Star Wars: Videojogos para Jogar Antes de O Despertar da Força

Star Wars conquista fãs em todo o mundo desde 1977, e se há algo fabuloso sobre este grande fenómeno da Sétima Arte, é que através de uma estratégia de génio, a merchandising aumenta a cada ano, e também o coleccionismo fervoroso de fãs. Contra mim falo, já dei uma fortuna à obra de Lucas com todo o inventário que disponho de Star Wars! No entanto, e como esta é uma crónica de videojogos, vamos entrar numa fronteira por vezes pouco explorada por pessoas que não tenham qualquer tipo de relação com narrativas virtuais. Se a merchandising é parte do sucesso de Star Wars em termos monetários, os videojogos não estão certamente para trás, e fazem mais do que encher os cofres de uma quantas empresas, expandem o universo de Lucas de forma alucinante, e dão-nos perspectivas diferentes de episódios da saga que conhecemos, ou novas histórias que temos gosto em explorar!

Esta crónica pretende fazer uma selecção de videojogos que devem ser jogados por fãs, e até pessoas completamente alheias a Star Wars. Algumas nem necessitam de um conhecimento acima do normal da saga de Lucas, e outras são direccionados para quem quer uma nova experiência numa galáxia muito, muito distante. Se se antecipou e já viu os seis filmes porque não jogar um ou dois destes títulos, nem que seja apenas para ter um deslumbre do que andou a perder, pois há um gigantesco mundo de Star Wars por explorar, introduzido por centenas de videojogos. Nem todos são apresentados neste artigo, mas acredite que os que aqui estão podem fazer a diferença e mostrarem-se experiências agradáveis ou proporcionar novas aventuras para todos os gostos e cobrindo diversos géneros.

A industria de videojogos tem uma relação muito próxima com Star Wars quase desde o inicio da saga, especialmente nos salões de arcade. Se tem uma maquina de 1983 é um sortudo, ou possivelmente um milionário, porque Star Wars Arcade era um fenómeno da melhor tecnologia de ponta da altura, e é considerado um dos grandes títulos da época de ouro do arcade. Era um jogo simples de simulação espacial, onde o jogador vivia em cada titulo os grandes feitos dos seus heróis da tela. Quem nunca desejou fazer a trench run do final de A Nova Esperança? É ainda jogável, se tiver uma Nintendo Game Cub, sendo um bónus extra de Star Wars Rogue Squadron III: Rebel Strike (2003) juntamente com as suas sequelas Empire Strikes Back e Return of the Jedi.

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Parece que foi desenhado por uma criança mais ou menos dotada no Paint, mas não! É a tecnologia de 1983, e é de louvar porque pouco havia de melhor na altura!

Os seguintes anos 90, estão no entanto recheados de títulos muito mais apetecíveis do que na década anterior, até porque a evolução tecnológica vai marcando a indústria. Também a empresa de videojogos de George Lucas, a LucasArt, fundada ainda nos anos 80, começa nesta década a dar as primeiras cartas como criadora e distribuidora dos mais diversos videojogos relacionados com a Star Wars. Podemos destacar Super Star Wars (1992), seguido de Super Star Wars: Empire Strikes Back (1993)  e Super Star Wars: Return of the Jedi (1994). O objectivo seria contar os eventos da saga num jogo de plataformas e acção. O resultado pode ser uma espada de dois gumes, especialmente devido à liberdade criativa, pois Luke defronta criaturas estranhas no deserto de Tatooine, algumas parecidas com coelhos verdes, outros são monstros de lava. Nem tudo faz sentido ou coesão no universo de Super Star Wars, mas há atenção ao detalhe e à nobreza da saga, mesmo quando a historia é modificada para que o jogador possa experimentar alguns trecho da história de Luke, que de outro modo não teriam qualquer razão para serem desenvolvidos. Esta saga está disponível para Play Station 4 e PS Vita desde o mês passado!

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A pontaria dos Stormtroopers é de louvar em Super Star Wars

Também o arcade ganha novo titulo com Star Wars Trilogy (1999)onde é possível combater o Império galáctico nos diversos episódios icónicos do filme, mas não só! Existem níveis bónus diferente onde é possível combater frente a frente com Boba Fett ou Darth Vader, assumindo o papel de Luke Skywalker em dois momentos icónicos de O Regresso de Jedi!  Não é fácil encontrar este titulo em 2015, mas foi presença obrigatória em muitos salões de arcade. Nesta nova era, se ainda conhecer algum espaço que o tenha, ou ainda alguém que tenha alguma colecção, experimente!

Falando nas prequelas, há também espaço para alguns jogos interessantes baseados nas narrativas desses filmes, ainda nos finais dos anos 90. Vamos esquecer Star Wars Episode I: The Phantom Menace (1999), um titulo totalmente desconcertante pela sua falta de apelo e jogabilidade, mas olhemos para Star Wars: Episode 1 – Racer (1999), um jogo que pretende explorar uma das sequências mais alucinantes de A Ameaça Fantasma. Este conceito de corridas espaciais acaba por trazer toda uma ideia original, que o videojogo expande através das mais variadas pistas no universo Star Wars, e com algumas modificações que fazem cada mapa único. É possível escolher componentes para o podracer (o veículo de corrida) do jogador, e inclusive, escolher o seu próprio piloto. Com alguma artimanhas é ainda possível jogar este jogo no PC, ou numa consola antiga, esta ultima opção com menos paciência envolvida.

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Não é tão bonito como no filme, mas para a tecnologia da época parecia filme de Hollywood

Mas os anos 90 não acabam apenas por introduzir jogos que replicam os momentos das aventuras cinematográficas de Star Wars. O principal caso é a saga de Star Wars: Jedi Knight, que começa em 1995 com Star Wars: Dark Forces, e acaba em 2003 com Star Wars Jedi Knight: Jedi Academy. Este é um dos verdadeiros exemplos de uma excelente narrativa que molda um período da historia de Star Wars que desconhecemos, e que agora já nem faz parte do canon, devido à reformulação da Disney, mas felizmente, dá-nos um contributo de excelência do que seria o período pós-Regresso de Jedi, especialmente nas últimas instalações. A história centra-se maioritariamente em Kyle Katarn, um  mercenário que se transforma em mestre jedi, e que é responsável pela obtenção dos planos da Estrela da Morte ainda antes de A Nova Esperança.

As historia desta saga de first/third-person shooter introduz personagens já conhecidas da saga e novos antagonistas. Alguns deste títulos têm até sequências com actores reais, embora nenhum actor da trilogia original ou sequer as suas personagens apareçam nelas. A ultima instalação, Jedi Academy permite criar o nosso próprio avatar, treinado por Katarn e Luke Skywalker, no templo jedi de Yavin IV. Permite também a escolha entre dois finais, um do lado dos jedi e outro onde tomamos o lugar dos antagonistas, no lado negro. A saga usufrui de uma das melhores mecânicas de combate lightsaber num jogo de Star Wars de sempre, que The Force Unleashed (2008), tantos anos mais tarde, falhou em replicar. A saga está disponível mais facilmente para PC, através da compra pela plataforma Steam.

Pelos duelos muitas vezes complicados e tácticos entre lightsabers, vale muito a pena!
Pelos duelos muitas vezes complicados e tácticos entre lightsabers, Jedi Outcast e Jedi Academy valem muito a pena!

Com a passagem para o século XXI, era cada vez mais evidente que Star Wars estava para ficar. Novos caminhos são traçados e novas apostas surgem em catadupa. Em 2003, um videojogo surge e ultrapassa qualquer expectativa ou padrão alguma vez traçado para o universo de Lucas. A Bioware, que traria mais tarde as sagas de Dragon Age e Mass Effect, lança Star Wars: Knights of the Old Republic (KOTOR), um RPG que introduz uma narrativa que aborda a galáxia da saga quatro mil anos antes na ascensão do Império Galáctico, embrenhada em confrontos entre jedi e sith, num status quo onde o avatar do jogador deve combater as forças do mal, na figura de Darth Malak. É uma das melhores narrativas alguma vez criadas para um videojogo baseado em Star Wars e contém um dos melhores plot twists da história! Junta-se a este facto um grupo de personagens cativantes e uma narrativa que se molda às decisões do jogador, embora o final do jogo esteja definido apenas por dois caminhos distintos, o caminho do jedi, e o caminho do sith. Em termos de jogabilidade, não é possível controlar as personagens directamente em combate. Tal como outros RPGs da Bioware, o combate passa pela escolha de habilidades que cada personagem deve utilizar, sendo que estas aplicam o escolhido numa espécie de passagem de turno dissimulada, e partilhada com os inimigos. A sua sequela, Star Wars: Knight of the Old Republic II: The Sith Lords (2004), já foi abordada aqui no Ideias e Opiniões há uns meses, devido ao seu novo patch, que actualizou um jogo com 11 anos! Ambas as aventuras podem ser adquiridas para a velhinha Xbox, mas mais facilmente para PC pela Steam. Só a primeira instalação de KOTOR está disponível para android e iphone.

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Na saga de KOTOR, as batalhas são tácticas e as personagens são memoráveis!

Embora sem KOTOR 3 à vista, a aventura continua no MMO The Old Republic, que afastou alguns fãs devido à sua subscrição, e também pelas suas politicas de free-to-play que restringem os jogadores que não pagam. No entanto, continua a ser um exemplo no que toca a narrativa, que expande o universo Star Wars para lugares nunca antes visto, especialmente com a nova expansão, Knights of the Fallen Empire. Não é, no entanto, a primeira e única experiência MMO de Star Wars, mas infelizmente, Star Wars: Galaxies (2003-2011) já não está disponível.

Se a liberdade criativa expande a historia e proporciona novos jogos fora da narrativa dos filmes, outros simplesmente tentam expandir e recontar a historia dos seis episódios das mais variadas maneiras, através de vários géneros. A passagem pelo século XXI traz também o jogo de estratégia Star Wars: Galactic Battlegrounds (2001). Um videojogo no mesmo motor de Age of Empires II, que através de várias campanhas cobre acontecimentos de A Ameaça Fantasma, e avança até à trilogia original, mais tarde com uma expansão intitulada de The Clone Wars (2002). Vários heróis são jogáveis, incluindo Darth Vader, Han Solo e Darth Maul. Cada facção do jogo é única e tem várias mecânicas próprias. A adição mais interessante são os gungans, com estruturas bastante peculiares e marítimas. É talvez o único jogo onde a espécie de Jar Jar é interessante de explorar!

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Estes Stormtropers acertam, mas destruir estruturas pode demorar.

Esta investida no mercado dos jogos de estratégia não acaba com Galactic Battlegrounds. O ainda mais ambicioso Star Wars: Empire at War (2006), dá novo fôlego ao género. A narrativa passa-se essencialmente antes de A Nova Esperança, com a sua expansão Forces of Corruption a cobrir ainda o período pós-Regresso de Jedi. O jogador alia-se aos rebeldes, ao império, ou então, a Zann Consortium, uma organização criminosa, na tentativa de expandir a sua influência pela galáxia destruíndo os seus inimigos.  Empire at War destaca-se por três dimensões distintas na sua jogabilidade. O jogador controla as suas unidades e bases através do mapa da galáxia, que introduz alguns planetas já conhecidos e outros onde só o nome é familiar. Cada um destes planetas tem dois campos de batalha distintos, o cenário espacial, onde o jogador luta com naves, e outro no terreno, onde é necessário capturar pontos estratégicos ou defender o planeta de invasões. Mais uma vez alguns heróis são introduzidos, como Darth Vader, Obi-Wan, e também Han Solo. O resultado é um dos jogos de estratégia mais interessantes de todos os tempos, com um twist de empire management. Esté é o derradeiro jogo de estratégia Star Wars, embora muitas das suas mecânicas sejam demasiado simples para quem procura um jogo complexo, como Command & Conquer ou Age of Empires. Tanto Galactic Battlegrounds como Empire at War  estão disponíveis para PC.

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Visualmente apelativo para 2006, Empire at War é a derradeira experiência de estratégia no universo Star Wars.

E se controlar as forças do Império ou da Rebelião não é suficiente, porque não ser parte integrante das batalhas da saga através de um videojogo que nos põe directamente na acção? Battlefront (2004) e Battlefront 2 (2005) propõem uma abordagem directa ao conflito onde o jogador é apenas um soldado num enorme campo de batalha, em perspectiva first ou third-person. É nesta condição que vive os momentos mais emocionantes de toda a saga, e com sorte, em Battlefront 2, consegue também controlar um dos heróis dos filmes, disponíveis para encarnar depois de completar certos requisitos durante a batalha. São claramente jogos mais endereçados a um público amante de multiplayer, mas não deixam de incluir uma campanha a solo que percorre vários momentos icónicos. Infelizmente, é o que resta do jogo, pois os servers online foram desactivados. Está disponível para consolas da sexta geração (Xbox, PlayStation 2), se ainda tiver alguma, e PC.

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Graficamente desactualizado, mas a Força está com ele!

Também Star Wars: Republic Commando (2005) leva mais uma vez a saga para uma abordagem first-person mas debruça-se sobre os momentos que iniciam a Guerra dos Clones. O jogador controla o comandante de uma força de elite de clones que explora os lugares mais reconditos de Geonosis, o planeta desértico do final de Ataque dos Clones. O inicio do jogo é também uma viagem pela criação de um clone em Kamino, nunca antes observada com tanto detalhe. Mas a maior particularidade está na sua jogabilidade, com a possibilidade de controlar todos os elementos da pequena equipa de clones, numa abordagem bastante táctica a Star Wars. Peca por não desenvolver a sua história ou explorar mais cenários da célebre guerra, mas na altura A Vingança dos Sith não tinha ainda chegado às salas de cinema. No entanto, introduz cenários em Kashyyyk, como que servindo de introdução a algumas sequências de Episódio III.

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Graficamente já teve os seus anos de ouro, mas Republic Commando é ainda uma experiência maravilhosa.

Numa abordagem mais calma são lançados também LEGO Star Wars (2005) e LEGO Star Wars 2:  The Original Trilogy (2006), que em 2007 saem em conjunto como LEGO Star Wars: The Complete Saga. Este jogos seguem a história dos seis filmes, numa abordagem cómica e refrescante, com níveis bónus e coleccionáveis. É um jogo que cativa a criançada, mas também os adultos, que podem reviver a sua infância duas vezes, quer pela saga em si, como pela utilização de mestre das peças de LEGO, embora a liberdade da sua utilização não seja tão grande como na sua versão física. O universo de Star Wars em LEGO teve também sequelas como LEGO Star Wars III: The Clone Wars (2011), retratando episódios da série com o mesmo nome. Resta saber se a nova trilogia terá o mesmo tratamento. The Complete Saga está disponível para consolas de sétima geração (Xbox 360, PlayStation 3, Wii), PC e android.

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Estes dois juntos é canon? E em LEGO?

Em 2008, é lançado para o mercado Star Wars: The Force Unleashed, a história de um aprendiz de Darth Vader, Starkiller, incumbido de perseguir e matar os jedi que restam na galáxia. Explorando o período temporal que separa as duas trilogias, introduzindo uma história interessante com mais do que um final. Acaba por ter uma jogabilidade mais fraca, que como já referido, não cria a ilusão necessária para transformar um jogador num jedi ou sith, embora ofereça acção non-stop. A sua sequela, The Force Unleashed 2 (2010), lida com o tema da clonagem, mas acaba por não se mostrar à altura do seu antecessor. Esta saga toma um caminho negro, e introduz algumas personagens interessantes, que interagem directamente com outras já conhecidas. No entanto, algumas escolhas narrativas podem fazer alguns fãs menos receptivos, que acabarão por agradecer que todo o Expanded Universe já não faça parte do canon. É, no entanto, uma experiência digna de nota e está disponível para consolas de sétima geração e PC.

A acção existe, mas Force Unleashed não é a derradeira experiência com um lightsaber.

Mas para onde vão os videojogos de Star Wars? É bastante claro que a venda da companhia de George Lucas abrandou ou cancelou muitos projectos, mas hoje, em 2015, um recente lançamento parece digno de nota, Star Wars: Battlefront (2015). Nenhum jogo até agora retratou tão bem o clima cinematográfico do filme. Infelizmente comparado com os seus dois antecessores, que já referimos, peca por falta de mapas e conteúdo, mas também de sentimento de progressão, o que afecta muitos jogadores. Visualmente nenhum jogo baseado na saga consegue ultrapassá-lo, e embora se possam tecer muitas criticas, é a experiência actual possível para quem quer sentir-se completamente imerso na atmosfera de uma galáxia muito, muito distante. O jogador encarna também os heróis da saga, num jogo que por agora está a basear-se nos acontecimentos da trilogia original, ignorando as prequelas, e introduzindo a Batalha de Jakku, um DLC gratuito desde dia 8 de Dezembro, e que mostra um pouco do período que separa a trilogia original de O Despertar da Força sem nunca levantar o véu.

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Volte à primeira imagem desta lista, a tecnologia melhorou muito não foi?

Se a saga de Star Wars tem já mais de três décadas de história, a industria de videojogos tem acompanhado o seu progresso, nos seus altos e baixos, e expandindo a narrativa original criando novas perspectivas ao seu conteúdo de maneira alucinante. A saga de Lucas está viva, e se o entusiasmo por O Despertar da Força não é prova disso, os contributos crossmedia elevam ainda mais esta franchise para o seu próprio patamar na cultura popular. Que a Força esteja convosco… e algures um deste videojogos também!

Volto em 2016, com mais videojogos…