Ti Maria da Consoada… Tu és tramada! – Gil Oliveira

Olá amigo leitor. Quero desde já desejar-lhe um Santo e Feliz Natal. Ou então, se como eu não for católico, desejar-lhe uma óptima noite junto da sua família, com muita comida, bebida, prendas e filmes repetidos na TV. Eu sei que não é muito mas, para mim, é das melhores coisas que se pode ter na vida.

Agora que já passámos a parte lamechas do texto gostaria de lhe perguntar uma coisa: sabe-me dizer, porque raio, é que a Consoada se chama Consoada? Quase que parece que estamos a falar de uma tia lá da “terrinha”: Ti Maria da Consoada… Segundo a Wikipédia, a origem do nome “Consoada” vem do Latim “consolata”, de “consolare”, ou “consolar”. O que para mim não faz sentido nenhum. Então no dia que comemos e bebemos que nem uns abades, e no fim ainda recebemos presentes, é quando precisamos que nos consolem?! Não faz sentido! A única vez que eu precisei de consolo neste dia foi quando às 23h me arrancaram de casa para ir assistir à Missa do Galo. Aí, sim, era verem-me desconsolado… Aliás, era verem-me descoroçoado. Tal não era a tristeza interior que havia dentro de mim. Sair de um sítio tão quentinho com tanta comida boa, para ir para uma igreja fria, sem nada para trincar. Aii, aii, Ti Maria da Consoada, as coisas que eu faço por ti…

Mas deixemos isso para trás das costas. Tristezas não pagam dívidas e barrigas vazias também não. Eu adoro os preparativos de Natal. Decidir quem leva o bacalhau, ir às compras em supermercados apinhados de gente, andar em estradas cujo trânsito se assemelha ao caos provocado por uma invasão alienígena… Estar 30 minutos numa fila da pastelaria para pedir uma bica enquanto um maluco refila porque o seu tronco de Natal não está pronto… Resumindo, todas essas coisas boas que só se consegue neste dia. (No dia 31 também se vêem uns bons malucos, mas não são tão divertidos.)

Outra das coisas que adoro fazer na véspera de Natal é comprar prendas. Eu faço questão de comprar a prenda da minha mulher sempre de véspera. É diferente, dá-me outra “pica”. A sensação de adrenalina de andar a correr de loja em loja, a fintar clientes enraivecidos enquanto tento alcançar o último perfume ou kit de maquilhagem, antes que uma velhinha (ou outro marido) chegue lá antes de mim, é fantástica.

Ai, acha que sou maluco?! Talvez um bocadinho, mas você também o é. Você sabe que as quarenta mil coisas que come no Natal lhe vão fazer mal, mas nem por isso deixa de as comer, pois não? Eu também sei que deixar a prenda para o último dia me vai aborrecer, mas não é por isso que deixo de o fazer… E nem sequer me posso queixar porque este ano a busca foi mais rápida. Foi tão rápida, tão rápida que a senhora da loja nem se apercebeu se tinha acabado de fazer uma venda ou tinha sido assaltada. Acho que ela só não mandou a polícia atrás de mim porque viu o talão do Multibanco a sair da máquina. (Se calho a ter pago em dinheiro, estava tramado…).

O Natal é assim. Pelo menos o meu. É amor, é alegria, é prendas à meia-noite e um granel do caraças… É a confusão à mesa, a dor de cabeça da minha mãe depois do jantar, o meu pai a dormir antes da meia-noite e o meu irmão a refilar com a mulher porque ainda não levantou a mesa… Mas assim que tocam as 12 badaladas e as crianças se atiram aos presentes que nem ratos a queijo nas ratoeiras, tudo é esquecido. Tudo é amor, tudo é paz, tudo é alegria, tudo é Natal! E, ao fim ao cabo, é ou não é isso que interessa?!

Feliz Natal para todos os leitores do +oPinião, não percam amanhã as nossas crónicas natalícias.

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Crónica de Gil Oliveira
Graças a Dois
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