Sucesso Em Tempo de Crise

A semana que passou fica marcada, não pelo “bate-boca” entre Bruno Carvalho e Pinto da Costa, onde se trocou de tudo, menos elogios e carícias, mas pelo apuramento de duas equipas portuguesas para os Quartos de Final da Liga Europa. Se o habitual é criticar o futebol português e os resultados pelo mesmo apresentado, importante é também enaltecer o feito de Benfica e F.C.Porto.

Dado importante: desde a criação da Liga Europa, ou seja, desde a temporada 2009/2010, que Portugal tem sempre, pelo menos, uma equipa representada nos Quartos de Final. É obra. Se por um lado os mais cépticos alegarão que a Liga Europa – outrora Taça UEFA – é uma competição secundária no que diz respeito ao futebol mundial, o facto é que desde o seu começo que esta competição sempre teve participantes de peso, tais como; o Atlético de Madrid, a Juventus, o Liverpool, o Chelsea, o Inter, o Lyon, o Valência, o Manchester City, entre outros. Tudo clubes de craveira internacional e que, alguns deles, ficaram pelo caminho exactamente após terem sido eliminados por equipas portuguesas.

A época começou de uma forma bastante arrasadora para as equipas nacionais. Porto e Benfica tinham como objectivo claro, atingir os Oitavos de Final da Liga dos Campeões, algo que, desde cedo, se revelou uma missão impossível. Se por um lado o Benfica pode alegar algum “azar”, que também pode ser chamado displicência, por não ter passado com 10 pontos, já o Porto só se pode dar por satisfeito por ter conseguido o terceiro lugar com uns míseros 5 pontos, os mesmo que o “poderoso”, Áustria de Viena. Posto de parte o objectivo “Champions”, urgia agora a necessidade de fazer boa figura na Liga Europa.

Nenhuma história de conquista é verdadeira se não tiver pelo meio o seu toque de sofrimento. Assim foi. O F.C.Porto viu-se a braços com um Eintracht de Frankfurt que não era, nem de perto, das equipas mais perigosas da competição. Sobranceria em excesso, estratégia mal montada, qualquer desculpa seria ineficaz para explicar aos adeptos o afastamento total da Europa. Porém a sorte estava do lado dos portistas e Ghilas, aos 86 minutos, evitou aquilo que seria um descalabro. Em Lisboa a história foi diferente, o Benfica passou o PAOK sem muitas dificuldades e impediu que ocorresse, uma vez mais, uma tragédia grega naquele mesmo estádio.

A eliminatória a seguir serviu para mostrar o poderio dos clubes portugueses. Nápoles e Tottenham eram as favas que tinham calhado em sorte às equipas nacionais. Ambas com orçamentos, jogadores e probabilidades de seguir em frente muito superiores às de Benfica e Porto. Ambas saíram vergadas. O Benfica silenciou White Hart Lane enquanto o seu treinador fez questão de andar nas bocas do mundo. O Porto, por sua vez, serviu-se da varinha e do condão de “Harry Potter” e utilizou um feitiço que deixou por terra os napolitanos. A missão que se segue é ligeiramente mais acessível. Contudo, não significa que os cuidados deixem de ser redobrados, tanto o AZ Alkmaar como o Sevilha podem ser ultrapassados no que poderá ser uma caminhada para, mais uma, final da Liga Europa 100% portuguesa.

Mesmo numa “segunda linha” europeia, o certo é que as equipas portuguesas vão singrando e tentando limpar a imagem que deixaram na Champions. A presença nos Quartos de Final vem sendo cada vez mais um dado adquirido, bem como o bom desempenho dos clubes provenientes do nosso campeonato. É tempo de deixar a Liga Europa para trás e tentar alcançar o mesmo feito na Liga dos Campeões. É tempo de levar mais clubes do nosso país a competições europeias. É tempo de demonstrarmos que somos muito mais que um país à beira-mar plantado. É tempo de deixarem de subestimar Portugal.

Crónica de António Barradas
A Bola Nem Sempre é Redonda