Somos aquilo que nos lembramos – A importância da memória

” Somos aquilo que nos lembramos “

Estudos recentes concluíram que algumas memórias podem ser maleáveis, isto é, as memórias de infância podem ser reconfiguradas conforme a nossa percepção do passado e estado de espírito no presente. Sendo a memória uma complexa rede neuronal que está em constante modificação, não deixa de ser surpreendente o facto de que a cada lembrança do passado facilmente os elementos existentes possam ser alterados, assim como novos elementos podem ser incorporados, criando as denominadas falsas memórias.

Catherine Loveday, especialista em memória autobiográfica da Universidade de Westminster em Londres afirma que, a memória de um evento ocorrido antes de uma criança completar os três anos de idade tem grande probabilidade de não ter acontecido. Curiosamente, a única lembrança que tenho da minha falecida avó vai ao encontro dessa afirmação, a minha avó materna faleceu quando eu tinha dois anos e uns meses, no entanto eu recordo-me como se tivesse acontecido ontem: de ir pela rua, a antiga rua onde morei dezasseis anos, de mão dada com a minha avó, íamos a uma mercearia ( agora inexistente ) para comprar peras, pelo caminho de volta a casa eu comia uma pera, sabor este que nunca mais consegui recriar nos meus trinta e cinco anos de vida. Sempre tive a forte convicção de que este episódio tinha de facto acontecido mas, segundo os especialistas, é provável que tal memória não passe de uma manobra do meu cérebro para minimizar o sofrimento que padeço por não ter tido a oportunidade de ter vivido tempo de vida com a minha avó.

O escritor José Eduardo Agualusa escreveu: ” Nós tendemos a acreditar que aquilo de que nos recordamos realmente aconteceu e não pomos em causa e somos, em grande medida, aquilo de que nos lembramos. E a verdade é que muitas coisas de que nos lembramos na realidade não aconteceram ou não aconteceram exactamente assim. Portanto, até certo ponto, nós próprios somos uma ficção, uma mentira. “

Será a nossa memória uma fraude conveniente?