Terá a discriminação 35 horas?

Imaginem 35 horas de trabalho semanal só para funcionários, públicos ou não, do sexo masculino e heterossexuais. Aberrante, não era? Isso, porque mulheres e homossexuais existem. Funcionários não-públicos, não.

A razão porque não os denomino da forma habitual, funcionários do privado, é o facto de que possuir um nome próprio ser uma característica das coisas que… existem.

E porque é que estes funcionários não existem na nossa sociedade?

Primeiro, nas inúmeras campanhas eleitorais que todos nós presenciámos, ouvimos muitas vezes a palavra funcionário, ou até função, mas lembram-se da última vez que a essas duas palavras se seguiu algo que não… público? Não os censurem, é complicado falar de algo que não existe.

Segundo, para marcar a existência dum grupo na sociedade, esse grupo tem que estar representado. Os homossexuais, as mulheres, tiveram óbvia necessidade de se organizarem, criando grupos de defesa pela exigência dos mesmos direitos e contra a discriminação que sofriam. E como é óbvio e justo passaram a existir. Os funcionários também têm grupos de defesa dos seus interesses, os sindicatos. E mais uma vez, quando estes geralmente aparecem na tv estão a falar de que funcionários mesmo? Não os censurem, é complicado falar de algo que não existe.

Terceiro, é normal perante alguma injustiça, e de acordo com a nossa condição humana, manifestar-nos contra ou a favor consoante o nosso interesse particular. Portanto, é normal os funcionários públicos aceitarem reformas precoces, rendimentos mais elevados para as mesmas funções, e ainda exijam mais. Tal como, seria normal os outros exigirem as mesmas regalias. Não acontece. Não os censurem, é complicado falar algo quando não se existe.

Falar, ser falado, influenciar, ser influenciado… poderia continuar a enumerar as características da existência que só encontro no público, mas já chega, não sou famoso para vocês aturarem longos discursos.

Resta-me rematar com uma rápida resposta à pergunta que dá título a este artigo. Não, a ausência de protesto mediático prova que não houve discriminação.

É verdade que esta decisão do governo de António Costa em discriminar um grupo de cidadãos em relação a outro, colocando uns a trabalhar menos 5 horas por semana, seria grave, seria injusta, seria até aberrante. Mas lá está, não os censurem, é complicado discriminar algo que não… existe.