A Sociologia do Mistério: introdução ao preconceito – Viriato Queiroga

Postula-se, sem perguntar a opinião de quem toma a opção, que a introspeção é algo prejudicial.

Nada a opor, olhando de um ponto de vista meramente societário, num contexto de integração, no qual se premeia o melhor dos integrados, o melhor dos filhos, amigos, irmãos… enfim, a melhor das pessoas sociáveis.

Pensando que só se encontra saudável quem está socialmente integrado, dado que tal ato é encarado como um indicador de saúde mental, naturalmente que se exclui os indivíduos menos sociáveis, introvertidos, introspetivos, misteriosos.

Misteriosos… É talvez a palavra que fará mais sentido. É muito curioso que os seres humanos classifiquem quem é socialmente mais ativo como sendo mentalmente mais saudável, sendo que são precisamente este tipo de pessoas aquelas que são mais facilmente controláveis por um motivo muito simples: mais socialização implica maior troca de informação.

Mais troca de informação, implica maiores ganhos de informação de parte a parte. A interacção mútua, gera, invariavelmente, competição. Quem detém mais informação… Ganha poder sobre o outro. Não desprezando, jamais, a importância do intercâmbio de informação (aliás, dela dependo para saber das últimas da “Casa dos Segredos”, programa de qualidade… Duvidosa) tenho a tendência, sim, a desprezar os preconceitos que se me apresentam.

Existe aqui uma conclusão muito simples: quem não é “sociável” deve ser excluído (neste caso, o carimbo de emocionalmente instável, desenquadrado ou, simplesmente, estranho, serve este propósito de uma forma extremamente eficaz) visto que não partilha tanta informação, tornando-se assim, uma incógnita, um mistério. E, como sabemos através dos nossos indicadores económicos, nomeadamente, no que diz respeito à iniciativa privada: temos medo do desconhecido. Se desconhece… Bem, o que vamos fazer? Investir em descobrir aquilo que não conhece de forma a trazer dividendos num futuro próximo?

“Que ideia tão idiota, caro cronista. A produtividade está no que você conhece… Restrinja-se ao que lhe é dado”.

… Nah… Dá trabalho e não dá a satisfação sexual parecida àquela quando o zé vê o Gaitán a correr no meio de um verde prado listado. (agora repitam isto com som nasalado, como se tivessem acabado de arrotar meio litro de cerveja e com maneirismos bairristas… Notam alguma diferença?)

Enterra-se a cabeça do tipo na areia. Sempre é mais… como dizer? Fofinho! É, definitivamente, uma boa expressão.

Quais as características dos indivíduos que defini como sendo misteriosos? Seria contraditório, da minha parte definir algo que se quer… Misterioso, todavia, darei uma pista, estes indivíduos detém uma característica:

São Diferentes

… e como se sabe, a diferença mata.

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