Somos soldados? – Nuno Araújo

A não-venda da TAP é o facto político, em Portugal, mais marcante da semana. Entretanto, Passos Coelho colocou o desafio: somos soldados lutando pelo futuro do nosso país? Sim, somos, lutando também contra Passos Coelho e contra tudo de errado que ele representa.

Política Nacional
A TAP, afinal, não foi vendida à sociedade do Sr. Gérman Eframovich. Pouco se sabe, de facto, acerca do pretendente à TAP que, ao que se veícula um pouco pela comunicação social, é milionário, empresário e tem nacionalidades russa, polaca, colombiana e brasileira também. Havendo informação a mais em relação a alguns pontos, e informação a menos em relação a outros tópicos, o PS desconfiou desse negócio. Na passada semana, pela voz de Maria Luís Albuquerque, secretária de estado do Tesouro, o governo anunciou a recusa da proposta de Eframovich. Porquê? Porque faltaram garantias bancárias. Essa explicação motivou um Eframovich “frustrado”, segundo o próprio.

O corte de 4 mil milhões de euros em despesa, por si só, já não é suficiente para garantir os objectivos orçamentais do governo. Bruxelas já avisou o governo de que será necessário cortar mais alguns milhões (mais cerca de 500 milhões de euros, isso se não tiver que ser ainda maior o corte a efectuar).

O parlamento aprovou, pela voz da maioria PSD-CDS, a reforma administrativa, que reduz de 4 mil para pouco mais de mil as freguesias existentes no país. Criam-se, assim, governos intermunicipais, para substituir as entidades extintas conhecidas como governos civis. Se um dos objectivos desejados era reduzir despesa, esta criação de governos intermunicipais deverá evidentemente anular a redução de despesa do estado para com as freguesias.

Os maiores 500 clientes do BPN já não pagam as suas dívidas. Juntos somam mais de 3 mil milhões de euros em dívidas, cuja cobrança será muito difícil de executar. Só apetece dizer: “quem rouba um tostão, é ladrão, mas quem rouba um milhão, é barão”.

José Aguiar Branco, ministro da defesa, decidiu não efectuar a tradicional visita às forças armadas portuguesas destacadas em solo estrangeiro. Só apetece dizer: poupam-se tostões, esbanja-se demagogia.


Por falar em demagogia, Passos Coelho comparou situação económica portuguesa a “uma guerra”. “Precisamos de encontrar em cada cidadão um soldado que esteja disposto a lutar pelo futuro do país”, diz o inspirado Passos Coelho. Encontrámos, nas manifestações sucessivas até à de 14 Novembro, milhares e milhares de portugueses dispostos a lutar pelo futuro de Portugal, pois desejam a saída de Passos Coelho do cargo de primeiro-ministro. Esses “soldados” querem as suas vidas de volta!

Política Internacional
John Kerry, ex-candidato dos democratas à presidência dos EUA, em 2004, é a escolha do presidente norte-americano Barack Obama para secretário de estado. Uma óptima escolha, de resto, pois Kerry sempre veio a acompanhar os dossiers da política diplomática. Firme opositor à guerra do Iraque, também foi enviado especial dos americanos ao Afeganistão, ele que era o presidente das relações externas do senado, em Washington.

Napolitano já dissolveu o parlamento italiano. O presidente transalpino aceitou o pedido de demissão de Mario Monti, e agora Monti? Será, de facto, ele candidato? Itália e a UE, em parte, agradeciam…

Por falar em agradecimentos, Espanha terá (ainda) mais tempo para controlar o seu défice orçamental. “Muchas gracias”, dirá Mariano Rajoy.

O tratado orçamental está quase a entrar em vigor. A data de início do mesmo será a 1 de Janeiro de 2013. Com esse tratado, a UE poderá respirar novas regras, mas no essencial, regras comuns, algo preponderante se na Europa quisermos todos viver em prosperidade por muitas mais décadas. Essas regras comuns podem não ser as mais apropriadas para o crescimento sustentado, mas a sua existência só pode pressupôr a sua melhoria e aperfeiçoamento futuros.

A Bulgária mostrou-se contra a adesão da Macedónia à UE. Assim, a Grécia ganha mais um apoio essencial face à sua firme oposição quanto à entrada dos macedónios na UE, num já longo diferendo diplomático entre Grécia e Macedónia. A república da ex-Jugoslávia poderia, segundo os gregos, reivindicar a soberania sobre a região estadual grega de nome Macedónia, que se situa na parte norte da Grécia, paredes meias com a dita república macedónia. Correcta ou não, a Grécia faz dessa desconfiança para com os macedónios não-gregos importante tónica do seu discurso diplomático, seja a Nova Democracia ou o PASOK a governar.

Crónica de Nuno Araújo
Da Ocidental Praia Lusitana