Toda a gente é Dr…até prova em contrário – Miguel Bessa Soares

Em primeiro lugar tenho que pedir desculpa por só publicar a minha crónica hoje, contrariamente ao que é normal. Mas para quem não sabe ontem foi feriado ou melhor greve.

Na verdade eu não era médico, mas como cumpria os requisitos essenciais obtive a licenciatura numa tarde. Tinha um vasto curriculum a fazer massagens terapêuticas, desinfectar e tratar feridas, aplicação de pomadas e unguentos, e até mesmo uma vez lancetei um quisto enorme das costas do meu primo Ifigénio.
A juntar a esta experiência, tinha ainda duas coisas fundamentais no curriculum: já fui militante de um partido importante, e principalmente tinha o dinheiro necessário para pagar as propinas referentes a quatro anos de curso.

Tenho que vos confessar que o dinheiro com que paguei as propinas foi obtido de uma forma mais ou menos ilícita. Uma vez o meu tio Orlando que estava imigrado na Suíça pediu-me para lhe arranjar um construtor e apresentar um orçamento para construir uma casa num terreno que ele tinha em Ruviães, eu apresentei, mas como é lógico no orçamento já estavam incluídas umas luvas que o construtor me ia dar por ter escolhido apenas o orçamento dele.
Vá lá não sejam assim tão críticos, e reconheçam que este é o verdadeiro espirito, o “verdadeiro jeitinho Português”.

Tenho agora que confessar que tudo o que disse é mentira, foi a forma que arranjei de achincalhar o Dr.? Miguel Relvas. Agora peço desculpa pela interrogação depois de Dr., mas por momentos esqueci-me que vigora a lei portuguesa: “Em Portugal toda a gente a Doutor, até prova em contrário”.

Crónica de Miguel Bessa Soares
Mundo ao Contrário