Supertaça: Jesus ao 7º dia não descansou

Há quem diga que ao 7º dia, Jesus descansou, porém, neste caso continuou a sua caminhada vitoriosa. Em dia de missa, Jesus foi mais papista que o papa e levou de vencida um frágil Benfica que de Vitória, por enquanto, só mesmo o seu treinador. O resultado acabou por ficar estabelecido no 1-0, mas as disparidades exibicionais e as (falta de) ideias expostas tanto por Rui Vitória, como por Jesus, deixam já antever que uma das equipas ainda tem um longo trabalho pela frente.

Mal se souberam os onzes iniciais, já era possível ver que Rui Vitória queria surpreender Jesus. Tanto para lhe mostrar que tem as suas próprias ideias e que não aproveitou nada do que JJ deixou no clube da Luz; como para tentar levar de vencida as suas apostas surpreendentes. Sílvio, Lisandro, Nélson Semedo e Ola John. Foram, sem muitas dúvida, as grandes mudanças num Benfica que se apresentou – e tem apresentado ao longo desta pré-época -, num esquema de 4-4-2, muito similar ao utilizado por Jorge Jesus nos passados 6 anos. A principal diferença, reside na qualidade dos intevenientes. Entre ter Lima e Talisca e Lisandro e Luisão – em forma, diga-se -, vai um enorme esticão. Como tal, o Benfica entrou tal e qual como Rui Vitória o descreveu no fim: receoso. O Sporting, por sua vez, entrou afoito e muito sufocante, exercendo uma tremenda pressão sobre a linha mais recuada dos encarnados. Um Slimani renascido, era a o maior perigo apontado à baliza de Júlio César. Por outro lado, o seu companheiro de ataque, Teófilio Gutiérrez, revelou-se fora de forma e muito, mas mesmo muito, lento. Fazia lembrar o Fernando Mendes depois de uma patuscada. O jogo acabou por se equilibrar, com o Benfica a fazer uso de uma das maiores armas de Jesus: as bolas paradas. No lado do Sporting, esse tipo de lances apenas serviam para serem desaproveitados. Algo nada comum ao seu novo timoneiro. No entanto, neste embate de esquemas iguais, o Sporting acabou por ser mais eficiente, em virtude de Talisca mal ter tocado na bola. A sua falta de forma é quase gritante. Ainda houve tempo para o jogo ficar repartido, com Ola John a ser o homem mais perigoso; para Bryan pautar o jogo verde e branco e para ser anulado um golo limpo a Téo. Foram estas as incidências do jogo na 1ª parte.

A 2ª parte não começaria de uma forma muito distinta da 1ª. O Sporting entrou ainda mais forte, ainda mais pressionante e ainda mais atacante. João Mário assumia as despesas e geria o jogo leonino, enquanto Carrillo aproveitava para espalhar os seus rasgos de génio. O golo viria mesmo a surgir após uma jogada do peruano, que culminaria com um remate que entraria após bater em Téo. Estava feito o 1-0 e o Benfica tinha de reagir. Rui Vitória lançou as cartas todas para a mesa quando fez entrar Pizzi e Mitroglou, que apenas tinha tido dois treinos. Os dois de pouco adiantaram. Até ao fim do jogo, os encarnados fizeram-se valer da vontade e da magia de Gaitán e da segurança tanto de Jardel, como de Júlio César. Até ao fim do jogo ainda houve tempo para alimentar o que o adepto do futebol português mais gosta, ou seja, polémica. Jorge Sousa não viu o penalty evidente sobre Gaitán, que poderia ter dado o empate ao Benfica. Pelo menos em erros, acabaram empatados. O jogo acabaria por chegar ao fim com a turma de Alvalade a ameaçar a baliza a cargo do internacional brasileiro, sem que nunca as águias conseguissem por em sentido o adversário. A equipa mais oleada; mais entrosada; com as ideias mais bem assentes e com uns princípios de jogo já bem visíveis, ganhou. E esse equipa foi o Sporting.

Este jogo veio provar que Jorge Jesus tinha razão. Não que o devesse ter dito, que não devia, mas acaba por estar correcto. As ideias são dele, o sistema era o seu, e os jogadores são quase os mesmos. Falta engenho a Rui Vitória para levar a equipa mais além. Falta aquele “je ne sais quoi”, a         quele carisma de quem vai levar a equipa avante. Falta muita coisa, mas se há coisa que não pára de andar, é o relógio, e esse dita que a Liga começa dentro de uma semana e o Benfica apresentasse com índices muito mais baixos do que os dos restantes candidatos. É preciso reforçar a equipa nas posições certas, com reforços, não com contratações. Dessas já tiveram muitas e nenhuma ficou. É preciso também saber tirar o melhor de quem lá está e, o ex-timoneiro dos vimaranenses, ainda não provou que o sabe. Quanto ao Sporting, está bem e recomenda-se. Jesus tem ainda de se deixar das teimosias que lhe são tão características e começar a apostar no melhor onze, mas resto, está quase tudo impecável. Um futebol atractivo, cativante, ofensivo, rápido, trabalhado e eficaz. É desta forma que se podem caracterizar as 6 semanas de trabalho do técnico leonino, mudou muita coisa em relação ao passado recente e veio acrescentar motivação a qualquer jogador que trabalhe com ele. É notável. O cérebro está lá, não ficou na Luz. Conseguiu inovar à sua maneira e por uma equipa completamente nova nas suas mãos, a jogar o “seu” futebol. Não se pode com isto embandeirar em arco e  atirar já o Sporting para um dos 2 primeiros lugar, ou para o lugar de “mais forte candidato ao título”. A verdade é apenas uma: o único troféu que disputou, ganhou. É natural que os adeptos sonhem.

Assim foi. Uma história na qual Jesus não descansou ao 7º dia, aproveitou, levantou-se, e conquistou um troféu que acabou por ser muito mais que isso, foi um tira-teimas, uma vingança. Uma prova de fogo perante os inquisidores encarnados, que não hesitarão em queimar Vitória enquanto a palavra propriamente dita, não passe do nome da águia e do treinador.