A Teoria da Pixar de John Negroni – Parte 1

Esta semana trago-vos algo diferente. Há alguns meses a esta parte a “Teoria da Pixar” invadiu a internet e tornou-se num artigo partilhado milhões de vezes por esse mundo fora. Pois esta é a altura de esta, já famosa, teoria chegar ao Mais Opinião! Antes de irmos à teoria em si tenho algumas recomendações para todos. Primeiro: este é um artigo dedicado a todos os filmes da Pixar, portanto é melhor fazer uma revisão das principais incidências da história de cada um dos filmes citados assim como dos nomes das personagens, senão é bem possível que tenha alguma dificuldade em acompanhar o artigo. Segundo: toda a “Teoria da Pixar” não é da minha autoria. O seu autor dá pelo nome de Jon Negroni e divulgou esta teoria no seu blogue pessoal, tornando-se rapidamente num sucesso mundial. Terceiro: este é um artigo mais extenso do que é normal no “Desnecessariamente Complicado”, aliás, tão extenso que esta é apenas a primeira de duas partes dedicadas a este tema, mas acredite que vale a pena! Agora sim vamos à “Teoria da Pixar”, de Jon Negroni!

Esta teoria inclui os seguintes filmes: “Toy Story”, “A Bug’s Life”, “Toy Story 2”, “Monsters Inc.”, “Finding Nemo”, “The Incredibles”, “Cars”, “Ratatouille”, “Wall-E”, “Up”, “Toy Story 3”, “Cars 2”, “Brave”, “Monsters University” e por último mas não menos importante “Planes”.

“Brave” é o primeiro e o último filme na cronologia. Obviamente que este filme sobre um reino Escocês durante a Idade das Trevas é a obra da Pixar que recua mais para trás no tempo. Mas é também o único filme da Pixar que nos explica a razão para neste universo paralelo, por vezes, os animais se comportarem como os seres humanos.

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No filme “Brave” Mérida descobre que a magia existe e que esta pode resolver os seus problemas, mas inadvertidamente acaba por transformar a sua mãe num urso. Descobrimos então que a magia provém de uma estranha bruxa que aparentemente está ligada à “will-of-the-wisps” (nota: este é um termo sem tradução, mas para quem não viu o filme estamos a falar daqueles pequenos “fantasmas” azúis que podem ser visto na imagem acima). Na “loja” da referida bruxa vemos não só animais a comportarem-se como seres humanos, como também objectos inanimados ganharem vida (como por exemplo, vassouras) comportando-se também eles como pessoas. Aprendemos também que esta bruxa, de forma inexplicável, desaparece de cada vez que passa por uma porta, levando-nos a pensar que pode muito bem nem sequer existir. Mais tarde voltaremos a “Brave”, mas digamos que a bruxa pode ser alguém que nós conhecemos de um outro filme da cronologia…

Séculos mais tarde, os animais de “Brave” onde a bruxa experimentou algumas das suas magias, acabaram por evoluir, criando assim uma população em grande escala de animais que lentamente foram ganhando personificação e inteligência por conta própria.

Agora temos duas progressões diferentes: a dos animais e a progressão da inteligência artificial. Os eventos dos seguintes filmes deram origem a uma luta pelo poder entre os seres humanos, os animais e as máquinas. O palco da guerra no que diz respeito aos animais é criado pelos filmes “Ratatouille”, “Finding Nemo” e “Up”. Mais tarde irá perceber o porquê da exclusão do filme “A Bug’s Life”.

Em “Ratatouille” nós vemos que os animais estão a começar a lidar com a sua crescente personificação, em pequenas e controlas experiências. Remy quer cozinhar, algo que apenas está ao alcance dos seres humanos. Ele desenvolve uma relação de proximidade com um grupo restrito de humanos, e acaba por atingir o sucesso. Entretanto o vilão do filme “Ratatouille” (o Chefe Skinner) desaparece. O que lhe aconteceu? O que fez ele depois de saber que afinal os animais eram capazes de feitos que transcendem, em muito, as suas capacidades, chegando mesmo a ser melhores do que os seres humanos?

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É possível que Charles Muntz (o vilão do filme “Up”), tenha tomado conhecimento deste surpreendente rumor, dando-lhe assim a ideia de inventar um aparelho que pudesse traduzir os pensamentos dos animais (nomeadamente dos seus cães), através de um colar que colocam ao pescoço. Estes colares acabaram por demonstrar que afinal os animais são muito mais inteligentes do que aquilo que pensávamos, chegando mesmo a pensar de forma muito semelhante a nós, humanos. Ele precisava desta tecnologia para descobrir um pássaro exótico pelo qual estava obcecado (ele chega mesmo a comentar o número de cães que ele já tinha perdido desde chegou à América do Sul).

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Após a morte de Muntz, Dug e os restantes animais são libertados sendo que nós não temos conhecimento das implicações que este acontecimento teve nas suas vidas. O que sabemos é que a animosidade entre os humanos e os animais começou a subir de tom. E agora que os humanos finalmente tomaram conhecimento das reais potencialidades dos animais vão certamente querer ultrapassar o limite do razoável. Para desenvolver esta nova tecnologia surge uma nova revolução industrial, que começa precisamente no filme “Up”.

Voltemos agora ao início do “Up”. Carl é obrigado a desistir da sua casa porque uma grande empresa está a expandir a cidade. Pense nisto por uns segundos. Agora, que empresa é que no futuro é responsável por poluir e destruir a vida existente?

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A resposta correcta é: Buy-n-Large, ou BNL como é mais conhecida. Esta empresa basicamente é dona de tudo o que existe quando chegamos ao tempo do filme “Wall-E”. No anúncio da BNL que retracta a história da marca, é-nos dito que a BNL domina inclusivamente os governos dos principais países do mundo! Ou seja, esta empresa é líder de tudo e todos, a nível mundial!

É curioso constatar que no filme “Toy Story 3” é feita uma referência a esta empresa, como podem ver na imagem abaixo.

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Por sua vez no filme “Finding Nemo” somos confrontados com uma população inteira de criaturas marinhas que se unem para salvar um pequeno peixe que foi capturado por seres humanos. A BNL surge novamente, desta vez através de uma notícia num jornal que fala de um fantástico mundo submarino. Ou seja, em “Finding Nemo” as linhas estão a cruzar-se: os seres humanos estão a começar a excluir os animais, pois estes estão cada vez mais inteligentes e unidos.

Centrem agora, por pequenos instantes, o vosso pensamento na Dory. Porque se destaca ela das restantes criaturas marinhas? Pela sua memória, exactamente. Mas porque tem ela problemas de memória? A sua curta e frágil memória é explicada pelo facto de ela não ser tão evoluída quanto as restantes criaturas marinhas, o que acaba por nos dar uma ideia do quão rápido estão a evoluir estas criaturas.

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É muito provável que a sequela de “Finding Nemo”, que se vai centrar precisamente na personagem da Dory, aborde este tema. É também expectável que tenhamos mais detalhes da crescente animosidade entre humanos e animais.

E este foi o filme mais avançado quanto à parte dos animais. Quanto à inteligência artificial começamos pelo filme “The Incredibles”. Quem é o vilão deste filme? Muito provavelmente a vossa resposta será Buddy, mais conhecido por Syndrome, que basicamente persegue e mata os seres humanos que têm superpoderes.

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Mas será mesmo ele o vilão desta história?

Buddy não tinha quaisquer poderes. Ele usou a tecnologia para se vingar do Mr. Incredible por não o levar a sério quando era pequeno. Não vos parece um pouco estranho que ele tenha chegado ao ponto de perseguir e matar?

E como mata ele os super-heróis? Cria o “omnidroid”, um robot capaz de matar os super-humanos pois consegue aprender os seus movimentos, adaptando-se constantemente. O “omnidroid” acaba por se virar contra o Syndrome, o que nos leva a pensar que ele foi manipulado pelas próprias máquinas desde o início, para as ajudar a ultrapassar a maior ameaça ao domínio total das máquinas: os humanos com superpoderes.

Mas porque haviam de querer as máquinas desfazer-se dos seres humanos? Sabemos que os animais não gostam dos humanos porque estes poluem o planeta e porque os usam para fazer experiências, mas porque haveriam as máquinas de ter problemas com os humanos?

Entremos então em “Toy Story”. Aqui vemos que os humanos usam, abusam e desfazem-se de “objectos” que são, claramente, conscientes. Sim, eles adoram o seu “dono”, contudo nas sequelas de “Toy Story” nós apercebemo-nos de que os brinquedos começam a ficar cansados de tudo o que lhes acontece.

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No primeiro filme da trilogia os brinquedos revoltam-se contra Sid. No segundo filme Jesse ressente-se pelo facto de a sua “dona” (Emily) a ter abandonado. Por sua vez o Lotso Huggin’ Bear odeia imediatamente os humanos quando chegamos ao terceiro filme. Parece óbvio que os brinquedos não estão satisfeitos com o status quo que impera, o que lhes providencia uma justificação para o porquê das máquinas quererem exterminar os mais fortes dos humanos.

E agora que os humanos com superpoderes foram exterminados a humanidade está vulnerável. Os animais poderiam revoltar-se e tentar assumir o controlo, contudo não vemos isso acontecer.

Para além disso a Inteligência Artificial nunca assume directamente o controlo. Encontram alguma explicação para este facto? Eu ajudo. É razoável pensar que as máquinas tomaram o controlo, só que não da forma que poderíamos esperar. As máquinas usam a BNL, uma corporação sem rosto, para dominar o mundo.

Em cada filme da trilogia “Toy Story” é deixado bem claro que os objectos conscientes confiam nos seres humanos para tudo, até para lhes providenciar energia. É também insinuado que os brinquedos perdem a vida quando são colocados na arrumação (ou sótão/cave, como preferirem), a não ser que estejam num museu que os faça serem vistos pelos humanos.

Assim, as máquinas, decidem assumir o controlo sobre os humanos utilizando para isso uma empresa que cobre todas as suas necessidades, dando origem a uma revolução industrial e eventualmente a…poluição.

Portanto, quando os animais se revoltam contra os humanos por estes poluírem o planeta, quem é que primeiro os ajuda e mais tarde se vira contra eles? As máquinas. Sabemos também que as máquinas vão vencer esta guerra porque após a guerra nunca mais vemos animais no Planeta Terra. Sobram, portanto, as máquinas.

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Dado que as máquinas retiraram o equilíbrio que o planeta necessitava, este torna-se impróprio para que os animais e humanos vivam nele. Assim sendo os humanos que resistiram são enviados para Axiom num último esforço para salvar a raça humana.

Em Axiom, os seres humanos não têm nenhum propósito para além de verem as suas necessidades atendidas pelas máquinas. As máquinas tornaram os seres humanos dependentes delas para tudo, porque é assim que elas foram tratadas quando eram “brinquedos.” E é tudo o que sabem.

Enquanto isso, na Terra, as máquinas são deixadas para trás para povoar o mundo e fazer as coisas à sua maneira, o que explica as marcas e as tradições humanas que vemos no “Cars”. Não existem animais ou seres humanos nesta versão da Terra, porque eles basicamente desapareceram todos, mas sabemos que o planeta ainda tem muitas influências humanas. Em “Cars 2”, os carros vão para a Europa e para o Japão, tornando-se assim claro que a acção acontece no planeta Terra como o conhecemos.

Sendo assim, o que aconteceu com os carros? Aprendemos até agora que os seres humanos eram a fonte de energia para as máquinas. Foi inclusivamente por isso que eles nunca se livraram deles. Em “Wall-E”, é-nos dito que a BNL tinha a intenção de trazer os seres humanos de volta quando o planeta estivesse novamente limpo, mas acabaram por falhar a missão. As máquinas que estavam na Terra morreram, o “Planes” irá dar-nos mais pistas sobre a causa.

O que nós sabemos é que em “Cars 2” existe uma crise de energia, sendo o petróleo a única forma de a sociedade progredir, independentemente dos seus riscos. Aprendemos também que a empresa Allinol usava energias renováveis como um catalisador para uma guerra de combustível, afastando assim os carros de fontes alternativas de energia.

Esta é apenas a primeira parte da Teoria da Pixar, na próxima semana não podem perder a segunda e última parte desta maravilhosa, e surpreendente, teoria. Repito algo que referi no início desta crónica: toda a “Teoria da Pixar” não é da minha autoria, mas sim de Jon Negroni!

Boa semana.
Boas leituras.

Crónica de Bruno Neves
Desnecessariamente Complicado
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