Uma terrível decisão… – Ricardo Espada

Olá, meus queridos e bem intencionados amigos. Que tal vão essas depressões? Tudo em alta? Isso é que é preciso, porque, hoje em dia, cidadão português que não sofra de depressão não está habilitado a viver neste país, e o melhor é imigrar imediatamente. Não acreditam? Então, armem-se em chico-espertos, e enviem uma carta ao Passos Coelho, o nosso primeiro-ministro. Se tiverem sorte, ele responde-vos às cartas enviadas, e as vossas dúvidas ficam imediatamente esclarecidas. Ou não. Mas, experimentem… é capaz de ser giro.

Hoje trago-vos uma história vivida na primeira pessoa. Tal com o título desta crónica indica, eu tive de presenciar uma terrível decisão. Esta terrível decisão não foi tomada por mim, mas sim, pela querida, fantástica, amorosa, simpática e, indubitavelmente, umas das melhores pessoas que algum vez conheci – minha namorada. (Este uso excessivo de adjectivos positivos para classificar a pessoa que é a minha namorada, deve-se ao facto de ela estar aqui, neste preciso momento, ao meu lado… E assim, já ganhei dois beijinhos, um abraço e um apalpão na nádega direita.)

Para todos os que não têm a necessidade de usar óculos, muitos parabéns, pá! – não sabem o terror de que estão livres. Mas, a minha namorada usa óculos – tal como eu, mas isso não é para aqui chamado agora, ok?! – e, recentemente, teve de alterar a graduação e, por conseguinte, optar por uma nova armação. O que, para todos os leigos desta matéria (“Leigos”, entenda-se: Pessoas que não são apelidadas de quatro olhos!), é algo simples e básico. Pois que não é, meus amigos. E eu que o diga…

Verdade seja dita, eu tentei escapar-me a três horas de puro terror dentro de uma óptica, usando até um simples e bastante válido argumento. Algo como: “Eu? Ir contigo escolher uma nova graduação? Estás louca? Vais agora confiar num pelintra que mal se sabe vestir, para te ajudar a escolher algo tão importante para o teu bem-estar? Sabes que eu ia com bastante orgulho por me atribuíres uma responsabilidade tão nobre como essa, mas acho que é melhor evitares… para… não saíres mal do filme, percebes?” Mas, ao que parece, o argumento não era assim tão válido, e lá tive de ir.

Depois de revirarmos a óptica inteira (Ao ponto de óptica parecer uma réplica da “Feira da Ladra”), lá reduzimos a escolha da armação para apenas duas opções. E foi aqui que eu pensei: “Ah, finalmente, isto vai ser mais rápido do que eu pensava.” Como eu estava redondamente enganado… Aqui sim, é que começou o verdadeiro horror! Ao que parece, torna-se mais complicado escolher entre duas armações do que quarenta! Já desesperado, comecei a usar os meus melhores argumentos de persuasão, entoando frases como “Ó amor, esses ficam-te muito bem! Estão tão na moda, e a ti ficam-te um verdadeiro espanto!” ou mesmo “Eish! Eh pá, não estás bem a ver! Esses ficam um espectáculo! Ain, ficas linda amor! Leva esses! Para mim, esses são os melhores!” Mas, ela acabou por duvidar, quando comecei a usar as mesmas frases para as duas armações. Ao que, opta por começar a pedir a opinião às funcionárias da óptica. Elas, sendo mulheres, certamente iriam resolver aquela questão num instante, pensei eu. Mas, não. E porquê? Porque cada uma tinha uma opinião diferente! E eu, já algo exausto de ver tantas armações a passar-me pelos olhos naquele dia, lembrei-me de pedir a opinião ao único homem funcionário da óptica que estava de serviço naquele dia. Pensando eu que, o fazendo, iria resolver a tão difícil escolha… Estava enganado. Quando já tínhamos (Eu e as funcionárias da óptica) quase convencido a minha namorada que umas determinadas armações é que ficavam fantasticamente bem, eis que a opinião de um homem veio alterar toda a difícil construção de uma escolha que nós tínhamos conseguido implementar na cabeça da minha namorada.

Ele chega, observa as duas opções de armação e diz com um ar bastante simples e convicto: “Hum… Ok, vocês gostam mais desta armação, mas a outra é que fica melhor e, sem sombra de dúvidas, é a que mais favorece a cara dela.” E eu fiquei capaz de sair a correr da óptica, ir até casa, pegar num maçarico, voltar para a óptica e… e… e… queimar o meu próprio dedo do pé, só para verem o quanto indignado estava!

A verdade é que ele tinha razão, e a minha namorada acabou por acatar a sua opinião e decidir-se pela escolha mais óbvia. O que, para mim, foi a desculpa perfeita para afirmar mais uma vez a minha posição de “Homem que não percebe nada de moda” afirmando algo do género quando saímos da óptica: “Estás a ver amor, eu não percebo nada de moda. Viste que estava mais inclinado para a armação que menos te favorecia? Eu sou uma besta, no que toca a escolha de roupa ou adereços para o corpo. Da próxima, fico em casa, é melhor não é?” Ao que ela responde com um simples: “Deixa de ser parvo, mas é! Tu até ajudaste imenso! Se não tivesses chamado o Miguel (Nome do funcionário da óptica), eu nunca me teria resolvido por esta armação… És o maior! Adoro-te!

Não era bem o que eu estava à espera de ouvir, mas, olhem… diz que sou o MAIOR!

Quero deixar um especial apreço aos funcionários da Óptica Fernandes (Especialmente, às funcionárias Carla, Célia e Susana) pela paciência que têm para atender clientes aborrecidamente indecisos da vida. Muito obrigado. Sois grandes! Se eu tivesse um 1/4 da vossa paciência, era um monge. Como não tenho, sou simplesmente uma besta quadrada.

Até para a semana, malta catita.


RicardoEspadaLogoCrónica de Ricardo Espada
Graças a Dois
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