Terrorismo e religião: relacionados?

Estamos na semana da Páscoa, semana em que os cristãos celebram a ressurreição de Jesus Cristo. Correndo o risco de repetir assuntos de que já falei noutras crónicas, pareceu-me oportuno falar de religião e terrorismo. Estarão relacionados?

Antes de mais, que fique bem claro que repudio qualquer  acto de terrorismo, independentemente de onde, porquê ou por quem for perpetrado. São actos hediondos e devem ser repudiados.

Eu não creio que religião e terrorismo estejam relacionados, no sentido em que não é a religião que diz os terroristas para matar. Seja qual for a religião. São coisas diferentes.

Todavia, a história demonstra que, ao longo dos anos, vários homens usaram a religião (ou o poder, ou ambos) para obter mais poder.
Segundo o cristianismo, o imperador romano Júlio César , que temia o aparecimento de um novo líder numa das regiões dominadas pelo Império Romano, perseguiu Jesus Cristo, até o conseguir matar.
Mais tarde, o próprio Papa ordenou as cruzadas [“movimentos militares de inspiração cristã que partiram da Europa Ocidental em direcção à Terra Santa (nome pelo qual os cristãos denominavam a Palestina) e à cidade de Jerusalém com o intuito de conquistá-las, ocupá-las e mantê-las sob domínio cristão”, citando a Wikipédia]. Isto é, a Santa Sé, para manter aquele território sob domínio cristão, mandava repelir (e, obviamente, matar) aqueles que não professavam o cristianismo (os “infiéis”, como eram apelidados). Entre avanços e recuos, muitos por responsabilidade de Saladino, sultão muçulmano, nasce também a Santa Inquisição, também para perseguir e eliminar os hereges. Apenas o papa João Paulo II teve a coragem de pedir perdão pelos “pecados” cometidos pela Santa Inquisição.

Na cabeça dos extremistas, os cristãos e as sociedades modernas são como os “infiéis” e os “hereges” eram para os cavaleiros das cruzadas e para a Santa Inquisição: alguém – homens, não algo divino ou transcendente – lhes disse que deveriam combater.
Embora as religiões tenham sido criadas pelos homens (nem ponho em questão de onde parte a iniciativa para o fazerem, nem quero ir por aí para não criar conflitos desnecessários), é pelos ideais dos homens, não pela fé. Nenhuma religião tenta superar outra pela força. Todas elas tentam apelar à razão, não ao crime.

Crónica de João Cerveira

Este autor escreve em português, logo não adoptou o novo (des)acordo ortográfico de 1990