o que sentem de especial, como acham que a sociedade os vê, estabeleci o contraponto de falar com a Joana e a Maria (nomes fictícios para duas gémeas “verdadeiras”) e o Pedro e a Inês ( nomes fictícios para dois gémeos “falsos”).

Comecemos por perceber se o facto de serem gémeos verdadeiros ou falsos permite afirmar que existe uma maior ou menor ligação:

O Pedro e a Inês começaram por dizer que “pode haver uma real diferença entre gémeos dizigóticos e, em contraponto, gémeos monozigóticos. Mas, em nada tem a ver com o facto de uns serem “verdadeiros” e outros “falsos”. Pode haver uma grande ligação entre gémeos verdadeiros, como uma fraca ligação. Assim como acontece com os gémeos falsos. Tudo tem a ver com as experiências de vida, o companheirismo que se cria, a forma como se cresce no seio familiar.”

Falando na sociedade e naquilo que é a opinião formada quando se fala em irmãos gémeos, a Joana e a Maria começaram por dizer que, de facto, existe uma certa pressão da sociedade, porque ao serem gémeas idênticas associa-se a ideia de que “se uma consegue, a outra também tem de conseguir”. Tende a haver uma comparação constante, o que não permite perceber em primeira instância que são duas pessoas distintas.

Se falarmos de uma sociedade restrita como a nossa família, mais concretamente os nossos pais, será que existe algum tipo de pressão dos pais para com filhos gémeos no que diz respeito a escolhas pessoais, por exemplo, em terem caminhos profissionais parecidos ou iguais para no fundo alcançar uma estabilidade financeira não muito diferente?

A Joana e a Maria disseram que “pelo menos no nosso caso, não existe qualquer tipo de pressão para termos caminhos, profissões ou futuros parecidos. A pressão está em conseguirmos as duas ter um bom futuro, mas não que o mesmo seja parecido. Se uma for para a faculdade, a outra também terá de ir, e se não for haverá alguém a dizer “se a tua irmã vai, tu também tens de ir”. No entanto, no que toca ao futuro de cada uma, em nada tem de ser igual. Apenas tem de ser bom, independentemente, das escolhas serem iguais ou diferentes.”

E será que as caraterísticas físicas idênticas ou distintas vão ao encontro de personalidades dentro do mesmo padrão? O Pedro e a Inês começaram por dizer que “não há seres humanos totalmente o espelho um do outro. E a personalidade constrói-se, a meu ver, no modo de pensar, no modo de viver, no modo de sentir.” No caso dos gémeos falsos, eles são duas pessoas totalmente diferentes a nível físico (uma pessoa do sexo masculino e outra do sexo feminino) e confirma-se também em testemunho próprio que são duas pessoas diferentes em termos de personalidade: “um é mais extrovertido que o outro, um é mais emocional que o outro, um é mais determinado que outro, um é mais calmo que o outro.”

Algo que genuinamente se ouve por parte da sociedade é “existe entre vocês aquela coisa de sentir o que o outro está a sentir, principalmente quando está mal, ou pensarem na mesma coisa ao mesmo tempo?”.

Pois é, caro leitor, não é mito! Confirma-se! E ambos os gémeos confirmaram já ter tido experiências dessas. A Inês e o Pedro, disseram: “Existe e sempre existiu! A telepatia e a questão de sentir (ou pressentir) o que o outro sente, na nossa opinião, é explicado por uma formação biológica e que nos afirma como “irmãos gémeos”. Há diferença mas há coisas que estão intrínsecas à formação no ventre materno e é ai que a primeira ligação se forma e que nos permite “cá fora” sentir a angústia do outro, sentir o orgulho do outro. E eu, Inês, lembro-me, francamente, de alguns episódios em que o nó na garganta aparece ou aparecia porque ele estava a sofrer (e eu estava a sofrer com ele). É uma coisa muito difícil de explicar mas sente-se.”

A Joana e a Maria afirmaram exatamente o mesmo e contaram um episódio de como esse sentimento (ou pressentimento) é real: “Quando éramos pequeninas, eu dormi em casa da minha tia e ela dormiu em casa da minha avó (era na mesma rua). Acho que nunca tínhamos estado separadas e nem uma, nem outra conseguia dormir. Já era bem de noite quando a minha tia decidiu ir por-me à minha avó para ir dormir com a minha irmã. No entanto, sem qualquer telefonema, a minha avó e a minha irmã fizeram o mesmo. Então encontrámo-nos a meio da noite na rua. Não sei se é só coincidência sentirmos certas coisas, se há alguma explicação, se é por sermos muito pegadas desde sempre. O certo é que, por vezes, acontece.”

Caro leitor, permita-me concluir, com estes testemunhos, introduzidos de forma aleatória, que a pressão da sociedade é sentida e não é algo de todo positivo. Ao serem pessoas diferentes, sentem o direito de serem tratados individualmente, no que diz respeito a comentários acerca da personalidade, de escolhas pessoais ou mesmo da forma como encaram os acontecimentos da vida.

“A sociedade tem muito a perceção de que ser irmão gémeo é algo extraordinário (e é, de facto!) Não há ninguém mais ligado a nós (e não falo fisicamente) do que um irmão gémeo, mas é perfeitamente legítima a diferença enquanto pessoas! E ainda bem…Quer dizer que temos a nossa personalidade.” – disse a Inês.