The Witcher 3: Wild Hunt – Blood And Wine (Review)

The Witcher 3: Wild Hunt não necessita de apresentações, já deixou a sua marca como um dos jogos mais premiados de sempre. Quando se insiste neste tipo de qualidade é necessário evitar o desleixo, manter as expectativas altas e concretizá-las com particular atenção ao detalhe. Já analisámos aqui o jogo original e a sua primeira expansão paga, Hearts of Stone e por isso mesmo, está na altura de fechar o ciclo, debruçando-nos sobre a mais recente adição ao já gigante open world criado pela CD Projekt RED, Blood and Wine.

Geralt of Rivia está de volta, desta vez numa expansão de tamanho hercúleo, que embora a um preço aproximado de 20 euros, encerra conteúdo suficiente para pelo menos 30 horas, com novas dinâmicas, diversas actividades e novas e interessantes quests. Este novo conteúdo leva o protagonista a um pequeno ducado, Toussaint, inspirado nas paisagens do sul de França, num mapa de tamanho semelhante às ilhas de Skellige, mas com efectivamente menos água. Esta nova zona, traz consigo a sua cultura própria, com inspiração clara na Europa Renascentista, com os seus códigos e romances de cavalaria, que muitas vezes são ridicularizados pelos estrangeiros. Se a paisagem não é suficiente para fazer lembrar as cidades sulistas, o inglês com sotaque afrancesado afasta qualquer duvida, numa região que vive de paralelos com a realidade, nem que seja pelo seu historial de produção de vinho.

E se vinho é parte do titulo e também de toda a história da expansão, sangue remete para uma outra e não menos importante dimensão da narrativa. Geralt é chamado a Toussaint a pedido da sua duquesa, Anna Henrietta, de forma a caçar uma criatura misteriosa que mata importantes membros da sociedade. É desde cedo bem claro que a região se encontra ameaçada por vampiro e com esta revelação, Toussaint mostra as suas verdadeiras cores. Enquanto a capital Beauclair e áreas circundantes vibram de cor durante o dia, tudo muda quando cai a noite e com elatoda a região parece transformar-se num sitio completamente diferente. As side quests exploram a dualidade dos locais, sempre com atenção ao detalhe, desmascarando o vibrante disfarce que cobre todo o ducado e acentuando, com especial sucesso, o contraste que existe entre as duas palavras chave que marcam o título. A isto alia-se a imprevisibilidade e o tom de cinzento que marca toda e qualquer decisão. É impossível prever as consequências e, por vezes, tentar escolher o caminho que para o jogador é moralmente correcto é uma tarefa dificílima, pois há sempre um senão ou um dilema, que dificultam a decisão. The Witcher 3 já nos tinha habituado a esta particularidade, mas Blood and Wine eleva a fasquia para oferecer um percurso ascendente, com um final que faz justiça à história que desenvolvemos para Geralt, precavendo a possibilidade da CD Projekt RED nunca mais voltar ao universo de Sapkowski.

20160603153408_1Na aparente despedida do universo dos videojogos, os leitores da saga do autor polaco estão em vantagem como sempre! A história introduz personagens que partilham um passado de aventura com Geralt e isso realça o sucesso da CD Projekt em transportar todo um universo para o mundo dos videojogos. Em nota pessoal, tenho lido com algum prazer a obra de Sapkowski e é bastante estranho, mas ao mesmo tempo fabuloso, que o argumento do videojogo seja tão inspirado na literatura que lhe deu origem. As semelhanças são tão marcantes que nada parece fora de sitio, sendo os videojogos uma justa continuação, mesmo que não reconhecidos pelo autor.

Blood And Wine conta com 90 novas quests e um mapa com algumas modificações, que o tornam mais dinâmico em relação aos anteriores. Destruir uma fortaleza cheia de bandidos diminui a sua área de acção no mapa, o mesmo acontece com os monstros e as suas tocas. Alguns pontos de interesse no mapa são pequenos contractos ou fazem parte de demandas que visam a mudar o destino da região, por exemplo, com a construção de uma estátua em pedra. Muitas quests contém um humor bastante apurado e prometem demandas mais descontraídas. As boss fights são também mais numerosas, seguindo o exemplo de Hearts of Stone. Na primeira hora o jogador confronta, pelo menos, dois bosses. Por incrível que pareça nenhum destes encontros parece difícil, mesmo em Death March!, o nome atribuído à dificuldade máxima. Os grandes inimigos continuam a ser os humanos, que em grande número e com alguns arqueiros levam a alguns momentos de frustração. Outros monstros são completamente novos, outros são apenas reinvenções de alguns dos que já marcaram a saga. Blood and Wine marca o regresso das bruxas, dos archespore e dos barghests com dinâmicas característica do novo motor de jogo

Esta nova expansão oferece também elementos de housing, com um terreno de vinha no coração de Toussaint, que pode ser explorado e requalificado com a ajuda de algumas somas de dinheiro, que o jogador certamente possui depois de mais de uma centena de horas no jogo original e expansão anterior. Este terreno serve como base de operações, mas o jogo não se debruça em demasia nele. Muitos dos videojogos que oferecem housing, acabam por cometer o erro de explorar a repetição de alguns elementos dentro dessas propriedades, de forma a espremer mais umas horas desnecessárias de jogo.  Blood and Wine, oferece uma habitação confortável onde é possível depositar armaduras, troféus e quadros, mas o seu verdadeiro papel no jogo é apenas na tentativa de oferecer um ponto de abrigo que oferece bonificações, mas não obriga o jogador a ficar inúmeras horas preso no seu desenvolvimento.

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Quanto a novas dinâmicas, a expansão trouxe um patch, que saiu poucas horas antes do seu lançamento, que melhora a interface, tornando tudo muito mais fácil de navegar. O inventário é agora mais organizado, com divisões que separam os vários tipos de equipamento e materiais. Há também a hipótese de aumentar os diminuir o tamanho das descrições de cada item à distância de um click. Quanto a habilidades, há um novo tipo de mutação que parece destinar-se a jogadores de New Game +. Estas mutações introduzem uma série de dinâmicas que estão disponíveis a quem gastar mutagens coloridos e um número aceitável de skill points. Desde escudos que activam sempre que a vida de Geralt chega a zero, até a uma habilidade que promete transformar o nível de toxicidade de Geralt em dano, as combinações dão um twist novo a cada batalha e embora só uma possa ser activada, podem ser mudadas livremente de forma a responder a cada ameaça da melhor maneira possível.

As novas armors são também bastante melhoradas. No jogo original, os sets eram apenas um grupo de armaduras e armas que partilhavam o mesmo nome ou escola. Em Blood and Wine, os novos sets de Grandmaster oferecem bónus tendo em conta o número de peças que o jogador equipa. São agora sets no verdadeiro e clássico sentido da palavra. Outras armas raras oferecem também uma nova experiência, especialmente uma lendária espada de prata bem conhecida dos fãs dos videojogos e mas mais não digo…

A musica é ainda parte importante desta nova expansão, mais uma vez tirando inspiração dos motivos sulistas franceses e italianos. Peças como The Slopes Of The Blessure despertam toda a emoção necessária para perceber a beleza e a inspiração por detrás de Toussaint. Outras peças exploram a natureza selvagem do jogo, como é possível ouvir em I Cannot Let You Leave ou Wine Wars.

Blood and Wine é o digno culminar de uma saga, que poderá muito bem demorar a regressar, especialmente com a CD Projekt RED focada em Cyberpunk 2077. Mesmo na possibilidade de um novo videojogo no espaço da próxima década, Geralt parece ter fechado o seu ciclo com o seu digno descanso de guerreiro, que pode ser mais ou menos feliz, dependendo das decisões que foram desenvolvidas ao longo das centenas de horas. Até a uma nova aventura no mesmo universo, resta jogar a um dos melhores RPGs de sempre, cimentado pela qualidade e inovação, que dispensam apresentações e já fazem parte da consciência de milhares de gamers por esse mundo fora. Resta desejar um Até sempre! a Geralt of Rivia, ou talvez seja só um Até já!, só o tempo o dirá…

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Volto para o próximo mês com mais videojogos…