Sou a Mariana, tenho 27 anos e sou prostituta – Capítulo 2 – Sandra Castro

Gostaste?

Sim, gostei.

Menti, claro. Tinha detestado esta primeira experiência como prostituta. Só queria que o cliente saísse da minha cama e desaparecesse porta fora, para enfiar-me debaixo do chuveiro e lavar o corpo e a alma. Lavei o corpo varias vezes, esfreguei com força para que o cheiro a sexo e ao perfume dele saíssem veloz mente, as lágrimas escorriam pelo rosto e eu só pensava que tinha de ir embora, não conseguia fazer aquilo.

Alguém bateu à porta. Era a Kelly, uma prostituta brasileira com quem simpatizei quando cheguei.

Então como correu, sua safada?

– Não gostei, Kelly, não consigo fazer isto.

– Calma, garota. Segura ai suas lágrimas! Não chora não! Quando eu cheguei aqui, foi muito difícil para mim também! Nossa, ainda me lembro do primeiro cara com quem fiquei. Mas com o tempo, você ganha coragem, conhece seus clientes e fica numa boa. Eu tenho dois filhos no Brasil, envio todo o mês dinheiro para eles,para mim sim é difícil mesmo, mas você é linda garota, não desiste não. Você vai ganhar uma boa grana com estes caras e resolver sua vida. Tá bom assim? Se aguenta, viu!

 Não dormi nada nessa noite…quem será o cliente amanhã? E a seguir a esse? E quanto eles vão pagar? Mas no dia seguinte não tive clientes, nem nessa semana. Não sei se eles olhavam para mim e sentiam que eu emanava alguma repulsa, não sei se era por ter a vestimenta mais careta, não sei se era pelo meu sorriso forçado.

Até que no Sábado à noite, um cliente me quis. Tiago, 49 anos. Mostrei-lhe o meu quarto e disse o valor. Quis pagar duas horas, 1000 euros. Uau! Não podia acreditar! 1000 euros! Mas o que é que eu vou fazer com um gajo que não conheço durante duas horas? Ele vai querer fazer coisas que eu nunca fiz na minha inútil vida! Este pensamento negativo deixou-me arrasada. Olhei para o cliente enquanto ele pagava em notas de 200 euros e em simultâneo pensei: Tem que valer! Tem que valer!

Antes que eu pudesse falar, ele chegou-se ao pé de mim, beijou-me e atirou-me para a cama.

Quero-te nua.

Eu assim fiz. Enquanto ele despia a roupa eu observava-o e pensava: quero sair daqui, quero sair daqui, quero sair daqui.

Ele deitou-se em cima de mim, beijou-me, penetrou-me com força e eu respirei fundo. Agarrou-me nos cabelos, virou-me ao contrario e voltou a penetrar-me…eu gemi. Eu gostei, isto que eu sinto é prazer? Oh, pá, isto é bom! Enquanto ele investia eu ria-me, seria da posição? Seria do cliente? Seria eu?

Sou casado.

Disse-me enquanto fumava um cigarro.

Mas não sou feliz, o casamento é uma merda. Vir aqui é o meu escape. Gostei muito boneca. Gosto de variar, eu volto para a semana.

Quando o cliente saiu, fiquei eufórica. Estava exausta mas tinha ganho 600 euros!  Nem num mês de trabalho árduo ganhava isso! E ganhei aquele dinheiro em menos de duas horas! E senti prazer, senti, senti, senti.

A ambição falou mais alto que o meu bem-estar, em dois meses comecei a ganhar 7000 euros por semana.

Tive clientes que nunca mais voltaram. Clientes que vinham ter uma sessão comigo todas as semanas, clientes que pagavam e só queriam conversar. Clientes que só queriam sexo oral, clientes que tinham fetiches e gostos muito particulares, como o Luís, que atingia o orgasmo quando lhe fazia cocegas nos pés, como o Francisco que gostava de jogar cartas depois do sexo. O Nuno que só tinha sexo no chão do quarto, o Carlos que gostava de ter sexo sempre com duas mulheres e ainda o Duarte, que só queria ver filmes pornográficos acompanhado.

Acho que os clientes gostavam de mim porque eu tinha um ar inocente, quase imaculado, sem muita maquilhagem, com lingerie usual, nada de ligas nem corpetes de renda. Não havia vibradores nem cadeiras próprias para fornicar. Era apenas eu!

Numa bela tarde de Primavera, segunda-feira, o Pedro fez-nos uma visita. Lembrei-me imediatamente dele e do episódio à porta do supermercado, já tinha passado mais de seis meses.

Como estás?

– Estou bem e consigo?

– Trata-me por tu. Já deu para reparar que estás bem, estás diferente pelo menos.

– Estar diferente  é bom ou é mau? Perguntei intrigada.

– É bom. No teu caso é muito bom.

Corei.

Eu disse-te que ias contactar-me. Raramente me engano com as mulheres.

– Isto é uma situação temporária. Respondi secamente.

– Todas as putas dizem isso.

– E tu ganhas dinheiro à conta disso, portanto isso faz de ti tão mau como nós!

– Gostas de ficar por cima…nas respostas!

– Desculpe cavalheiro, mas tenho agora uma sessão de putaria, marcada já há algum tempo. Com licença. Até à próxima.

Saí do bar furiosa, mas quem julga ele que é? Chulo idiota!

Nesse mesmo dia à noite, ele voltou. Eu estava no bar da casa à conversa com a Mia, quando o vi aproximar-se. Ele beijou a Mia na boca e eu fingi não ver.

Esta noite quero uma sessão contigo.

– Comigo? Perguntei espantada.

Sim, tu. Quero ter sexo contigo. Já comi as putas todas nesta casa, só me faltas tu.

A Mia riu-se mas eu não tinha achado graça nenhuma!

Não estou disponível.

– Para mim estás, eu sou um cliente!

– Não tens dinheiro que chegue para me pagar!

– Eu não te vou pagar, vou-te comer de graça. No final tu é que vais ter de me pagar, querida!

Quanto mais ele falava mais irritada eu ficava. Não vou responder mais a este gajo.

Fomos para o meu quarto.

Despiu-me, beijou-me suavemente os ombros, as costas…sim,os beijos dele eram suaves e doces. Fizemos amor fogosamente, eu queria fingir que não estava a gostar mas não conseguia, era muito intenso, muito envolvente, muito sensual todos os movimentos, todos os beijos.

– Anda para cima de mim, gostosa, eu vou-te dar um orgasmo como nunca nenhum gajo te deu.

O meu corpo todo estremeceu, uma energia intensa difundiu-se  por toda a minha pele e eu senti me a contrair vertiginosamente. Estava extasiada, suada, prazerosa e satisfeita. Então isto é que é um orgasmo? Oh, meu Deus! Eu nunca tinha tido um orgasmo afinal.

O Pedro não disse nada, saiu da cama, vestiu-se e sem olhar para mim disse-me até logo.

Mas que tipo tão estranho, pensei eu. Já percebi que é muito bom na cama, mas fora dela é uma merda.

Na noite seguinte, ele voltou mas nem me cumprimentou, segredou ao ouvido da Sandy e foram os dois para o quarto dela. Foi nesse momento que eu percebi que estava a apaixonar-me.

Continua

Crónica de Sandra Castro
Ashram Portuense