Trinta e três

Há, sensivelmente, três anos atrás, contaram-me uma historia aterradora sobre uma prostituta. Estávamos na rua e passamos por uma paragem de autocarro, onde estava uma mulher extremamente magra e com péssimo ar. A pessoa que me acompanhava disse: Viste aquela gaja? Sim vi. É prostituta, viciada em drogas, está sempre tão desesperada para arranjar dinheiro para o vicio, que cobra quatro euros por uma keka. Um dia, um cliente violou-a…a violência foi tão extrema que ela teve de ser transportada para o hospital e ficou internada, ficou completamente arrebentada…nunca mais vi a prostituta nem nunca mais pensei nesta historia, até hoje…

Uma miúda de dezasseis anos foi violada por 33 homens, leram bem, 33 homens. Mas o que aconteceu posteriormente é o que me tem feito perder o sono nestes ultimas duas semanas – a forma medonha como a sociedade trata as mulheres. A minha crónica não é sobre a violação colectiva, não vou esmiuçar ainda mais todos os pormenores horríveis desta historia, já muita tinta correu e felizmente (ou infelizmente, depende da perspectiva ) a tendência é que se mantenha em debate social durante muito tempo.

Foi no Brasil, podia ser em Portugal, não queiram ler uma estimativa real das violações a mulheres e crianças que ocorrem diariamente no Mundo, especialmente em países extremamente pobres e com índice alto de violência, cujas leis, quando existem, funcionam, quase sempre, a favor do violador, que, também é, quase sempre, homem (isto já não me espanta). Uma sociedade que atribui a culpa da violação à vitima é uma sociedade que não evoluiu nada desde o tempo dos macacos! Por ser mãe aos treze anos já tinha muita experiência sexual, porque andava na noite de saia curta, porque era amiga dos violadores, porque se prostituía, porque estava num bar em vez de estar em casa a lavar a loiça…algum destes motivos é valido para violentar alguém? Não? Mas foi a reacção da sociedade ao sucedido. Se a resposta é sim, então todas nós, mulheres, podemos ser violadas a qualquer momento! Ah, esperem…já percebi, que burra que eu sou, só agora é que entendi o vosso pensamento, não interessa se estamos em casa ou não, se estamos de vestido curto ou calças não é importante, porque no fundo todos os motivos são validos para os homens serem violentos com as mulheres, porque a violência é a forma mais fácil de mostrarem os instintos primitivos – a sensação do poder enquanto uma vitima está a tentar deter-vos.

Somos mães mas somos más porque não temos tempo para os nossos filhos, somos esposas mas somos infelizes porque já não passamos as meias a ferro, somos patroas mas somos incapazes de gerir negócios, somos más na politica porque somos demasiado afectuosas, somos trabalhadoras mas somos péssimas, porque não conseguimos nos dedicar a cem por cento ao trabalho, devido às obrigações familiares, somos amigas mas somos execráveis, porque no fundo nos invejamos umas às outras, somos mulheres mas não podemos ser demasiado sensuais nem sexuais porque isso torna-nos fáceis. Afinal, o que representa a mulher na sociedade?