Speedway: a Arte de Bem Deslizar

Seja bem vindo Caro/a Leitor/a. Depois de ter falado um pouco sobre Le Mans, desta vez venho mostrar um desporto motorizado que não tem qualquer tipo de expressão em Portugal. Speedway é um desporto motorizado bastante singular que envolve um número reduzido de motos (regra geral 4 motos em pista, com possibilidade de este número se estender às 6 motocicletas) que circulam numa pista de terra oval, no sentido contrário aos ponteiros do relógio. São motos que possuem apenas uma caixa de uma velocidade e não têm travões. O objetivo é os pilotos conseguirem deslizar ao longo das voltas em motos que rapidamente ultrapassam os 100 km/h.

O seio deste desporto localiza-se no norte e centro da Europa, com alguma expressão na Austrália e na América do Norte. O nascimento do Speedway é algo incerto e bastante vago. É certo e sabido a existência de pequenas pistas na Austrália e na América do Norte antes da Primeira Guerra Mundial. Em 1914 Don Johns foi o pioneiro a recorrer ao broadsiding – método utilizado para fazer com que a moto deslize – para conseguir obter tempos rápidos. Só na década seguinte o estilo de Don Johns é adotado nos Estados Unidos e a modalidade passa a ser denominada de Short Track Racing. Só em 1927 é que a modalidade chega, oficialmente, à Europa/Reino Unido através de uma série de reuniões com o objetivo de implementar o Speedway.

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As pistas estão regulamentadas, através da FIM (Federação Internacional de Motociclismo), com o objetivo de definir os requisitos de construção, tamanho e segurança. As corridas têm lugar em pistas ovais compostas por 2 retas unidas por 2 semicírculos. As pistas devem ter um cumprimento compreendido entre os 260 e os 425 metros. A área de partida (marcada com uma linha branca) também possui uma divisão própria com 4/6 lugares de partida e com um sistema de partida próprio. A largura mínima do circuito é de 10 metros nas retas e de 14 metros nas curvas. A superfície da pista é composta por xisto, granito, tijolo granulado e outro material que não exceda os 7 milímetros de diâmetro. A mistura destes materiais reduz o atrito entre as motos e o piso, facilitando a condução por parte dos pilotos, sendo proibida a realização de provas em asfalto! Antes das provas o piso pode ser regado para evitar que a superfície fique seca e para proteger o público, e os pilotos, da poeira.

As moto utilizadas no Speedway são completamente únicas. As motos devem:

  • ter um peso mínimo de 77 kg, sem combustível incluído;
  • Usar um motor monocilíndrico (4 tempos), com um carburador e uma vela de ignição, sem nunca exceder a capacidade máxima de 500cc;
  • ser equipadas com um defletor de sujidade;
  • ser alimentadas a metanol, sem qualquer tipo de aditivos;
  • ter um silenciador na saída;
  • ter um guiador com uma largura compreendida entre os 650 mm e os 850 mm.

Em oposição as motos não devem:

  • ser constituídas por peças de titânio;
  • usar peças revestidas a cerâmica;
  • recorrer à telemetria nas corridas;
  • recorrer a ajudas eletrónicas para controlar as rotações do motor;
  • utilizar travões;
  • usar superalimentador ou um turbocompressor.

Além das permissões, e proibições, anteriormente referidas todas as motos devem possuir um sistema de segurança que seja possível desligar a moto instantaneamente, em caso de acidente.

Cada corrida tem cerca de 4 voltas, com 4 pilotos (regra geral) em pista. Cada piloto é portador de uma cor diferente no seu capacete, em que cada cor estabelece a posição de partida. Vermelho é para a porta inicial, do lado de dentro da pista; Azul e branco para as portas seguintes, respetivamente; e amarelo ou preto para a porta do lado de fora. Para garantir que os pilotos partem lado a lado, é colocado um portão de partida constituído por 2 fitas, que estão dispostas a 10cm das motos. Assim que as fitas são levantadas a corrida dá inicio. Em apenas 4 voltas os pilotos devem conseguir percorrer a distância no menor tempo possível, sem nunca ultrapassar as linhas limitadoras com as duas rodas, correndo o risco de serem desclassificados. Nenhum piloto deve receber qualquer tipo de ajuda, quer seja de outros pilotos, quer seja da própria equipa.

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Depois da corrida terminada é atribuído uma série de pontos correspondente à posição de cada piloto. A escala de pontuação utilizada é 3-2-1-0, isto é, o piloto que vencer a prova recebe 3 pontos e o que ficar em último não recebe qualquer tipo de pontuação. Os pontos vão ser acumulados ao longo das rondas/corridas e são válidos tanto para o piloto como para a respetiva equipa.

Existem dois moldes de competições: as internacionais e as nacionais. As competições internacionais são constituídas pelo Campeonato do Mundo e pelo Campeonato Europeu. Cada campeonato têm uma subdivisão: o campeonato de seniores e o campeonato de juniores. Dentro desta subdivisão existem um conjunto de campeonatos/provas que premeiam os melhores pilotos (individualmente), os melhores pares e as melhores equipas. No que toca às competições nacionais cada país é responsável pelas próprias ligas, sempre com o conhecimento da FIM, assim como o correto funcionamento das mesmas, incluindo questões de segurança, regulamentação, atribuição de pontos ao longo da temporada, etc. Além das ligas existentes, cada país organiza um número reduzido de competições de taça, com um funcionamento semelhante aos campeonato de futebol.

Na Europa os principais países são o Reino Unido, a Suécia, a Dinamarca e a Polónia. São países com um sistema bastante completo de ligas que inicia em Março e termina em Outubro. Em menor grau (e com menos expressão) temos a Argentina, a Itália, a Rússia, Estados Unidos e a Austrália. Enquanto que nas divisões superiores os pilotos vivem inteiramente do desporto em países com menos expressão, e nas ligas mais pequenas, os pilotos são, maioritariamente, amadores e têm um segundo emprego.

Apesar de ser uma variante do desporto motorizado com pouca visibilidade, o Speedway é uma modalidade cheia de adrenalina e incerteza até ao fim, onde os mais talentosos e destemidos conseguem vencer com regularidade. É verdade que não é um desporto universal, mas com uma legião de fãs que permite a continuação enquanto variante do desporto motorizado.

Posto isto só me resta desejar boas leituras…e da próxima vez que o estimado/a leitor/a for acelerar, não se esqueça de colocar o capacete!