Treta de Oposição

JORNALISTA – Boa noite a todos aí em casa. No programa deste serão televisivo, e depois da interessante conversa com o senhor Primeiro-ministro há uma semana, recebemos o líder da Oposição em Portugal, o Dr. Pedro Passos Coelho.

Seja bem-vindo e inicio como há uma semana dizendo ano novo à porta, vida nova …

PASSOS COELHO – Permita-me interrompê-lo. Não faço ideia do que ele respondeu porque nesse dia não estava em casa, mas sempre digo que ano novo sim, mas vida nova só seria se estivesse prestes a começar em janeiro noutro emprego, noutras funções e esse com certeza não é o meu caso.

JORNALISTA – Não vou tirar-lhe o prazer de descobrir quando vir o programa em casa, mas posso revelar que, atentos às respostas de um e do outro, ninguém lá em casa deve ter percebido as diferenças entre ambos que andaram a apregoar na altura da campanha eleitoral. Como líder do PSD que lição retira das recentes eleições autárquicas.

PASSOS COELHO – Que não vai ser a nenhum dos candidatos derrotados do PSD que sofreram as mais pesadas derrotas, que pedirei apoio na altura em que precisar de votos para me recandidatar à presidência do Partido.

JORNALISTA – Concorda então com o Dr. António Costa que defende que o PS venceu em toda a linha as eleições?

PASSOS COELHO – Se olhar para o passado recente desse senhor, verificará que ele sai sempre vencedor mesmo quando obtém menos votos do que os outros. Se fosse menos votado faria coligações à esquerda, mas a que teria o cuidado de não chamar “geringonça”, não fosse o Dr. Paulo Portas lembrar-se e vir reclamar o pagamento de direitos de autor.

JORNALISTA – Deixe-me ver aqui nos papéis que trouxe de casa, se vejo perguntas que possa responder de maneira diferente dele, para quem assiste não pensar que as respostas estão combinadas. Ah, cá está! Também acha que o Tony Carreira plagiou as onze canções de que é acusado?

PASSOS COELHO – Obviamente que não. Para mim, plágio foi quando há dois anos, uns dias depois após as Legislativas, oiço o Dr. António Costa numa repetição do meu discurso de vitória na noite eleitoral a reclamar para o PS o direito de vir a formar Governo em coligação com as outras forças de Esquerda.

JORNALISTA – Passando ao Presidente, acha que as relações diplomáticas com Angola saem reforçadas da deslocação dele a Luanda para a tomada de posse do Presidente eleito daquele país, em relação ao tempo em que era o Senhor. o Primeiro-ministro?

PASSOS COELHO – Não sei. No meu tempo atravessámos dificuldades, mas nem sei se mesmo o Dr. Paulo Portas saberia agora responder a essa pergunta. Pela simples razão de que ele detinha a pasta dos Negócios Estrangeiros e, como sabe, para nós Angola sempre foi considerado um país … irmão.

JORNALISTA – Bem, creio que já podemos voltar a alguma pergunta que tenha também colocado ao Senhor Primeiro-ministro. Deixe ver … que remodelação governamental deveria haver nesta altura?

PASSOS COELHO – A primeira e mais urgente, era que o Sr. Jerónimo de Sousa e a D. Catarina Martins voltassem a ocupar os seus lugares na bancada da oposição, para os portugueses deixarem de acreditar que estão ambos a mentir, quando dizem que juntos não têm poder para, por exemplo, forçar o Senhor Primeiro-ministro a subir já em janeiro, e com retroativos ao ano passado, o ordenado mínimo para os seiscentos euros.

JORNALISTA – Como se dá com o mau clima que dizem que vigora internamente no PSD? No início do ano deve haver a marcação de eleições internas.

PASSOS COELHO – Excelentemente, desde que se refiram ao Dr. Rui Rio, as piadas que se ouvem acerca de um tipo que por lá anda convencido de que manda, mas há muito já se devia ter reformado para não largar as pantufas em casa. Assim, não só mão me incomoda, como ainda lhe acho imensa graça.