Sonae vs Jerónimo Martins – João Cerveira

Na última semana tem passado pelas redes sociais uma imagem que compara a Belmiro de Azevedo, Chairman da SONAE, com Soares dos Santos, chairman da Jerónimo Martins. Aqueles que seguem as minhas crónicas sabem que já escrevi sobre ambos e sabem a minha opinião. Agora decidi fazer o mesmo que a imagem e compará-los. Mas não o posso fazer sem contextualizar, com um pequeno resumo.

A Sonae começou por ser uma empresa da área da industria, que Belmiro de Azevedo adquiriu. Essa área de negócio continua presente no grupo, na medida em que a Sonae Industria continua a ser uma das lideres nos aglomerados de madeira. Mas actualmente,  como é sabido,  a Sonae está no retalho (com Sonae Distribuição, com marcas como Continente, Worten, Zippy, etc), nas telecomunicações e comunicação social (com a Sonaecom, com marcas como a Optimus, Público, etc) e no turismo (com a Sonae Turismo, no Tróia Resort, por exemplo). Possivelmente existem mais negócios no grupo, mas estes serão os maiores ou, pelo menos, os mais conhecidos. Segundo notícia do DN, em 2009 o grupo empregava quase 40 mil funcionários.

Um galego chamado Jerónimo Martins abriu em 1792 uma loja em Lisboa. Depois de muitas voltas e revira-voltas (quem quiser saber mais, a história está no site), em 1921, a família Soares dos Santos, proprietários dos Grandes Armazéns Reunidos no Porto, entram na Jerónimo Martins, para salvar o negócio de falência certa. Actualmente, o grupo detém algumas marcas bem conhecidas como o azeite Gallo, os gelados Olá, Vaqueiro, Maizena, Knorr, entre outras (através da Unilever Jerónimo Martins), para além das lojas Pingo Doce e Recheio em Portugal, as lojas Biedronka na Polónia e, mais recentemente, as lojas Ara na Colômbia. Mas o grupo tem uma outra grande vantagem: têm a representação exclusiva no nosso país de marcas como a Hussel, Kellog’s, Pringles, Heinz, Guloso, Tabasco, Canderel, After Height, Merci, Baci ou Sunquick, entre outras. Isto implica que todas as outras empresas que queiram comercializar estes produtos tenham de os comprar à Jerónimo Martins. Segundo o site canalmachico.com o grupo emprega 66 mil pessoas, dos quais 27 mil em Portugal.

A imagem que falei anteriormente compara a abordagem em termos de salários. Eu olho para o grupo JM e vejo um negócio não tão grande – pelo menos não tão abrangente – como o da Sonae mas que, fruto de boas apostas, tem resultados tão bons ou melhores que a Sonae. A Sonae dispersa os seus investimentos por várias áreas, algumas delas bastante concorridas (como as telecomunicações) que não devolvem tão grandes lucros como o negócio da distribuição alimentar.
Então como é que a Sonae continua a abrir lojas Continente (embora tenha fechado as Vobis e algumas Worten) ? A Sonae pode ter alguns negócios não tão bem sucedidos, mas a sua gestão inteligente tem permitido que o grupo ainda tenha lucro e continue a tentar expandir o negócio que mais retorno lhe dá. Diz Belmiro que, nos tempos em que estamos, só com baixos salários. Sou obrigado a concordar, embora não goste. E concordo apenas neste sentido: em crise económica para se contratar em quantidade não se pode pagar muito dinheiro, para não abalar a base da empresa.
Mas então e como Soares dos Santos diz que paga mais? Também concordo. E, obviamente, gosto mais. Mas isto resulta do que foi dito anteriormente. A JM soube canalizar o negócio da distribuição alimentar, tanto em Portugal como no estrangeiro, ao ponto de terem anunciado que são lideres nesta área tanto no nosso país como na Polónia. Várias fontes dizem inclusivamente que a maioria dos lucros vêm da Polónia, especialmente agora que o consumo está a baixar no nosso país. No entanto, a empresa não abandona a politica de pagar acima da média das empresas na mesma área, para além dos sistema de prémios e repartição de percentagem dos lucros. E é, de facto, uma boa politica. Mantém as pessoas motivadas, empenhadas a trabalhar mais e melhor, pois serão recompensadas por isso.

Em suma, compreendo as razões de ambas as empresas para defenderem o que defendem. Obviamente gosto mais da politica JM, embora a politica Sonae não estar errada, do ponto de vista da orientação da empresa. Temos de ter sempre em conta que uma grande empresa, mesmo sendo grande (especialmente por ser grande), tem de ponderar bem as suas politicas e estratégias,  consoante as condições económicas da mesma e do mercado, pois um pequeno erro pode ser catastrófico.

 

 

Crónica de João Cerveira

Diz que…