Somos (quase) todos iguais – Bruno Neves

A sociedade educa-nos para que sejamos todos iguais. Aquele que não for “normal” será excluído ou descriminado. Acham que é exagero? Então olhem em vosso redor, observem e reflictam sobre a realidade da nossa sociedade. Este é o tema desta semana.

A sociedade está preparada para nos educar de uma só forma e de nós é esperado que sigamos os seus ensinamentos sem questionar nem procurar caminhos alternativos. Não há espaço para o “então e se fossemos antes por este caminho?”. Tudo já está predefinido, nós apenas temos de ouvir, aprender e obedecer. No fundo foram gerações e gerações de lutas e batalhas para chegarmos onde estamos hoje logo o nosso dever é ouvir e calar, certo?

Quem foge às regras não é bem aceite pela maioria e tem menos oportunidades na vida do que os restantes. Se, por exemplo, alguém não corresponde aos mais altos padrões de beleza da sociedade então certamente que terá mais dificuldade em encontrar emprego. Pode até ser o melhor profissional do mundo, pode ter sido formado nas melhores universidades do mundo e ter as melhores referências. Mas na altura de ser contratado vai ser ultrapassado por aquele rapaz alto, moreno e de olhos azuis que é viciado no ginásio.

Vai um outro exemplo? Tomemos como referência alguém que tem dificuldades de locomoção e que necessita de uma normal cadeira de rodas para se movimentar. Já imaginou quão difícil é a vida desta pessoa? Não pode andar nos passeios porque os mesmos estão esburacados e porque existem aqueles pilaretes que impedem o estacionamento em cima dos referidos passeios. E quando não existem os pilaretes os condutores fazem o favor de ocupar os passeios com as suas viaturas. Ou seja, resta-lhes andar no meio da estrada, algo francamente desaconselhável. E se por exemplo necessitam de efectuar uma banal operação numa caixa multibanco? E se quiserem ir a um café ou a um restaurante? E se precisarem de ir às Finanças para pagar os impostos? Podia estar um dia inteiro a dar exemplos, e infelizmente, na esmagadora maioria deles este cidadão (detentor dos mesmos direitos que todos nós, ditos “normais”) seria prejudicado e impedido de fazer a sua vida normalmente sem no mínimo pedir ajuda a alguém.

Existem mil e um casos que me podiam dar razão, mas neste momento lembro-me de um relativamente recente onde um cidadão foi obrigado a desistir de um processo em tribunal porque o cidadão se movia numa cadeira de rodas e dado que até á sala de audiências existia um longo percurso repleto de escadas era completamente impossível comparecer às audiências. Depois de muito lutar e de interpor alguns recursos foi mesmo obrigado a desistir do caso. E a isto chamamos justiça? Não me parece…

Como estes dois exemplos existem um milhão de outros onde basta diferir ligeiramente do que supostamente é “normal” para sermos descriminados pela sociedade. Hoje em dia o que conta é a imagem, são as aparências. No fundo aquilo que mostramos ser em vez daquilo que realmente somos. O cheiro a injustiça paira no ar não é? Pois é, mas infelizmente muito rapidamente todos nós nos vamos esquecer do que acabámos de ler e vamos voltar para os nossos comportamentos ditos “normais”.

Questionem. Arrisquem. Revoltem-se. Indignem-se. Ponham tudo em causa. Não se deixem ser levados pelos outros sem pelo menos perguntarem a vocês mesmos: “é mesmo para aqui que eu quero ir? É mesmo desta forma que eu quero fazer as coisas?”

E acima de tudo não tenham medo da resposta e tenham a coragem necessária quando for hora de arriscar! O mundo é vosso, logo não deixem que sejam os outros a dizerem o que podem fazer com ele.

Boa semana.
Boas leituras.

 

Crónica de Bruno Neves
Desnecessariamente Complicado
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