Tour de France 2015

Bem vindo de novo caro/a leitor/a. O Ideias e Opiniões caracteriza-se por estar sempre em cima dos assuntos do momento e, como tal, não podíamos ficar de fora de uma das maiores competições desportivas do ano. Falo, obviamente, da Volta à França em Bicicleta, mais conhecido por, Le Tour de France, a competição de ciclismo mais importante do Mundo! Antes de avançar com as minha previsões, do que podemos esperar este ano, na 102ª edição desta competição, vou relembrar um pouco da história desta emblemática competição de ciclismo e fazer o balanço da primeira semana da edição deste ano.

Foi em 1903, que o Tour de France se iniciou. O/A caro/a leitor/a pode estar a interrogar-se sobre como é que esta competição tem apenas 102 edições se começou em 1903, sendo que é uma competição anual. A verdade é que, devido à I e II Guerras Mundiais, entre 1915 e 1919 e de 1940 a 1947, a competição não se realizou. Mas sem ser nestes anos, o Tour de France foi acontecendo anualmente.

L'auto magazine

No princípio a competição tinha como objectivo aumentar as vendas da revista L’Auto. Tudo se deveu ao facto das vendas da Revista L’Auto não estarem a conseguir superar a rival Le Veló e coube ao elemento mais novo dos editores, Geo Lefèvre, de apenas 26 anos a sugestão que viria a mudar o mundo do desporto. De referir que Geo era o editor de ciclismo da publicação. Lefèvre sugeriu seis dias de corrida que passasse por toda a França. Era costume as corridas de grandes distâncias ajudarem a vender as publicações desportivas, mas nenhuma corrida do género da proposta pelo jovem editor. Se esta ideia resultasse, a L’Auto poderia acabar com a rival. E a 19 de Janeiro de 1903, foi anunciado que a corrida se iria concretizar, tendo início marcado para dia 1 de Julho. Porém, o plano inicial não era este. O que era suposto acontecer era uma corrida de cinco etapas de 31 de Maio a 5 de Julho, começando na capital, Paris e parando por Lyon, Marselha, Bordéus, Nantes e acabar de novo em Paris. As corridas seriam feitas sobretudo à noite, terminando na tarde seguinte, tendo o resto do dia de folga. Contudo, a prova seria muito arriscada e muito cara para a maioria dos corredores, tendo havido apenas 15 inscrições.

Mas a ideia acabou por não ir para a frente e a corrida foi encurtada para apenas 19 dias e as datas mudaram, passando a ser de 1 a 19 de Julho. Ofereciam ainda um bónus diário a quem conseguisse uma média de 20km/h em todas as etapas. O valor de inscrição também baixou, de 20 francos passou para apenas 10, fixaram o prémio em 12 mil francos e o prémio para o vencedor de etapa para 3 mil francos. Com estas condições, o Tour teve entre 60 a 80 pessoas, entre profissionais, amadores, desempregados, ou simplesmente alguém à procura de um desafio ou de uma aventura.

A primeira edição terminou com a vitória de Maurice Garin que venceu a primeira e as últimas duas etapas e conseguiu ainda andar a uma média de 25,68 km/h. No outro extremo ficou Millocheau que acabou o Tour mais de 64h atrás de Garin.

Logo-tour-de-franceApós as complicações que se deram na primeira edição do Tour, um dos organizadores afirmou que a edição de 1904 seria a última. Havia imensa batota e alguns dos ciclistas eram espancados por fãs de rivais. Mas acabou por não ser e, o mesmo organizador que dizia que a 2ª edição seria a final, Desgrange, planeava na Primavera seguinte uma nova edição do Tour. E desta vez tentava evitar a batota fazendo as etapas à luz do dia. Nesta 3ª edição, o número de etapas também aumentou, passando a ser 11 em vez das 6, das duas edições anteriores.

Os resultados estavam à vista: as vendas da Revista L’Auto subiram de 25 mil para 65 mil e em 1908 o número de vendas era já de 250 mil exemplares vendidos. O recorde de vendas deu-se mais tarde, no Tour de 1933, com 854 mil cópias vendidas. Em 1904, a concorrente Le Veló foi à falência. O objectivo da criação do Tour foi conseguido logo após a segunda edição desta mítica prova de ciclismo.

Ao longo dos anos, o Tour transformou-se numa competição de nível mundial e tornou-se cada vez mais importante e mais dura. Actualmente o Tour não faz um edição que não passe pelas mais altas montanhas que rodeiam a França: os Pirenéus e os Alpes. Estas são as montanhas mais duras que os ciclistas têm de ultrapassar. A competição é normalmente realizada no mês de Julho com a duração de 23 dias percorrendo mais de 3000km, em 21 dias de corrida, dado que há dois dias de descanso. Tal como referi a competição tornou-se de nível mundial, como tal ultimamente a competição tem passado por outros países que não a França. É o caso deste ano, que começa em Utrecht, uma cidade holandesa. Este ano, os ciclistas vão ter de percorrer 3360 quilómetros. Das 21 etapas, 9 delas são planas, 3 são de média montanha e 7 de alta montanha, das quais 5 acabam com chegada em alto. A prova tem ainda um contrarrelógio individual (logo na 1ª etapa) e um contrarrelógio por equipas.

lance
Lance Armstong

Porém, infelizmente, o Tour tem vindo a ficar marcado pelos inúmeros escândalos de doping que assombram qualquer edição de uma competição tão importante como esta. Foi, aliás, devido a escândalos de doping que a União Ciclista Internacional (UCI), órgão que tutela as competições de ciclismo, impôs dias de descanso e limites de distâncias para as etapas (tendo estas inovações acontecido nos anos 60). Mas, desde então, os escândalos não param e tivemos recentemente a desclassificação de todas as vitórias de Lance Armstrong que admitiu ter usado substâncias dopantes para melhorar a sua performance desportiva.

No Tour, existem várias conquistas que os ciclistas podem almejar. Estas conquistas são representadas por camisolas de várias cores. A Camisola Amarela, que identifica o líder da classificação geral, ou seja, aquele ciclista que conseguiu percorrer as etapas em menos tempo acumulado. A Camisola Verde, também conhecida por camisola dos pontos, que identifica o líder entre os sprinters. Esta é a competição para quem tiver mais pontos, ou seja, quem acumular maior número de pontos na passagem pelas metas volantes. Há também a Camisola das Bolas, também conhecida como a camisola da Carrefour, que premeia o líder da montanha, ou seja, quem conseguiu ganhar mais pontos na passagem pelos checkpoints de montanha. E por fim, a Camisola Branca, que premeia o ciclista com menos de 25 anos que consiga menor tempo na geral. Como é possível entender, existe a possibilidade de um ciclista envergar mais do que uma camisola, sobretudo a amarela e a das bolas, nesse caso, o ciclista enverga a camisola mais importante durante a corrida e deixa a outra para o 2º classificado.  No final, se se mantiver um ciclista com mais de que uma camisola, esse ciclista sobe ao pódio por mais do que uma vez e ganha essas duas classificações.

Chris Froome
Chris Froome

Agora que já está tudo mais claro, vamos à edição deste ano. Na 102ª edição do Tour de France existem quatro candidatos à vitória, são eles: Christopher Froome, da Sky, Alberto Contador, da Tinkoff-Saxo, Vincenzo Nibali, da Astana e Nairo Quintana, da Movistar. São os quatro principais candidatos à vitória, mas apenas um pode vencer, sendo que Chris Froome já enverga pela segunda vez nesta edição a camisola amarela e está com vantagem sobre os outros três concorrentes. Já Van Garderen corre por fora, mas é um sério candidato a conseguir estar no pódio quando a caravana chegar a Paris. E depois temos o nosso Rui Costa, que dos quatro ciclistas portugueses em prova é o que tem maiores probabilidades de acabar com uma boa classificação. Esperemos que consiga um lugar no Top 10, mas depois da queda que sofreu na primeira semana vai ser complicado, mas a sua perseverança deve dar para conseguir uma das melhores classificações de um português. Difícil será igualar a melhor classificação portuguesa de sempre, dado que Joaquim Agostinho conseguiu por duas vezes um 3º lugar no Tour.

Até agora tenho estado bastante entretido com o Tour e espero bastante mais emoção nesta segunda semana que está para vir, já que os Pirenéus devem começar a fazer estragos numa luta a quatro, que tem tido pouca emoção para além da etapa de pavé em que Nibali tentou fazer a diferença, mas em que Froome se aguentou sem problemas. Estou ansioso pela etapa 18 em que os ciclistas vão ter de trepar o mítico Mont Ventoux e só os melhores resistem nessa etapa. Mas depois deste dia de descanso (dia 13 de Julho) os ciclistas vão ter 3 etapas de montanha que serão complicadas para os corredores, sobretudo a etapa 11, em que vão subir o Col du Tourmalet e o Col d’Aspin.

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Rui Costa

Vamos então aguardar por duas semanas que se espera sejam das melhores do ciclismo e que não aconteçam mais quedas graves neste Tour, para que o espetáculo fique garantido e que todos os ciclistas possam dar o seu melhor para garantir bons lugares na classificação geral. Eu espero um bom lugar de Rui Costa, mas dos quatro candidatos à vitória, a minha escolha para vencer vai para Froome. O britânico tem tudo para continuar de amarelo e mostrar que continua a ser um dos melhores desta modalidade.

Por este mês é tudo, voltamos a ver-nos em Agosto, quando eu vier falar da Vuelta e fizer um rescaldo sobre a edição do Tour deste ano.