FUTEBOL - Adeptos na festa do Sporting no Estadio Jose Alvalade, local onde foi transmitido o Sporting - Sporting de Braga, jogo da Final Taca de Portugal 2014/2015. Estadio Jose Alvalade, em Lisboa. Domingo, 31 de Maio de 2015. (Miguel Nunes/ASF) ALVALADE SPORTING

Taça de Portugal

Ao fim de 2.845 dias o Sporting Clube de Portugal voltou a erguer um troféu no futebol português. O clube de Alvalade defrontou este Domingo o Sporting de Braga em jogo a contar para a final da Taça de Portugal no mítico, estádio do Jamor. Uma final histórica, que acabou com a primeira decisão através de grandes penalidades em 75 edições. O resultado no fim dos 120 minutos encontrava-se empatado a 2 numa partida com tanta história que só sabe quem viu e presenciou.

A ansiedade era muita. Os 15 minutos que a RTP pediu para atrasar o início do jogo, serviram ainda mais para desgraçar as unhas dos adeptos de ambos os lados. Frente a frente dois Sportings; um que estava sedento por títulos e não via a hora de por as mãos numa Taça; e outro com tiques de “clube grande”, que já começavam a chatear muita gente. O certo é que a motivação não podia ser maior. Fosse de que forma fosse, era o jogo do ano para ambas as equipas. Um troféu significaria o mundo para um Braga à procura de um reconhecimento nacional como potência desportiva – algo que, se todos forem coerentes, não irá acontecer – e o Sporting à espera do seu momento de glória, desta vez sob a alçada presidencial de Bruno de Carvalho, o presidente mais carismático dos últimos 20 anos. Eram tudo bons tónicos para o jogo que se seguia. Contudo, nada nem ninguém conseguiriam antever a carga emocional e o desfecho de tal embate.

Se os nervos já eram muitos e a ansiedade desmedida, tudo ficou pior aos 15 minutos, Djavan, após passar de forma fantástica por Paulo Oliveira, é completamente abalroado por Cédric dentro da área. Marco Ferreira não hesitou, grande penalidade e expulsão – mais do que justa – para o lateral direito verde e branco. Éder não perdoo e colocou os bracarenses em vantagem. Tudo viria ficar mais negro para a turma de Alvalade a partir dos 25 minutos, quando o recém entrado Miguel Lopes, erra de forma colossal ao deixar-se bater por Rafa e a permitir a este seguir isolado até à baliza onde colocou a bola no fundo das redes. O desânimo e o desespero ecoavam em metade do Jamor. Rostos vazios, semblantes carregados, esperanças perdida. Era assim que estavam os sportinguistas. Algo completamente diferente era sentido pelos minhotos, que já cantavam de galo antevendo uma vitória histórica. O jogo chegou assim ao intervalo, com o Sporting a jogar com 10 e um Braga a ganhar por 2-0. Um cenário tenebroso e assustador que tinha como porta estandarte Cédric, que teve uma paragem cerebral aos 15 minutos. A emoção toda ainda estava para chegar.

A segunda parte começa com o Braga numa toada mais defensiva e o Sporting a atacar, ainda que sem qualquer sentido de nexo ou perigo. Todas as jogadas acabavam no mesmo: cruzamentos. Foi preciso insistir até ao minuto 84, para, após um erro gravíssimo da defesa minhota, Slimani fazer o que falhou por 3 ou 4 vezes durante a partida: o golo. Com pessoas a abandonarem o estádio, já descrentes numa reviravolta mágica, era tempo de por tudo o que tinham em campo. Carregar sobre os jogadores do Braga e, mesmo com menos um, obrigá-los a recuar. Assim foi. Quando já ninguém previa, aos 93 minutos – se fosse menos um a história teria um encanto diferente – Montero marca e faz com que o Sporting alcance o impossível e escreva história na Taça com uma das finais mais dramáticas de todo o sempre. Contudo, o suspense e a indecisão não se ficam por aqui. Havia mais 30 minutos para jogar e, embora todos os jogadores estivessem mais do que exaustos, muito mais emoções para se viverem. O prolongamento tem uma história simples: Braga por cima; Patrício salvou a equipa perante uma jogada em que Salvador Agra aparece isolado; Mauro a perder todos os seus neurónios com o cansaço e a ser expulso e Patrício a lesionar-se na perna. Assim se chegava aos penálties que de lotaria têm pouco. Aí a história é curta: o Braga não treina este tipo de lances de bola parada, uma vez que, todos falharam menos o veterano Alan. Estava feito o resultado final, o Sporting 2.845 dias depois voltava a erguer um troféu, desta vez com direito a escrever uma das histórias mais heroicas de que há memória no que à prova rainha do futebol português concerne.

Este jogo – que acabou por ser um carrossel de emoções – servirá para ambos os treinadores tirarem as suas ilações. Marco Silva passou com Satisfaz Menos ao teste da Taça. A história é bonita, a garra foi muita, mas há demasiados aspectos em falta e que deixam muito a desejar para um clube da dimensão do Sporting. A começar pelos laterais direitos. Ambos estiveram envolvidos nos golos adversários e deram uma imagem paupérrima da sua qualidade – muito parca – enquanto futebolistas. As substituições também tiveram muito que se lhe digam. João Mário não devia ter saído e Slimani, que falhou mais golos do que Bruno de Carvalho fez discursos, não devia ter sido titular. Montero é o maior injustiçado do plantel leonino. Do lado do Braga, as responsabilidades de Sérgio Conceição não são menores, correndo mesmo o risco de serem demasiado graves para que continue o projecto. A sua arrogância ultrapassa todos os limites, bem como a sua falta de valores. Um treinador que pouco ou nada fez durante a sua carreira, não pode nunca comportar-se da forma como Sérgio faz. Depois, vem o pior. Um treinador que tem à sua disposição um plantel da tarimba do pertencente ao Braga, não pode nunca jogar tão mal como joga. Os jogadores são de um patamar superior, sem dúvida. Como tal, uma equipa a jogar contra 10 desde os 15 minutos e a ganhar por 2-0 desde os 25, não pode nunca apresentar a mediocridade futebolística que apresentou. A inoperância bracarense foi demasiada e a sua ingenuidade ultrapassou os limites. Uma equipa bem orientada nunca perderia este jogo.

A época acabou. Agora é tempo de balanços, de renovações, despedimentos, contratações, rumores, tudo e mais alguma coisa que, por certo, animará a Silly Season em Portugal. Do lado dos dois finalistas da Taça de Portugal, é necessário analisar bem o jogo do Jamor e perceber o que falhou. Marco dificilmente continuará e Sérgio, que teve uma época bem abaixo das expectativas mediante o seu plantel, dificilmente sairá. Para a história fica o coração de leão tido pelos homens que vestiram de verde e branco. Uma reviravolta estupenda que demonstra o que é o futebol e o que mais lindo ele tem, a imprevisibilidade. Jogos destes são sempre bem-vindos.