Socorro! Tenho um gato…e agora?

Esta semana o “Desnecessariamente Complicado” centra-se em algo que toda a gente gosta de ver, principalmente na internet. Falo, como já deve ter adivinhado, de gatos. Mas não é um gato qualquer! Não senhor! É o meu gato. Ou melhor, a minha gata (afinal de contas é uma menina). Ao longo da minha infância e adolescência os animais foram presença constante: tartarugas, peixinhos, periquitos, uma caturra e mais tarde uma cadela Serra da Estrela pura. Mas nunca tivemos gatos. Não é que não gostássemos de gatos, simplesmente nunca os tínhamos tido. Até agora. Ou melhor, até há dois meses atrás. Agora temos entre nós a Lua, de três meses de idade.

Para alguém que, como eu, sempre teve animais, mas nunca teve gatos, estes dois meses têm sido uma autêntica aventura. Mas vamos por partes. Tudo começou quando uma amiga da minha mãe comentou com ela que a sua gatinha estava grávida e que, muito em breve, teria alguns gatinhos para dar. Esta afirmação passou despercebida, pelo menos numa fase inicial. Tudo mudou quando ela diz que está a pensar dar os referidos bebés a uma instituição (dado não ter capacidade para ficar com todos).

Perante uma afirmação com este poder ninguém fica indiferente. E a minha progenitora não foi excepção. Desse dia em diante esse passou a ser o tema a todas as refeições em família. Inicialmente estávamos de pé atrás. Afinal de contas vivemos num apartamento. Bem, mas isso não seria impedimento, certo? Milhares de pessoas vivem em apartamentos e não deixam de ter gatinhos por causa disso. E de vez em quando saímos e a casa fica vazia. Se bem que eu sempre ouvi dizer que os gatos são muito independentes, e sabem desenrascar-se sozinhos….

Portanto, para cada interrogação e dificuldade surgia uma resposta e uma solução. Com o passar do tempo tornou-se claro que tínhamos de ficar com um daqueles gatinhos. Não precisávamos de ficar com ele e não sabíamos como ele (e nós!) ia reagir, mas tínhamos de o fazer. E, como tal, quando chegou a hora de decidir, o “sim” ganhou com maioria absoluta.

Primeira dificuldade? Nome. Que nome lhe íamos dar? As possibilidades eram infinitas (dos clássicos Tareco e Bichano aos mais arrojados, tudo se podia tornar numa opção válida) e as ideias eram poucas.  Eu assumi a tarefa e parti, internet fora, em busca de um nome que se adequasse a uma gatinha recém-nascida. Pesquisei nomes de personagens de desenhos animados da minha infância e nomes de filmes ou actrizes que admiro. Mas nenhum nome parecia adequar-se a uma gatinha. Até que a minha progenitora se lembrou de “lua”. A sugestão agradou a todos e rapidamente foi tornado oficial: a gatinha podia ainda não estar nas nossas mãos, mas já tinha nome!

O segundo obstáculo foi um autêntico puzzle, tamanha era a quantidade de coisas que precisávamos de comprar antes de a receber. Primeiro foi a caminha e um cobertor quentinho onde ela se pudesse aquecer. Depois a comida e as tijelas para ela comer e beber. A casa de banho foi a compra seguinte. Para o final ficou uma coleira cor-de-rosa (afinal de contas é uma “menina”…), um local para brincar, descansar e arranhar as unhas e alguns bonecos para brincar. Ou seja, foi uma pipa de massa. Mas, uma vez que nunca tínhamos tido gatos, e que não possuíamos qualquer objecto que respondesse às suas necessidades, tudo isto era expectável. Perdemos o amor ao dinheiro e lá fizemos as compras. Ainda nem sequer tinha chegado e já estava a dar despesas…

Mas surpreendentemente foi tudo muito natural para nós. Demorámos alguns dias a adaptarmo-nos a ela. Mas ela também não confiou cegamente em nós logo nos primeiros dias. Aos poucos fomo-nos conquistando mutuamente. Cada um ao seu ritmo aprendemos a mudar pequenos hábitos do dia-a-dia em sua função. Aumentámos as doses diárias de paciência (sim porque se há alguém que não tem culpa das agruras da vida era ela) e jurámos dar o nosso melhor a fim de lhe ensinar os mais básicos comportamentos.

Entretanto passaram dois meses. Nós rendemo-nos à beleza dos seus movimentos, à graciosidade das suas expressões, à generosidade com que distribui carinho em semelhantes doses por todos nós. Dividimos pacificamente o controlo da casa, e do sofá, sabendo sempre respeitar o espaço um do outro. Ambos podíamos viver sem o outro, mas certamente que não seria igual. Fazes-nos rir tantas vezes quantas as que nos fazes gritar o teu nome por alguma patifaria que fizeste.

Caíste de paraquedas numa família que nunca tinha tido gatos e soubeste conquistar-nos sorrateiramente. Os dias não seriam os mesmos sem ti, sem o teu miar matinal (ou tardio, quando já deverias de estar a dormir), sem o teu ronronar que nos derrete, sem os tapetes da casa de banho constantemente desarrumados ou sem as correrias para trás e para a frente sem qualquer destino concreto definido.

Hoje já não consigo imaginar a minha vida sem a Lua. É como se estivesse connosco há décadas. Aprendi a lidar com gatos, nomeadamente com o seu feitio temperamental e com a mania de que mandam em tudo, e todos, em seu redor.

Obrigado por tudo o que nos deste ao longo deste tempo. Obrigado pela paciência que demonstraste para connosco quando todos entrámos em pânico com a tua chegada. Prometo-te comida, água, amor e carinho nas doses necessárias. Espero que as sestas ao meu colo nunca acabem porque essa é uma das melhores partes de ter um gato.

Aconteça o que acontecer não façam mal aos animais. Precisamos tanto deles quanto eles precisam de nós. A diferença é que eles não nos fazem mal a nós de forma gratuita. Já os humanos dão diariamente provas da sua crueldade para com os animais. Tomem conta dos vossos animais de estimação e façam um esforço para os alimentarem e acarinharem. Retribuam em géneros o carinho, e companhia, que ele vos dá. E, aconteça o que acontecer, não os abandonem, por favor.

Boa semana.
Boas leituras.