The Book Of My Life – André Marques

Acredito religiosamente que uma casa repleta de livros é sinónimo de cultura, de boas índoles, de prazer inesgotável. Os livros são criaturas que nos fazem pensar, mudar, refletir, divertir, e, caso seja necessário, alterar o mundo, torná-lo um lugar mais acolhedor, terno, seguro. São Criaturas abarrotadas de avidez. São livros.

Na minha humilde e estonteante biblioteca viva, os títulos rondam os mais variados. Margarida Rebelo pinto, oito obras literárias genuinamente portuguesas.  Como por exemplo Sei Lá, Vou Contar-te Um Segredo, Artista De Circo, Alma De Pássaro, entre outros. E ainda falta completar alguns da autora mais lida em Portugal, dizem. Descendo um pouco o jardim, encontramos Dan Brown e os seus imponentes conhecimentos humanos. Anjos E Demónios, por exemplo, preenche-me as medidas exaustivamente. Seduz-me na perfeição. Como um champô que me enobrece a cabeça, deixando-a macia e saudável. Assim fico. E às vezes quero mais. Possuo a excelente capacidade de querer saber sempre mais, e melhor. É algo que nasceu comigo e a que poucos têm acesso. A capacidade, claramente. Continuando a viajem pelo mundo dos saberes, ao lado do incansável Viagem Sem Regresso de Katy Gardner, é possível a existência de Teresa Direitinho . O sorriso que escreve para o mundo, como deve ser. Subindo agora um pouco, descobrimos entusiasticamente os best-sellers de Jodi Picoult, Joanne Harris, Paulo Coelho, José Rodrigues dos Santos. Autores assíduos. Autores que se assemelham a crianças obedientes que nunca faltam às aulas. Obras perspicazes, obrigatórias, felizes. Às vezes ganham um pouco de pó. Mas até as antiguidades merecem respeito. Merecem. Seguimos com Maria José Lacerda e o Conta-me Histórias do presente e do passado. Algures, Domingos Amaral ensina-nos a não morrer de amor através do registo Já Ninguém Morre De Amor.  Ajuda-nos a lutar pela delicadeza, pela brandura, seja de que maneira for. Porque é assim que tem graça. Deliro efusivamente com os crimes hediondos idealizados por Agatha Christie.  Francisco Salgueiro é um nome que dispensa apresentações, assim como o seu viciante Splaaash. A literatura pop no seu mais alto nível. O oposto direto, Chris Priesley, apresenta-nos histórias de terror  absolutamente incríveis. Para ler com medo. Porque nem todos os medos são maus. Obras literárias, repletas de frases impulsivas, que se conjugam ferozmente numa estante pequenina, falante, aconchegadinha, capaz de albergar o mundo inteiro. Com tudo incluído, e de borla. A minha estante. O meu mundo.

Há livros que nos marcam para sempre. Que nos fazem gatinhar por mais. Que nos fazem chorar de alegria, de tristeza, de revolta. De tudo. Despertam emoções nunca antes sentidas. Fazem-nos esse favor. Como um ladrar de um cão determinado. Há livros que nos deixam amarrados a um sentimento muitas vezes desconhecido. Sem vontade de o desvendar, cumprem o dever de mudança interior. Colocam os braços no lugar do coração. As pernas no lugar da cabeça. Enfim, livros que transformam as nossas vidas, para melhor, evidentemente. Livros que nos mostram uma outra visão do mundo. E ele às vezes perde-se, o mundo; se por um lado cabe numa estante falante, por outro, torna-se cego, demasiado preocupado em compadecer com o ódio, com a esperteza, com a vingança absurda e desmedida. Se todas as pessoas fossem livros, o mundo seria tudo menos violento. Seria, indubitavelmente, um lugar florido e ordenado.

Algumas coisas na vida são tão bizarras, que só podem ser verdadeiras” – John Grogan

Marley & Eu. Um livro de cortar a respiração. De encher o coração, que salta à vista. Viciante. Tudo, menos infernal. Marley & Eu, de John Grogan é um exemplo fenomenal de que a vida só faz sentido se tiver como apêndice a felicidade. Como acontece com os humanos. Alguns; os de quatro patas. E eles existem.

John Grogan nasceu em Detroit, Michigan, a 20 de Março de 1957. É jornalista e escritor Americano. O livro que destaco, após o sucesso foi adaptado para cinema, tornando-se um êxito de bilheteira um pouco por todo o mundo.

Desfiando um pouco mais a obra, durante 13 anos Marley (Labrador Retriever, Wiggly amarelo)  viveu com os seus donos, John e Jennifer Grogan, dividindo alegrias e inquietações. Quando Marley morreu, John decidiu escrever uma coluna referente ao falecimento no jornal onde trabalhava. Recebeu cerca de 800 cartas relacionadas com o tema. Traduziu-se no momento certo para escrever Marley & Eu. E que momento. A prova de que a morte só é aceite pelas mentes fracas e perversas. Quando alguém do bem morre, essa morte nunca chega a ser verdadeira.

Por vezes, para sermos felizes não necessitamos de ter alguém ao nosso lado. Estou a falar de uma pessoa, obviamente. A chave da felicidade pode estar em algo que comunica através das patas e dos sons, que reage com os pêlos e acaricia com a saliva desmedida. A baba do amor canino. E esse amor é tão reconfortante, afinal, um cão não necessita de um carro para conduzir, de vestuário ou de grandes mansões. O estatuto não entra no vocabulário canino. Um cão não possui o dom do julgamento, não conhece o racismo. Não julga a orientação sexual. Nunca. Um cão ignora o dinheiro, a esperteza, a inteligência. Não há limites, basta apenas que exista um coração disposto a amá-lo incondicionalmente. A retribuição é fantástica. Quem o diz é John Grogan.

Um cão não mente, não inveja o próximo. Quando nos lambe entusiasticamente, fá-lo com a força da vontade. Não faz fretes, como muitos humanos fazem.

Um cão destrói portas, sapatos, rói joias valiosas, desarruma tapetes, por vezes ladra demasiadamente, recebe os convidados abruptamente, etc…mas nunca magoa um coração. Basta que exista cuidado e respeito; amor e compreensão.

O meu cão velho e querido, o mais constante de todos os amigos” – William Croswell

Ninguém pode fugir do amor. Do amor nunca se pode debandar. Seja aos 20, aos 40, aos 60, ou mesmo aos 80 anos. Nunca.

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Crónicas Improváveis
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