Tópicos de Conversação – Um Esclarecimento – Amílcar Monteiro

Parece-me existir um grande equívoco junto dos meus amigos e conhecidos e que se prende com o conteúdo das conversas que eles tendem a manter comigo. De forma totalmente involuntária, creio ter-lhes incutido a ideia de que todas as temáticas de conversação por eles introduzidas são do meu interesse. Mas a verdade é que nem todas são. Aliás, diria mesmo que apenas uma escassa minoria dos assuntos que me são apresentados conseguem manter-me interessado mais de cinco segundos.

É pois, neste sentido, que venho apresentar aos meus amigos e conhecidos – ou mesmo qualquer outra pessoa que possa vir a privar comigo – uma lista de alguns tópicos de conversa que eu não quero que discutam comigo. Creio que, uma vez clarificada esta situação, a nossa convivência será muito mais saudável, pois trará vantagens para ambos os interlocutores:  eu não terei mais de fingir que estou interessado naquilo que vocês estão a dizer quando, na verdade, estou entediado ao ponto de desejar ser vítima de um drive-by; e vocês evitarão o ridículo de revelarem as vossas vidinhas monótonas e desinteressantes.

Aqui segue a lista:

Sucessos ou problemas profissionais. Quero apenas saber a vossa profissão e que funções desempenham no âmbito da mesma, para o caso de me poder dar jeito.  Não quero saber mais nada. A não ser que a vossa profissão seja vitrinista no Red Light District. Aí tudo bem, eu não me importo de ouvir os detalhes do vosso quotidiano.

Doenças. Não me interessa minimamente se estão com constipados, com diarreia ou se vão ser submetidos a uma cirurgia ao joelho. Falem comigo apenas se tiverem uma doença grave e/ou terminal, só naquela de eu me despedir de vocês, que é para depois não ficar com problemas na consciência. E, mesmo assim, poupem-me os detalhes mais nojentos.

Carro que compraram. Estou-me a marimbar. O carro é vosso, não é meu. E não, não terei mais interesse se se tratar de um topo de gama. Terem um topo de gama não significa absolutamente nada para mim e – não sei se têm noção disto – também não vos tranforma em alguém interessante. No entanto, se compraram o carro para me oferecer, então aí tudo bem, podem falar à vontade sobre o quão fabuloso é.

Filhos. Não quero saber o quão maravilhosa é a paternidade  nem tão pouco pretendo ouvir qualquer informação sobre os vossos filhos. Quanto às vossas filhas, apenas e só quero ouvir falar delas se for para me dizerem que engravidaram, estão na prostituição ou se – e aqui terão toda a minha atenção –tiverem mais de dezoito anos e forem ninfomaníacas com um fetiche particular por homens mais velhos.

Viagens que fizeram. As vossas férias ou luas-de mel são todas irrelevantes para mim. Não tenho o mínimo desejo de saber os sítios fantásticos  por onde andaram nem o quanto se divertiram. Só quero que me contem algum episódio das vossas viagens se vos tiverem roubado toda a bagagem, se vos tiverem clonado o cartão de crédito ou se vocês, sem se aperceberem, copularam com uma shemale em Bangkok.

Outros tópicos sem interesse: roupa, depilação, o vosso desempenho sexual, astrologia,  mobiliário, os exercícios que fazem no ginásio, multas que receberam, pratos que confeccionaram na Bimby.

Espero que tenham ficado devidamente esclarecidos. E se depois de terem lido os tópicos acima descritos me querem perguntar “se não posso falar sobre nada disso, então sobre o que é que é suposto falar contigo?”, então o melhor é mesmo não falarmos de todo. Nunca mais. Novamente, será uma situação vantajosa para as duas partes: eu serei mais feliz pois não terei de ouvir as vossas aborrecidas conversas da chacha; e vocês evitarão ter de contar a história, através de linguagem gestual, de quando um tipo que conheciam vos rasgou as cordas vocais com uma chave quando vocês lhe estavam a contar sobre a promoção que tiveram na empresa.



Crónica de Amílcar Monteiro
O Idiota da Aldeia
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