Star Wars: O Despertar da Força (Review)

A espera acabou! Star Wars regressou dez anos depois, embora continue a história que deixou há trinta e dois. Mas será que superou as expectativas? O que é que este novo filme traz de novo a todo o universo da saga? Valeu a pena a espera e o entusiasmo de milhões de fãs?

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Título Original: Star Wars: The Force Awakens 

Ano: 2015

Realizador: J.J. Abrams

Produção: J.J. Abrams, Bryan Burk, Kathleen Kennedy

Argumento: Lawrence Kasdan, J.J. Abrams, Michael Arndt

Actores:  Daisy Ridley, John Boyega, Oscar Isaac, Adam Driver,  Harrison Ford, Carrie Fisher

Musica: John Williams

Género: Acção, Aventura, Ficção Cientifica

Ficha técnica completa 

Star Wars tem um lugar cimeiro na nossa cultura popular, e os recordes de bilheteira comprovam isso, desde a inutilização dos sites de venda em 10 minutos até aos números de bilheteira deste fim de semana, que fazem a franquia bater novos recordes. O poder de Star Wars tem também um problema, todo este entusiasmo pede por um filme singular e de grande qualidade, e sabemos de antemão que existem fãs desta saga que são difíceis de agradar. O ódio por vezes injustificado às prequelas, vinda de um grupo mais pequeno do que se julga pela sua participação nas redes sociais, pede por algo glorioso na mesma escala que a trilogia original, o que é completamente aceitável e justificado! Afinal de contas, os três filmes originais estão a um patamar à frente do que quer que tenha sido feito até agora na galáxia de muito, muito longe. Algo que, no entanto, não invalida a qualidade dos filmes posteriores. A Ameaça Fantasma tem muitos defeitos mas se comparado com a oferta de ficção cientifica dos últimos 30 anos se calhar não é assim tão má. O mesmo se aplica ao resto das prequelas, com especial atenção para a Vingança dos Sith, que embora com alguns problemas, é uma entrada mais que digna no universo Star Wars, e que facilmente chega muito perto do patamar de qualidade dos filmes originais, senão ultrapassando-os nalgumas dimensões.

Analisar O Despertar da Força não é fácil em primeira instância, porque ao contrário de outros filme, a saída do cinema apela a uma reflexão mais demorada, que pode necessitar de algum tempo para uniformizar numa opinião, e claro, um fã de Star Wars como eu, necessita de afastar a sua loucura de forma a ter uma visão clara.

A história do filme tem um grau de mistério e obscuridade, mas em perspectiva geral não nos dá informação excessiva sobre a situação galáctica nem nomes incompreensíveis como “Federação Mercantil”, ou informações sobre disputas comerciais entre planetas que desconhecemos, tal como A Ameaça Fantasma Se há um texto inicial em Star Wars que é conciso e claro e resume na perfeição tudo o que se segue, esse será o de Despertar da Força. Já a história pode ser uma espada de dois gumes, num equilíbrio entre o velho e o novo que nem sempre dá a sensação de ser bem executado. Não podemos considerar este Episódio VII como um remake, mas é certo que joga pelo seguro apresentando muito das mesmas coisas que a trilogia original já tinha apresentado, algumas tem nomes diferentes, outras apenas uma nova escala. Será isso uma coisa má? Não necessariamente, fazem um fã sentir-se em casa, e quase na sua totalidade tudo parece ser devidamente justificado para tornar o filme numa passagem de testemunho.

Contudo, a reciclagem de alguns conceitos acaba por levantar questões, não sobre o filme, mas sim sobre a própria originalidade da saga. É a quarta vez que um filme de Star Wars tem o mesmo plot point – não se esqueça da nave que controlava os droids da Federação Mercantil em A Ameaça Fantasma. Mudar a escala ou tornar secundário um elemento da narrativa não justifica uma reciclagem tão assinalável do conceito. Mais uma vez há uma Estrela da Morte, mas chama-se Base Starkiller, e é um planeta. Mais uma vez essa base militar tem um ponto fraco que deve ser explorado de forma a evitar que esta destrua as forças do bem com um único golpe. Já vimos isto antes, e é notável que seja cuidadosamente tornado secundário de forma a debruçar-se sobre a parte do filme que é original, mas está lá! E Star Wars tem de ser mais do que “Vamos rebentar com isto e ir para casa!”, por mais que isso seja uma alusão ao que há de mais clássico na trilogia original.

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Mas tirando este ponto fraco e debruçando-nos sobre o resto da história, é claro que estamos na presença de uma digna sequela de Star Wars, que podemos afirmar que foi de encontro às expectativas de uma parcela assinalável dos seus fãs. Há mistério nas novas personagens, há uma construção cuidada das suas personalidades e motivações. O dialogo é também mais moderno e mais bem trabalhado. Ninguém se esquece das más escolhas de dialogo das prequelas, gostando ou odiando os filmes. Não há nada de Eu não gosto de areia, mete-se por todo o lado. Tudo é mais profundo, mais poético, mais pertinente e mais articulado.

O Despertar da Força responde demasiado rápido a algumas perguntas, especialmente sobre quem é Kylo Ren, mas outras abrem o apetite para as sequelas. Nota-se claramente pelo argumento que os três filmes estão bem alinhavados, e isso é até original na saga Star Wars. A Nova Esperança tem um inicio, meio e fim, são as sequelas que tornam tudo muito mais amplo. A Ameaça Fantasma destaca-se pelo mesmo motivo, quase parece não haver uma ligação com os outros dois títulos, o que para alguns transforma o filme numa espécie de prelúdio.  Já este Episódio VII deixa-nos na penumbra, sabemos o suficiente para compreender o filme e também sabemos que este não é um titulo isolado, e isso é óptimo para cativar uma audiência!

Em termos cinematográficos, é como se a trilogia original estivesse de volta, com uma sensação de galáxia em decadência, cheia de pequenos cantos com uma história, cheios de aliens, grupos mafiosos e heróis improváveis. Muito contribui a utilização de cenários reais que dão um sentido de credibilidade como já não se via em Star Wars há 32 anos. Há sem duvida um cuidado em recuperar a ambiência que marcou os primeiros três filmes, em contraste com o que foi feito nas prequelas, que embora insiram locais já explorados, como Tatooine, não garantiram continuidade visual. Alguns detalhes na cinematografia de O Despertar da Força acabam por enquadrar-se com as cenas a decorrer numa perfeição muitas vezes ignorada e subtil, especialmente nas cenas mais carregadas de emoção.

Mas deslocando a atenção desta review para as personagens, é bastante claro que na sua maioria o elenco original está no filme para passar o testemunho. Não convivemos tanto com Leia como queríamos, e de Luke então muito menos. Mas há claramente uma intencionalidade no tempo de antena dado a Han Solo, que assume a figura de velho mentor, lembrando um menos espiritual e mais cómico Obi-Wan Kenobi. Cabe ao velho contrabandista a principal passagem de testemunho, mas também contribuir para a evolução de uma nova geração, nomeadamente um novo personagem com quem partilha partes do seu passado recente. Chewbacca será talvez o membro mais permanente em futuros filmes, talvez por ser também uma personagem que permite a ocultação do seu actor. Peter Mayhew, o actor original por detrás do amigo de Solo, já usou um duplo neste filme devido a complicações nos seus joelhos derivados da sua altura e da sua idade.

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O mais surpreendente é o tempo dado a C-3PO e R2-D2, o principal ponto de ligação entre trilogias, e que neste filme, tal como Leia e Luke, passam o testemunho aos pequeno e novo BB-8, um redondo e adorável droid que conquistou os fãs muito antes do filme chegar ás salas de cinema. Este novo droid é uma maravilha prática, e acaba por ser o comic relief do filme, a par com Chewbacca, sem que isso se torne no seu objectivo exclusivo ou haja redução da importância das personagens tornando-as inúteis, como aconteceu com Jar Jar Binks.

Quando ao novo elenco, nada há a apontar senão elogios! Daisy Ridley, é talvez a maior revelação, com uma presença forte e principal em quase todo o filme. Sim, Star Wars estava a precisar de uma personagem e presença feminina. Os trailers tentaram no fundo enganar-nos com John Boyega, não que seja mau actor, pelo contrário, mas na verdade por mais que Finn seja uma das personagens principais, é Rey o principal foco da trama. Há toda uma aura de mistério que a envolve e todo um poder por despertar, e é aqui que o titulo do filme entra em sintonia com a história. Já Kylo Ren (Adam Driver), e como já sabíamos pelos trailers, tem uma adoração por Vader, que é bem construída, mas também tem também um passado peculiar que se funde com os 30 anos de intervalo entre episódios e levanta questões sobre todo o seu percurso. Uma coisa é certa, tal como Vader, especialmente se nos lembrarmos de Hayden Christensen ou no desmascarado Sebastian Shaw, a personagem perde qualquer tipo de aparência ameaçadora assim que tira a mascara. É, no entanto, fulcral para a personagem, pois dá-nos a conhecer um individuo em transformação, e até certo ponto em sofrimento pela sua condição. Um vilão simplesmente escondido por uma máscara nem sempre funciona, especialmente quando é importante perceber os contornos do seu passado. Kylo Ren não é Darth Vader, mas não pode nem deve ser!

Andy Serkis e Lupita Nyong’o são os actores de motion capture. Se Serkis faz de um vilão misterioso, o Líder Supremo Snoke, sobre o qual não sabemos nada a não ser a figura imponente que faz lembrar os antigos Lordes Sith de outros media , a personagem de Nyong’o, Maz Kanata, é uma espécie de Yoda, com um grande conhecimento espiritual do que a rodeia. Ambas as personagens acabam por ser um mistério que com certeza será resolvido nos filmes que se seguem.   

A ultima personagem e não menos importante é a musica, e John Williams já nos habituou a que a banda sonora ganhe a sua própria vida e o seu protagonismo. Se há alguém que durante toda a saga nunca desiludiu, é o compositor e presença permanente que aparece nos momentos certos através da musica. Se o tema principal está modernizado, outros como Rey’s Theme e Scherzo for X-Wings não só adicionam algo de novo, como mantém a nostalgia de sempre!

O Despertar da Força é um regresso às origens, com uma alma que cativará grande parte dos fãs, que têm como ponto em comum gostarem na generalidade da trilogia original. Tem uma dose correcta de originalidade que intercala com alguma reciclagem de conceitos antigos, alguns, claro, necessários para que Star Wars seja Star Wars. Outros criam apenas a sensação de que já vimos isto algures, o que pode questionar a verdadeira essência e direcção desta nova trilogia. É o melhor filme da saga? É difícil atribuir-lhe um certificado de qualidade que o insira numa lista que ilustre do melhor ao pior filme de Star Wars. Cada filme parece ter qualidades e defeitos, e se Episódio VII parece ser superior A Nova Esperança por absorver muito dos mesmos conceitos e melhorá-los, é difícil ainda perceber se será melhor ou pior que Vingança dos Sith. filme mais distante em termos de dimensões e características. Independentemente de tudo, não ultrapassa Império Contra-Ataca, sem dúvida o melhor filme da saga, e que mantém o seu pódio.

Resta saber o que o futuro de Star Wars reserva. O Despertar da Força, ironicamente, parece ser “a nova esperança” de um grupo de fãs que quer de volta a glória da saga. Para quem gostou das prequelas, é uma nova adição, mais coesa e de geral melhor qualidade, para um grupo de fãs mais fácil de convencer.

Capitão Phillips e Lobo de Wall Street

Que a Força esteja convosco, e votos de um Feliz Natal e Próspero Ano 2016!