Tarde de chuva - Conto

“Tarde de chuva ” – Conto

As rochas são beijadas brandamente, envolvendo-as na sua calma água salgada, tal como o seu olhar beija a sua face bela e serena. A sua musa. O dia está cinzento, de céu carregado, prometendo chuva a qualquer momento. Um senhor, aparente já septuagenário, caminhava corajosamente no passadiço, junto ao mar, coberto por um impermeável escuro, cujo carapuço cobria-lhe grande parte da face. Caminhar daquela forma, parecia uma tarefa complicada. A brisa era densa, deixando o rosto húmido e o cabelo crespo e esvoaçante. Ela olhava o infinito, ele continuava a olha-la. Tirou-lhe uma fotografia, sem que ela se apercebesse, para que pudesse rever o seu rosto tranquilo todas as noites antes de ir dormir, para que pudesse sonhar com ela.

Ela virou-se para ele, mostrando aquele sorriso que lhe ilumina a alma, sendo imediatamente puxada para o seu quente abraço. Não há mais nenhum lugar no mundo que lhe transmita tanta paz. O seu abraço. Como é bom perderem-se nos braços abertos, o lugar onde realmente pertencem.

“Acho que está a começar a chover.” – Murmura junto ao seu cabelo.

“Não está nada.” – Responde ela, não querendo que aquele abraço termine.

Mas de facto está a chover, caindo pingas grossas ainda pouco frequentes. Ele agarra a sua mão e começa a correr pelo jardim. Ela tenta acompanha-lo, mas não consegue deixar de rir. Como um momento tão simples a faz recuar aos seus tempos de criança, onde tudo era tão descomplicado, onde chuva era apenas chuva. Não se recorda da última vez que se sentiu tão feliz. A intensidade da chuva aumenta, tal como a sua corrida.

Num golpe de sorte, a grande avenida está com pouco trânsito e eles conseguem atravessar sem grande dificuldade.

Chegam ao carro, ofegantes e levemente molhados pelas gotas das quais não escaparam. Mas a sua está quente, porque se têm um ao outro. Á sua frente um jovem corredor busca abrigo numa paragem de autocarro, enquanto ele voltam a sorrir um ao outro trocando um beijo que sela a sua união. A chuva cai forte, mas eles estão abrigados, quentes e sorrindo de amor.

Fim.