Terror no Asfalto…

Ora viva, estimado leitor. Hoje vou partilhar consigo uma experiência de terror em que fui a personagem principal. Se foi trágico? Foi um poucochinho. Se foi estúpido? Foi, sim senhor. Se foi parvo demais para ser real? Ui, se foi. Se foi suficiente para que, a dada altura, eu tivesse urinado nas calças? Eh pá, foi… mas eu não me urinei nas calças. Até porque eu sou um rapaz novo, mas num corpo de um idoso de 80 anos de idade e a minha próstata já não me permite urinar assim como quem dá aquela palha. Isto tem de ser com muita calma, porque à bruta não funciona. É a vida, e tal…

No fim‑de‑semana passado, seguia eu e a minha cara-metade pacatamente no meu carro, quando algo de muito estranho se passou. Íamos os dois calmamente na conversa, tentando deliberar sobre qual seria a próxima posição do Kamasutra que iríamos experimentar naquela… ups, quer dizer, íamos os dois a discutir política e tal, quando eu olho para o retrovisor do carro e constato que o carro que seguia atrás de nós estava a fazer-me sinais de luzes.

Primeiro pensei que talvez fosse alguém conhecido, e levantei a mão como que a cumprimentar a pessoa que conduzia o carro, mas ele não parou: pelo contrário, fazia cada vez mais sinais de luzes. Depois pensei que talvez ele não tivesse visto o meu cumprimento, visto que estava mais ocupado em inundar-me de sinais de luzes, então optei por ligar os quatro piscas durante cinco segundos em jeito de cumprimento. Mas não resultou, e ele lá continuou a fazer sinais de luzes. Pensei – estupidamente, é claro – que ele talvez não estivesse a fazer-me sinais de luzes, mas sim a tentar acertar em todos os buracos que iam surgindo no asfalto, e que isso daria a ideia de ele estar a fazer-me sinais de luzes quando, na verdade, ele apenas queria ter uma desculpa para passear de reboque. (É estúpido, eu sei, mas há com cada fetiche mais estranho neste mundo que uma pessoa já tem de estar mentalmente preparada para toda e qualquer eventualidade que possa surgir…)

A dada altura dei por mim a dizer à minha cara-metade que, das duas uma; ou estávamos a ser seguidos por um conhecido nosso, ou então estávamos perante uma simples… besta. Uma daquelas bestas que, ao mínimo deslize nosso – não fazer pisca, por exemplo –, desata a chamar-nos nomes feios (a nós e à nossa mãe…). E ela ainda disparou uma teoria mais absurda que a minha. Ela disse, e passo a citar: “Nã… Cá para mim, ele é músico e deve estar a fazer sinais de luzes à medida do ritmo da música que vai ouvindo. E foi nesse preciso momento que eu senti que, nessa noite, era melhor não praticarmos uma nova posição do Kamasutra… ah, perdão, que seria melhor não falarmos mais de política, porque ela não estava bem da cabeça.

A dada altura, o pior acontece. O condutor do carro que nos seguia, decide ultrapassar-nos e, no preciso momento em que está ao nosso lado, eu olho para ele e percebo que ele está a fazer uns gestos estranhos na minha direcção. Digo para a minha namorada que ele devia estar a querer dizer-me algo, mas ela decide, de uma forma totalmente absurda, continuar a insistir na teoria de que o homem devia, muito provavelmente, ser do mundo da música, e que os gestos que estava a fazer era porque, na verdade, ele tratava-se de um maestro que estava a treinar para o seu próximo espectáculo. Confesso que ainda cheguei a considerar essa hipótese, mas depois voltei a olhar para o homem e verifiquei que ele tinha cara de ser tudo, menos maestro.

Decidi baixar o vidro e fiz-lhe sinal para ele baixar o seu para que pudesse ouvir o que ele tinha para me dizer. A ideia era lógica, mas revelou-se infrutífera visto que o barulho do vento não me permitia ouvir o que o homem dizia. E isso deixou-o furioso, pois começou a fazer-me um tipo de gestos que mais parecia que me queria esganar depois de me enfiar algo no esfíncter. Pode não ter sido isso que ele estava a tentar dizer através de gestos, mas foi o que me pareceu. Comecei a enervar-me e decidi que devia terminar com aquela estupidez o mais rapidamente possível, gritando alto e em bom som: “O que é que queres, pá?!” Mas ele nada. Continuava a fazer-me gestos estranhos. O que levou a que a minha namorada voltasse a intervir de forma brilhante, dizendo: “Olha que o homem pode ser mudo, e só sabe comunicar através de linguagem gestual!” Cheguei a considerar essa opção como válida, mas depois fartei-me rapidamente daquela situação bizarra e resolvi fechar o vidro e acelerar para fugir dele.

Mas ele não me largou. Continuou a seguir-me de uma forma bastante assustadora, continuando a fazer-me sinais de luzes. Tentei fugir dele, entrando em ruas apertadas ou dando duas ou três voltas às rotundas e saindo numa saída (perdoem-me o pleonasmo…) qualquer, mas ele continuava sempre a seguir-me e a fazer sinais de luzes.

Aquilo começou a tornar-se numa situação muito estranha. E daí a eu e a minha cara-metade começarmos a ficar assustados foi um instante. O raça do homem parecia uma sanguessuga, pois não nos largava de forma alguma. Até que, por mero lapso meu, entrei numa rua sem saída. E fiquei encurralado…

Parei o carro no fim da rua, e ele parou logo atrás de mim com as luzes de “máximos” acesas na minha direcção. Ficámos ali durante alguns segundos que mais pareceram intermináveis horas. Até que me fartei daquela situação, e disse para a minha namorada: “Estou farto disto! Vou lá ver o que o gajo quer!” Ela, muito assustada, pediu-me para não o fazer. Ele podia ser um psicopata e podia ter uma arma. E, depois, deu-me uma pinça que retirou do seu pequeno estojo pessoal, que era para eu não ir de “mãos a abanar” para o confronto.

Enchi-me de coragem, guardei a pinça no bolso, e saí do carro em direção àquela besta que, assim que me viu sair do meu carro, fez o mesmo. E aí eu confirmei que, de facto, eu não o conhecia. Foram segundos muito estranhos e assustadores, aqueles que marcaram o tempo em que caminhámos em direcção um do outro. Quando estava quase a chegar ao pé dele, pus a mão no bolso das calças e segurei na pinça, pronto a usá-la se fosse necessário. E, no preciso instante em que nos aproximámos um do outro, eis que, num gesto totalmente involuntário, saco da pinça e aponto-a à cara do homem.

Mas ele, com a maior das calmas do mundo, diz-me as imortais palavras que nunca mais irei esquecer na vida. Ele disse: “Ó meu g’anda totó! Tu não tens luzes de stop, pá!”

Eu virei costas, regressei ao meu carro com “o rabinho entre as pernas”, sentei-me ao volante, olhei para a minha cara-metade e disse-lhe (tentando ostentar um ar imponente): “Já lhe tratei da saúde! Comigo não brincam!”

E no dia a seguir fui mudar as luzes de stop…

Isto é que é uma Vida de Cão, hem…